Mais de 35 milhões de brasileiros, de um total de 204 milhões de habitantes, não têm acesso aos serviços de água tratada no país. Metade da população não tem recolha de esgotos e apenas 40% dos esgotos do Brasil são tratados, segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento Básico de 2014, consolidados num estudo divulgado pela organização não-governamental (ONG) Instituto Trata Brasil.
A falta de saneamento básico aumenta as epidemias causadas pelo ‘Aedes aegypti’, mosquito transmissor do dengue, do vírus Zika vírus e da chikungunya, que se reproduz sobretudo em locais onde se armazena água sem os cuidados devidos.
Édison Carlos, presidente executivo do Instituto Trata Brasil, explicou que a preocupação é que os avanços em saneamento básico não só estão muito lentos no país, como cada vez mais concentrados onde a situação já está melhor. “Estamos a separar o Brasil em ilhas de Estados e cidades que caminham para a universalização da água e esgotos, enquanto uma grande parte do Brasil simplesmente não avança. Continuamos à mercê das doenças”, disse.
Além disso, o baixo investimento no setor também afeta os cofres públicos, já que os governos deixam de arrecadar ao não oferecerem o serviço para a população.
Segundo dados levantados pela ONG, as 100 maiores cidades do Brasil deixam de arrecadar anualmente 2,5 mil milhões de reais (600 milhões de euros), por causa da falta de saneamento nas suas áreas irregulares. O estudo estimou uma perda mínima anual de faturação com água de 1,2 mil milhões de reais (300 milhões de euros). O Índice de Perdas de Faturação Total (IPFT) também mostrou que grande parte da água potável produzida nestas cidades não é faturada. Apenas sete cidades perdem 15% ou menos da água faturada (índice este apontado como ideal). Já 70 cidades perdem 30% ou mais.
“O facto da maioria das grandes cidades brasileiras não conseguir cobrar por mais de 30% da água potável produzida é um desastre. É uma gigantesca perda de água, mas principalmente de recursos financeiros que seriam essenciais para a redução das próprias perdas de água”, destacou Édison Carlos.
No caso do esgoto, se houvesse tratamento nas favelas e ocupações a receita subiria anualmente pelo menos 1,3 mil milhões (330 milhões de euros). O tratamento de esgotos com relação ao volume de água consumida nestas cidades é o pior indicador. Apenas 19 municípios tratam mais de 80% de seus esgotos, 52% entre 20,1 e 79,9% e 29 cidades tratam menos de 20%.
Segundo a Comissão Económica para a América Latina (CEPAL), o Brasil está abaixo de outras nações da região no que se refere ao serviço de recolha de esgotos, ocupando a 10.ª posição entre 17 países analisados. Levando em conta apenas a média de população com coleta de esgoto das 100 maiores cidades do país, o Brasil ocuparia a 6.ª posição, com 70,37% da população atendida.