“A reconstrução da economia: novos dilemas da sustentabilidade” faz parte de um ciclo de webinars que a AEM (Associação de Empresas Emitentes de Valores Cotados em Mercado) e a Euronext Lisbon estão a realizar. Nesta iniciativa, pretendeu-se debater soluções que permitam acelerar e financiar a reconstrução económica com a convicção de que o futuro premiará aqueles cujos modelos de negócio adotem as melhores práticas ambientais, sociais e de governo.
Convidado para falar sobre “A perspetiva das políticas públicas”, o ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Matos Fernandes, vincou que aquela que era a “tensão” entre o setor ambiental e a economia está mais “esvaída”, dando nota de que, “cada vez mais, quem produz – setor secundário – terá que criar outras formas de negócio”. E “quando se fala em sustentabilidade, economia circular ou descarbonização, fala-se em investimentos mas, acima de tudo, de negócios”, declara. O mesmo acontece no sistema financeiro (banca): “É importante que as empresas, independentemente do setor, sejam avaliadas no seus critérios de compromisso de sustentabilidade e de governança”. Decididamente, cabe ao setor financeiro, “acompanhar a necessidade biológica”, deixando assim de “financiar investimentos” que sejam baseados em “combustíveis fósseis” ou que “promovam emissões”, refere o ministro, reconhecendo que, no setor industrial, “é evidente o compromisso” que já têm com a “transformação” e a “necessidade” de, “em situação alguma, projetar o futuro da economia” recorrendo aos “métodos do passado”.
Ao contrário de muitos que a veem como uma oportunidade, Matos Fernandes considera a pandemia da Covid-19, “causadora de várias mortes e geradora de pobreza”, como um momento de “aprendizagem”, que resultou num conjunto de valores, nomeadamente no “silêncio das cidades” ou na “aposta em cadeias curtas de produção e consumo”. E numa “economia aberta”, onde há cada vez mais “investimentos” a surgir, o ministro vê-la como uma “provocação” ao mercado de capitais que “tem, de facto, de ser exigente nos investimentos que faz, aposta e apoia”, até porque, se o apoio se centra em “projetos castanhos ou cinzentos”, a sociedade não suportará um “conjunto de investimentos que parecem estar contra o seu bem-estar”. Portanto, não restam dúvidas de que um “banco não pode ser verde” se não se orientar para esses valores: “É fundamental que, na carta de campanha, o relatório de gestão clarifique quais são os investimentos verdes que apoiou”, destaca Matos Fernandes.
Embora os fundos tenham um papel muito relevante na transformação e no “alavancar de outros investimentos”, há uma certeza: “A quem uma empresa ou uma família se dirige quando quer fazer investimentos e não tem dinheiro é ao setor financeiro – banca – que recorre”, declara o chefe da pasta do Ambiente e da Ação Climática, realçando que o “mercado capital tem um papel crucial no que aí vem”.