Mais de metade da produção agrícola em Cabo Verde feita com rega gota a gota este ano

O ministro da Agricultura e do Ambiente cabo-verdiano estimou, esta quarta-feira, que a penetração da rega gota a gota, para mitigar a seca prolongada, ultrapasse os 50% este ano, garantindo o objetivo de alavancar a agricultura além da subsistência, pode ler-se no site da Lusa.

Os números foram avançados no debate parlamentar, sobre agricultura e ambiente, numa espécie de balanço da legislatura — com eleições agendadas para 18 de abril –, com o ministro Gilberto Silva a revelar ainda que aos 15 parques solares associados à bombagem e distribuição de água instalados em 2014 e 2015, foram adicionadas mais 99 unidades até hoje. “A taxa de penetração da rega gota a gota aumentou de 27% em 2015 para 41% em 2020. E com os incentivos em curso chegarão este ano aos 52%”, garantiu o ministro da Agricultura e do Ambiente.

Cabo Verde entra no quarto ano consecutivo de seca, tendo avançado nos últimos anos com o desenvolvimento e aplicação de técnicas e aproveitamentos de água alternativos, como, recordou Gilberto Silva, os ensaios em curso com “tecnologias seguras” para reutilização em algumas atividades de águas residuais tratadas, nas centrais de dessalinização ou no tratamento águas salobras.

“Graças aos investimentos feitos nos últimos anos, o volume de água mobilizado aumentou de 44,16 milhões de metros cúbicos em 2016 para 53,72 milhões de metros cúbicos em 2019. No mesmo intervalo de tempo, a taxa de cobertura do abastecimento de água por rede aumentou de 66,4% para 71,7%”, garantiu ainda o governante, ao discursar no parlamento.

O ministro afirmou que estas são “medidas de reforço da resiliência e de fomento para que a agricultura e a pecuária deixam de ser simplesmente de subsistência para se orientarem gradualmente para o rendimento”. Para Gilberto Silva, “a resiliência não é só um conceito nem uma eventualidade, ela é necessária e está a ser aplicada de facto, ela é essencial para a sustentabilidade ambiental, social e económica do país”.

Na reação, e num clima já de pré-campanha eleitoral, a quase um mês das eleições legislativas, o Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, oposição), pela voz do deputado João Baptista Pereira, classificou como “desastrosa” a gestão governamental dos efeitos da seca, que levou à perda de “milhares de cabeças de gado” e “provocando o empobrecimento de muitas famílias”.

“Nos últimos anos parece que o Governo se esqueceu da importância do investimento na agricultura e estabeleceu outras prioridades, que não coincidem com os interesses e as expectativas dos homens do campo”, apontando cortes aos “investimentos no campo”.

Críticas refutadas pelo Governo, suportado pelo Movimento para a Democracia (MpD, maioria), que recordou ainda que vai começar a ser aplicado o empréstimo de 3.860 milhões de escudos (35 milhões de euros) da Hungria, para a “massificação” das soluções de acesso à água em Cabo Verde num cenário de seca prolongada.

“Criamos a empresa Água de Rega para promover esses investimentos, gerir bem as infraestruturas e os equipamentos existentes e, desta forma, assegurar mais água e maior regularidade, transparência e justeza no seu fornecimento aos agricultores”, afirmou Gilberto Silva.