Ciente dos desafios que a sustentabilidade acarreta para o setor empresarial, o ramo da logística quer tornar-se um aliado nesta jornada. Sendo já reconhecidos alguns dos esforços em prol da sustentabilidade, juntamos algumas empresas para obter uma visão sobre quais as prioridades e as preocupações de cada uma no rumo a uma atividade mais amiga do ambiente.
Sendo uma empresa com 500 anos, os CTT já passaram por vários processos de transformação, mas sempre mantiveram o foco na proximidade às comunidades: “Hoje, a nossa atividade base e de inovação está cada vez mais alinhada com os valores da sustentabilidade, sendo essa uma aposta que queremos manter no futuro”, começa por dizer Maria José Rebelo, diretora de Sustentabilidade dos CTT, considerando que a integração de políticas sustentáveis no tecido empresarial traduz-se em “benefícios para o meio ambiente” que se “estendem para lá da reputação e imagem: uma estratégia de sustentabilidade integrada no centro das prioridades da empresa gera valor para os colaboradores, stakeholders e sociedade”. A isto, soma-se os clientes que estão “mais informados e exigentes na escolha dos produtos e serviços”, moldando os seus perfis de consumo em consonância com as “causas ambientais e sociais” com as quais se identificam: “As empresas sabem que, para potenciarem uma relação de maior proximidade, precisam de corresponder às atuais expetativas”.
As preocupações ambientais dos CTT têm mais de década e meia, sendo que a implementação de diversas medidas de eficiência e transição energética tem conseguido “reduções relevantes” na pegada carbónica global. A título de exemplo, Maria José Rebelo destaca o projeto de eficiência energética iniciado em 2020, em parceria com a LMit, nas 44 instalações CTT de maior consumo a nível nacional: “Em apenas um ano e meio (entre abril de 2020 e outubro de 2021), permitiu evitar a emissão de cerca de 750 toneladas de emissões carbónicas para a atmosfera, o equivalente ao consumo médio de 63 famílias em Portugal (considerando um agregado familiar médio de 2,5 pessoas), e gerar uma poupança económica interessante”. Também ao nível da frota, a responsável afirma que existe uma mudança de paradigma, com “veículos totalmente elétricos” que circulam nos grandes centros urbanos: “Integrámos recentemente mais 73 veículos elétricos na nossa frota, encomendámos mais 82 motociclos elétricos e anunciámos recentemente a celebração de um acordo com a Citroën para a aquisição de 160 Citroen AMI, que começarão a circular nas ruas portuguesas muito em breve”. Atualmente, “temos dois hubs 100% elétricos em Lisboa e inaugurámos também o primeiro centro 100% elétrico na Ilha do Porto Santo, na Madeira”, acrescenta. O serviço “Green Deliveries” (Entregas Verdes), lançado em 2020 e direcionado a clientes empresariais, é outra das iniciativas: o serviço “permite que todas as entregas nos locais contratados sejam feitas exclusivamente com veículos elétricos CTT”.
A estratégia de Sustentabilidade dos CTT está alinhada com a “ambição de limitar o aquecimento global a 2ºC até 2030” e, dessa forma, a ambição assenta em “alcançar uma distribuição na última milha livre de emissões carbónicas”, que resulte num impacto positivo para as cidades e para a qualidade de vida das populações locais, sustenta. Dentro destas iniciativas, a diretora de Sustentabilidade dos CTT destaca a associação recente dos CTT à “To-Be-Green”, uma spin-off da Universidade do Minho, num projeto que tem como objetivo dar uma segunda vida às máscaras descartáveis: “A iniciativa deu frutos de imediato, tendo sido possível transformar as máscaras usadas pelos colaboradores de três Centros operacionais CTT em pequenos enfeites de Natal, ainda em 2021”.Entretanto, foi alargada à sede e a outros centros operacionais, com uma recetividade sempre muito positiva: “Além dos enfeites de Natal, já foram também produzidos alguns cabides totalmente reciclados e outras soluções estão de momento a ser analisadas”. Esta não foi a única ação que a pandemia impulsionou, sendo que o “e-commerce” é uma tendência que, segundo a responsável, veio para ficar: “Lançámos a Embalagem CTT ECO Reutilizável, destinada a clientes de e-commerce e desenhada para ter uma capacidade de resistência prevista até 50 ciclos de envio”. O sucesso desta solução passa pelo “envolvimento da sociedade” na devolução da embalagem, que pode ser entregue “através dos vários recetáculos de Correio Verde dos marcos de correio espalhados pelo distrito de Lisboa ou diretamente ao carteiro ou distribuidor no ato de devolução”.
