Mais de dois terços dos portugueses (65%) prevê vir a devolver embalagens para receber o valor de depósito. Esta é uma das conclusões de um estudo “Práticas e Representações sobre Resíduos e Reciclagem”, desenvolvido a pedido da Sociedade Ponto Verde (SPV) pelo OBSERVA-Observatório de Ambiente, Sociedade e Território do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICSULisboa). O inquérito sobre as práticas, representações e atitudes dos portugueses face à gestão de resíduos urbanos teve um enfoque específico nos Sistemas Integrados de Gestão de Resíduos de Embalagens (SIGRE), segundo um comunicado.
Outra das temáticas abordadas foi a adesão e perceção dos inquiridos sobre as mudanças previstas na política de resíduos urbanos em Portugal, com a aplicação de diretivas europeias previstas para os próximos anos: instalação de sistemas de depósito para embalagens de bebidas em 2022 (atualmente em fase piloto), eliminação dos plásticos descartáveis e recolha dedicada de resíduos orgânicos (2023). O estudo mostra que são os cidadãos mais separadores que manifestam maior interesse e disponibilidade para o uso dos sistemas de depósito com retorno (SDR), apesar de “mais de dois terços dos inquiridos afirmarem nunca ter ouvido falar sobre este sistema”. Quanto ao interesse em utilizar o SDR, caso o sistema existisse na sua zona de residência, “a maioria dos inquiridos (51%) afirma ter interesse em vir a utilizar este sistema”.
As conclusões deste estudo foram apresentadas, esta quarta-feira, no evento “Os Portugueses e a Reciclagem de Embalagens: Práticas e Atitudes”, promovido pela SPV.
Quando confrontados com a possibilidade de, a partir de 2022, pagarem uma taxa sobre as embalagens compradas, sendo esse valor apenas devolvido quando se entrega as embalagens nas máquinas de SDR, “mais de dois terços dos inquiridos (65%) mostra intenção de devolver sempre as embalagens para receber de volta esse valor de depósito”, lê-se na nota de imprensa divulgada pela SPV.
Os “focus groups” realizados no âmbito deste estudo revelaram ainda que, apesar dos incentivos financeiros colherem opiniões positivas na generalidade (mesmo que na forma de vouchers para compras ou donativos para instituições), o “fator crítico” será sempre a “conveniência”, nomeadamente a “acessibilidade às máquinas de SDR”. Ainda assim, segundo o inquérito, na opinião de “mais de dois terços dos inquiridos a nível nacional, este tipo de sistema de depósito pode contribuir para aumentar a reciclagem”.
Relativamente à possibilidade de se cobrar uma tarifa diferenciada a cada cidadão ou agregado familiar em função da quantidade de lixo não separado, a base do sistema PAYT (Pay-As-You-Throw) que já está a ser testado em algumas localidades do país, apresenta-se como uma medida que parece, segundo o estudo, recolher grande adesão entre os inquiridos: “41% considera ainda que um sistema deste tipo pode favorecer bastante o aumento da reciclagem, uma opinião que é partilhada sobretudo pelos cidadãos mais separadores”.