Enquanto “peça central” para a descarbonização de Portugal, os recursos geológicos têm muito valor para a tão desejada transição energética. No entanto, só trarão valor acrescentado ao país se transformados cá dentro: “Será muito importante incentivar a criação de uma cadeia de valor para a descarbonização”. Esta ideia é defendida por Teresa Ponce de Leão, presidente do Conselho Directivo do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), que acredita que a descarbonização necessita de tecnologias que fazem uso intensivo de recursos minerais: “Desde os tradicionais metálicos como o cobre, ouro, prata ou o zinco para novas gerações de semicondutores assim como algumas terras raras”. Foi em torno da “indústria e dos recursos geológicos” que Teresa Ponce de Leão partilha aquela que tem sido a missão do LNEG em prol deste sector
- O que são recursos geológicos?
Os recursos geológicos são todas as substâncias da crosta terreste, independentemente do seu estado físico, que podem ser aproveitados para benefício do Homem. Assim, também a água e o petróleo são recursos geológicos. Do mesmo modo, são recursos geológicos os elementos com valor cultural didático e científico.
- Qual a importância dos recursos geológicos para Portugal?
Os recursos geológicos sub-dividem-se em: metálicos, que pertencem ao domínio público, os recursos não metálicos, maioritariamente do domínio privado e recursos geotérmicos. Economicamente, os recursos (metálicos, não metálicos, construção, rochas ornamentais) têm peso na nossa economia. Em 2018 representaram cerca de 1700 M€ sendo que cerca de 60% se destinou à exportação. A geotermia significa aproveitamento térmico local e depende das características geológicas. No Arquipélago dos Açores, a geotermia, denominada de alta entalpia, está a ser utilizada para a produção de energia elétrica, contribuindo para a independência energética das ilhas. A geotermia de baixa entalpia é usada nas termas sendo ainda possível aproveitar o recurso térmico, para aquecimento e arrefecimento, com o recurso ao uso de bombas de calor.
- Qual é a atuação do LNEG nesta área?
O LNEG trabalha para um permanente aumento do conhecimento dos recursos minerais. Produz cartogra a de recursos para potenciar áreas de interesse. Estuda e valoriza os materiais para o desenvolvimento de tecnologias necessárias à descarbonização, por exemplo, para a produção de baterias eléctricas ou pilhas de combustível.
Na geotermia, o LNEG mantém e actualiza informação cartográfica e de modelação tridimensional que permite conhecer o potencial geotérmico a nível nacional e regional nas várias regiões do país. Disponibiliza essa informação através do geoPortal.
- Na prática, como é que o LNEG intervém na área recursos minerais?
Numa permanente parceria com o sector da indústria extractiva, desenvolvendo conhecimento para incentivar as melhores práticas e na formação avançada de especialistas para o sector.
- Que exemplos de projetos podem partilhar? Qual o seu impacto junto dos diversos parceiros e stakeholders?
- Projecto EXPLORA (Definição de novos vetores de conhecimento geológico, geofísico e geoquímico para a região setentrional de Neves-Corvo).
- Projecto GeoFPI ( Observatorio transfronterizo para la valorización geoeconómica de la Faja Pirítica Ibérica): Integração de informação geológica básica, estratigra a e mineração, num conte to transfronteiriço.
- Projecto FRAME (Forecasting and Assessing Europe’s Strategic Raw Materials Needs): desenvolvimento do conhecimento estratégico e de matérias-primas críticas e estratégicas em terra e no ambiente marinho.
- Projecto EUROLITHOS: Aumentar o conhecimento da qualidade geológica da pedra natural para o uso mais sustentável deste recurso.
- ProJecto Baterias 2030.
Ainda de referir a participação na elaboração de um quadro legislativo a regulamentar a geotermia superficial ou a avaliação do potencial geotérmico da Ilha da Madeira.
- É possível conciliar a preservação dos recursos com a economia?
Os recursos preservam-se conhecendo- os e dando-os a conhecer a quem pode decidir em termos de Ordenamento do Território. É essa a nossa função, conhecer a sua existência e a informar quem tem que decidir politicamente. No caso da geotermia compete ao LNEG a divulgação do mapeamento do recurso e a divulgação da tecnologia assim como na formação avançada. Está em curso a actualização do Atlas Geotérmico Nacional no geoPortal do LNEG, com a inclusão de mais quantidade e diversidade de informação integrada num Atlas Europeu.
- Como perspetiva a ação do LNEG nos próximos anos?
O LNEG acompanha a par e passo a evolução do conhecimento através da participação muito activa em parcerias. Somos flexíveis e dinâmicos em permanente adaptação para estarmos em linha com as prioridades da Europa e do nosso Governo.
Esta entrevista foi publicada na edição 92 da Ambiente Magazine.