O Governo Regional da Madeira vai apresentar uma candidatura no âmbito da Rede Natura 2000 para que uma massa de água à volta do arquipélago seja considerada como Sítio de Interesse Comunitário, revela esta segunda-feira o Público, sublinhando que será um oásis para baleias e golfinhos com mais de duas vezes a área de Lisboa.
Será a maior reserva para cetáceos em todo o Atlântico Norte – abrangendo 635 mil hectares de águas protegidas, o equivalente a um pouco mais de duas vezes a área do distrito de Lisboa –, que o Governo Regional da Madeira vai candidatar a Sítio de Interesse Comunitário (SIC) no âmbito da Rede Natura 2000.
O objetivo, explicou ao Público o coordenador científico do projeto, o biólogo Luís Freitas, diretor do Museu da Baleia, é Avançar depois para a criação de uma Zona Especial de Conservação (ZEC), ao abrigo da Directiva Habitats, que pretende contribuir para assegurar a biodiversidade através da conservação dos habitats naturais.
A ideia, materializada na proposta de candidatura “Sítio Cetáceos da Madeira”, é resultado de mais de uma década de investigação desenvolvida pelo Museu da Baleia, no Caniçal, uma pequena vila na costa leste da ilha, onde existiu uma forte atividade baleeira até aos anos 80 do século passado. Foram identificadas 29 espécies de cetáceo nos mares do arquipélago, entre uma considerável população residente e migratória, fazendo da Madeira uma das zonas com maior densidade destes animais no contexto atlântico e mediterrânico. Entre essas espécies, estão a baleia-comum, a baleia-piloto-tropical, o cachalote ou o golfinho-comum, todas comuns ou muito comuns nas águas madeirenses, segundo o livro Cetáceos no Arquipélago da Madeira, publicado em 2004 pelo Museu da Baleia. Também é presença ocasional a baleia-sardinheira ou a orca.
A face mais visível desta população é mesmo o golfinho-roaz, ou roaz-corvineiro. Os investigadores estimam que 125 animais desta espécie habitem permanentemente nas águas madeirenses – um pouco à semelhança da população de roazes-corvineiros residente no estuário do Sado, zona aliás classificada como reserva natural desde 1980. Há ainda, nos Açores, uma pequena área que protege os cetáceos, entre as ilhas do Faial e do Pico. Dada a sua localização atlântica, as águas madeirenses são ponto de passagem e paragem dos fluxos migratórios de diversos cetáceos e até de outras espécies, como tartarugas marítimas.
“O arquipélago da Madeira parece funcionar como um ponto de passagem e um «oásis» para os golfinhos em deslocação no Atlântico, atraindo-os para uma área de maior produtividade e onde interagem com os grupos residentes”, sintetiza ao Público a secretária regional do Ambiente, Susana Prada. As características “oceanográficas e biológicas” que o mar arquipelágico apresenta explicam a maior disponibilidade de alimento, daí que a região ofereça condições favoráveis à reprodução e socialização destes animais.
Susana Prada diz que a criação deste santuário terá impatos positivos no turismo da ilha. “A Madeira é já um caso sério no Atlântico no turismo de observação de cetáceos. Estimam-se em 200 mil visitas por ano para observação de cetáceos. Mas, ressalva, o primeiro objetivo é a conservação da natureza.
*Foto de Reuters