O ramo da logística é, aliás, um setor que já tem desenvolvido muitas alterações. Assim descreve Luís Marques, Chief Corporate Center Officer & Executive Committee Member da Rangel Logistics Solutions, dando como exemplo as “medidas e compromissos para a descarbonização dos veículos”, a “otimização de processos para redução de impactos ambientais”, ou o “abandono de práticas não compatíveis” com os requisitos ambientais: “Um setor partilha do compromisso em contribuir para um mundo melhor, procurando realizar o seu papel e sua responsabilidade na sociedade em que vivemos”. O contributo da Rangel é assim o de “incrementar a sua consciência ambiental”, através da adoção de processos de melhoria de desempenho ambiental e energético prevenindo “incidentes ambientais” implementando “ações adequadas aos principais aspetos ambientais significativos de cada processo” e gerindo cuidadosamente os “resíduos operacionais e administrativos”. O consumo dos recursos naturais também tem sido “rigorosamente monitorizado”, encontrando-se em implementação já desde 2019 com um “projeto de eficiência energética, que assenta no desenvolvimento de medidas de eficiência energética e consumo de recursos”. Ainda dentro destas preocupações, Luís Miguel destaca a implementação dos “Sistemas de Gestão Ambiental e de Energia” que têm potenciado a “adoção de práticas e controlos conducentes a uma verdadeira gestão sustentável” das atividades.
Tratando-se de um “tema com forte presença na agenda pública”, a DPD Portugal olha para a “tecnologia” como uma alavanca para acelerar a evolução em matéria de sustentabilidade no setor. Quem o diz é Carla Pereira, diretora de Marketing e Comunicação da DPD Portugal, destacando que a empresa tem guiado o seu negócio através de uma estratégia “verde”, baseada na “utilização de tecnologias inovadoras que permitem oferecer opções de entrega e recolha de encomendas sustentáveis”, como é o caso dos pontos de recolha nas “lojas Pickup” espalhadas pelo país ou os cerca de “200 lockers (ou cacifos inteligentes)” instalados em diferentes lojas. Além disso, a DPD tem percorrido um caminho no sentido de tornar a “frota 100% descarbonizada”, o que tem sido possível através da “aposta numa rede de viaturas elétricas nas cidades de Lisboa e do Porto”, sendo esta uma meta que “queremos alargar e implementar a outras cidades do País nos próximos meses”.
A empresa tem também apostado em diversas iniciativas, diferenciando-se no setor, como a recente adesão, com mais 30 empresas, “ao Pacto de Mobilidade Empresarial de Braga, comprometendo-se com a implementação de um conjunto de ações que promovem uma mobilidade descarbonizada, multimodal e inclusiva”, exemplifica. Reconhecendo que o transporte urbano é um dos principais responsáveis pela emissão de gases de efeito de estufa, Carla Pereira defende a urgência de se “praticar o negócio” em linha com uma estratégia em prol do ambiente, permitindo às empresas do setor “deixarem de fazer parte do problema para passar a fazer parte da solução”.
[blockquote style=”1″]Um futuro mais sustentável e descarbonizado[/blockquote]
Cientes dos desafios e da importância de caminhar no sentido da sustentabilidade, Maria José Rebelo acredita que o setor da logística deve dar cada vez mais importância à adoção de comportamentos de consumo mais responsável: “Acreditamos que o investimento feito hoje para apoiar a transição energética será um legado para o futuro”. A aposta será “continuar a reforçar a eletrificação da distribuição na última milha e a procurar soluções menos poluentes que nos permitam minimizar a nossa pegada carbónica”, além da criação de “parcerias”, aproveitando “as oportunidades” e trabalhando para “promover uma influência positiva” nas comunidades, vinca.
No caso do Grupo Rangel, a visão de sustentabilidade assenta na “economia circular” e na “progressiva neutralidade carbónica”. Luís Marques também defende que a “colaboração ativa” dos parceiros é essencial: “É necessária a assunção explicita de compromissos que requeiram efetiva alocação de recursos a estes objetivos”.
Carla Pereira acredita que o futuro do setor será cada vez mais sustentável: “Acreditamos que estamos a fazer o caminho certo e estamos confiantes de que iremos assistir, nos próximos 10 anos, a um setor cada vez mais descarbonizado, baseada em soluções e recursos favoráveis ao ambiente”.
Este artigo foi incluído na edição 94 da Ambiente Magazine