A maioria dos portugueses (88%) considera a sua casa desconfortável termicamente. Apenas 12% diz habitar uma casa confortável, sendo que para isso, necessita gastar energia em climatização, pois, dos inquiridos, são 94% os que dizem ter um aumento significativo do consumo de energia para climatizar a casa e, em todas as províncias do país, o desconforto térmico é geral. Esta é uma das conclusões de um inquérito realizado pelo Portal da Construção Sustentável (PCS) à população portuguesa, residente em Portugal Continental.
Este inquérito surge na mesma altura em que o Governo avança com uma estratégia nacional para combater a pobreza energética, que entrou em consulta pública e prevê metas de redução gradual desta problemática até 2050.
De acordo com as medidas agora apresentadas, o Governo quer combater a pobreza energética através de vales do Estado atribuídos às famílias mais carenciadas, que serão aplicados diretamente na compra de fogões, aquecedores, equipamentos para arrefecer a casa ou na instalação de painéis solares fotovoltaicos para autoconsumo. E também poderão ser usados em obras de melhoria de eficiência energética em casa.
Contudo, “mais de metade dos inquiridos (55%), não recorre apenas a equipamentos, mas também a mais roupa, e explicam porquê, para pouparem dinheiro em aquecimento (74%)”, revela o estudo.
Para Aline Guerreiro, CEO do PCS, a questão é “como quer o governo combater a pobreza energética com mais equipamentos que consomem energia, como sendo os aquecedores e os equipamentos para arrefecimento, quando as famílias portuguesas não conseguem pagar os gastos consumidos e tem que recorrer a outros métodos como sejam o uso de várias camadas de roupa?”.
O PCS lembra, em comunicado divulgado à imprensa, que cerca de “1,2 milhões de famílias gastam mais de 10% do seu rendimento mensal com a fatura energética” e, ainda assim, “não conseguem climatizar as suas casas”. Outra das questões reveladas pelo inquérito, é a de que “há um desconhecimento geral dos inquiridos pela relação entre construção/materiais, com o conforto térmico”.
No último trimestre de 2020, foram abertas candidaturas pelo Governo, através do Fundo Ambiental, para atribuição de financiamento para que os portugueses tornassem as suas casas mais sustentáveis, a vários níveis. Em quatro meses foram dispensados 4,5 milhões de euros para as candidaturas aprovadas-
No entanto, segundo o inquérito, “42% dos inquiridos não teve conhecimento desta possibilidade”. E aqueles que obtiveram financiamento, “que foram apenas 1% dos inquiridos, este foi maioritariamente atribuído à colocação de painéis fotovoltaicos, o que vai conduzir à redução da fatura de eletricidade é certo”. Mas, “pouco ou nada significativos, foram os investimentos realizados em melhorias na construção, que, essas sim, são soluções definitivas, como sendo a substituição de caixilhos e de vidro (janelas) e colocação de isolamento, medidas que melhoram a eficiência energética sem recurso a mais equipamentos”, segundo o inquérito.
“A energia mais barata é a energia que não necessitamos de gastar. Por isso, é pertinente pensar no combate à pobreza energética através da reabilitação sustentável dos edifícios, de forma a isolá-los convenientemente”, considera Aline Guerreiro.
São “44%, os inquiridos, que dizem viver numa casa sem qualquer tipo de isolamento e 28% não sabe”. O “isolamento térmico insuficiente nos elementos opacos da envolvente pode representar entre 30% a 60% das perdas térmicas”, refere o comunicado. E o “baixo desempenho de vãos envidraçados e portas, com caixilharias desadequadas, representam entre 25% a 30% dessas mesmas perdas”, precisa.
Tendo em conta que cerca de 40% do consumo total de energia na União Europeia corresponde aos edifícios, o aumento da eficiência energética destes constitui uma das medidas necessárias para reduzir a dependência energética e também diminuir as emissões de gases com efeito de estufa: “Todos os edifícios deveriam ser desenhados, construídos e reabilitados, de forma a pouparem energia, reduzindo as emissões de CO2 associadas. É urgente a consciência ambiental. Temos de parar de poluir. Seja pela má utilização de recursos, seja pelas emissões poluentes que todos poderíamos evitar”, remata Aline Guerreiro