A crescente procura por energias renováveis tem levado o mundo a procurar alternativas para substituir os combustíveis fósseis. No centro deste processo, o lítio aparece como um dos elementos-chave para a transição energética, principalmente devido ao seu uso em baterias de iões de lítio, essenciais para o armazenamento de energia e para a viabilização de tecnologias como veículos elétricos. No entanto, a exploração deste recurso traz desafios geopolíticos, económicos e sociais que precisam de ser debatidos com profundidade.
É neste contexto que o projeto de investigação “Os desafios sociopolíticos da produção de lítio para a transição energética: os casos de Portugal e do Brasil” pretende lançar luz sobre as implicações da extração e utilização do lítio em ambos os países.
Com uma abordagem interdisciplinar, o projeto visa analisar o impacto socioeconómico, político e ambiental deste recurso estratégico. Financiado pela FCT, a partir do CEEC Individual da 6.ª edição, será desenvolvido no Laboratório Nacional de Energia (LNEG), na Unidade de Economia de Recursos, pela investigadora Elaine Santos, sob coordenação da investigadora Sofia Simões.
Este projeto pretende ainda estabelecer parcerias com instituições de relevância no Brasil, como a Universidade de São Paulo, além das universidades do Vale do Jequitinhonha (Minas Gerais), onde o lítio é atualmente explorado, assim como com o Serviço Geológico do Brasil, que organiza e sistematiza o conhecimento geológico do território brasileiro, procurando fortalecer a colaboração e o intercâmbio entre diferentes áreas do conhecimento.
O lítio e a nova matriz energética
Portugal e Brasil têm papéis estratégicos na exploração do lítio, devido às suas reservas minerais. Em Portugal, o lítio é explorado essencialmente para fins cerâmicos e vidreiros (pelo menos desde 1998), por sua vez, o Brasil possui uma indústria do lítio mais estabelecida, com a Companhia Brasileira de Lítio, que iniciou as suas operações em 1991.
“Embora muitos aspetos relacionados com a exploração do lítio e outras matérias-primas estratégicas sejam predominantemente técnicos, é essencial que a sociologia aprofunde a sua análise nesse campo. Isso se justifica não apenas pela maneira como Portugal e Brasil lidam com essa questão, que tem gerado desconfiança por parte das populações locais em ambos os países, mas também porque os sistemas de energia renovável, apesar de se pretenderem mais “limpos”, apresentam suas próprias injustiças e impactos, que variam em magnitude e que precisam ser examinados” ressalta a investigadora Elaine Santos.