“Mais de metade do caminho da transição energética será feito por mudanças comportamentais”
A Portugal Energy Conference aconteceu esta quinta-feira em Lisboa, trazendo para a discussão os vetores das Cidades, Pessoas e Futuro. No primeiro painel do dia o tema focado foi o consumidor e a literacia energética, onde Isabel Apolinário, administradora da ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos), defendeu a importância do consumidor estar no centro na discussão.
“Existe a consciência desta dificuldade” e estarão por trás razões como a falta de literacia energética e a falta de mudança comportamental por parte do consumidor de energia. E para tornar este mais participativo, em 2025, a União Europeia vai lançar um pacote com esta finalidade.
“A ERSE tem apostado em comunicação e conteúdo com linguagem clara e simples, evitando termos muito técnicos”, além de uma maior presença nas diferentes redes socais. A entidade tem promovido igualmente ações de formação em conjunto com outras entidades, como por exemplo a EntreAjuda para chegar aos consumidores mais vulneráveis, visto que a “transição energética tem de ser inclusiva”.
Também Hugo Gouveia, administrador da EDP Comercial, concordou com o lapso de literacia energética, apontando o problema para a insuficiência de informação e para o excesso de opções: “o cliente fica sobrecarregado com tantas opções” e isto não ajuda a clarificar o consumidor: “o cliente quer uma opção simples e personalizada” e o “desafio dos fornecedores energéticos é ter estas opções customizadas”.
Defendendo ainda que “mais de metade do caminho da transição energética será feito por mudanças comportamentais”, Hugo Gouveia não deixa de fora o potencial das energias renováveis, como é exemplo a solar e a eólica. Mesmo assim, reforça a necessidade de levar o consumidor a ter ações diferentes, algumas com investimento (trocar soluções a gás por soluções elétricas, investir na produção de energia solar) e outras sem necessidade de grande gastos no momento (melhor utilização de equipamentos).
Já Nuno Costa, Head of Costumer Sucess da Galp, avança em ponto contrário, considerando que o consumidor de energia “está a tornar-se mais ativo e com mais literacia energética”. “Ainda não estamos lá, mas é um processo evolutivo”, relembrou em termo de comparação.
Desta forma, a Galp encara o provedor de cliente como uma ferramenta para promover iniciativas de literacia energética.
“Cerca de 55% das reduções das emissões virá das escolhas das pessoas” (Nuno Costa, Galp)
Por fim, Mariana Almeida, jurista da DECO, defende que entidades como a DECO podem “mudar o paradigma”, visto que são mais isentas do que os fornecedores de energia que, sendo empresas privadas, não são totalmente isentas. Daí a missão da DECO passar por uma política de proximidade, que além de ser feita com o consumidor, pode ser feita com outras entidades.
A Portugal Energy Conference foi organizada pela Associação Portuguesa de Energia (APE) e decorreu no Centro Cultural de Belém, com a participação de diferentes players do setor energético.