É visto como uma indústria com um impacto nefasto no ambiente: o setor extrativo enfrenta entraves legais e a oposição de ambientalistas e populações. Na edição 92 da Ambiente Magazine, centramos a discussão na “Indústria Extrativa e Recursos Geológicos”, juntando a opinião de vários especialistas sobre esta área. Partilhamos agora um excerto desta reportagem, focando-nos no tema da exploração de lítio.
“Imprescindível para o armazenamento de energia”. É assim que Célia Marques, vice-presidente Executiva da ASSIMAGRA (Associação Portuguesa da Indústria dos Recursos Minerais) avalia o potencial do lítio, destacando que “a energia gerada por fontes alternativas ou renováveis não é constante no tempo e não permite o seu armazenamento sem recurso a baterias”. Portanto, “essas baterias só são possíveis com recurso a minerais onde se inclui o lítio”, acrescenta. No caso português, a exploração de minerais que contêm lítio é em tudo semelhante à exploração de uma pedreira de rocha industrial: “Os minerais portadores de lítio são estáveis e resistentes, não apresentando qualquer risco de poluição pela presença de lítio”, explica. Aliás, uma mina de lítio, em Portugal, separa apenas os minerais que possuem lítio dos outros que não o possuem, ou seja, tentam “individualizar” o mineral e não o metal: “Apenas nos processamentos fora da mina se individualiza o lítio numa composição estável e apropriada peara o uso em baterias”. Já sobre os benefícios de se aproveitar um “recurso endógeno”, Célia Marques destaca a “criação de emprego” e de “riqueza para o país”, além do “desenvolvimento de regiões carenciadas do interior, onde existem fortes fenómenos de despovoamento”.
Para Alexandre Lima, professor na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, “Portugal tem o maior potencial de lítio na Europa, sob a forma de espodumena”, e noutros minerais que também têm uma quota importante na Europa: “Aproveitar esse recurso para fazer crescer dentro do país uma cadeia de valor, que inclua a metalurgia, a construção de baterias e de carros elétricos, é o ideal”, afinca.
No entender de Miguel Macias Sequeira, representante do GEOTA (Grupo de Estudos do Ordenamento do Território), o lítio assume importância estratégica na transição energética, impulsionada pelo fabrico de baterias principalmente destinadas aos automóveis elétricos: “A Agência Internacional de Energia estima que (este fabrico) possa crescer 42 vezes em 2040, face a 2020”. O lítio terá, assim, uma “importância geopolítica e económica” cada vez mais importante, sendo que “a Comissão Europeia procura garantir o seu abastecimento seguro e sustentável”, refere. O objetivo é “criar uma cadeia de abastecimento resiliente para a indústria europeia de baterias e automóveis”, que não dependa de países externos, como o Chile e a Austrália, que concentram a produção global. Nestes desígnios, o responsável considera que Portugal estará na fase inicial da cadeia, isto é, na fase de “extração e processamento para concentrado de espodumena, que são as atividades de menor valor acrescentado”, e no final da cadeia, como “consumidor de baterias e veículos elétricos, que são produtos de elevado valor acrescentado”, destaca. Mesmo dentro da União Europeia, onde Portugal possui reservas relevantes, começam a surgir “projetos competitivos e tecnologias alternativas” que “colocam ainda mais em questão a aposta “all-in” na exploração em minas a céu aberto em Portugal, tanto no caso do lítio como de outros minerais”. Contudo, Miguel Macias Sequeria chama a atenção para o facto de se perceber que a “substituição direta do automóvel convencional pelo elétrico não é condição suficiente” para garantir uma mobilidade sustentável: “Mesmo sendo uma tecnologia efetivamente melhor que mitiga alguns problemas, como a poluição do ar urbano e a emissão de gases de efeito estufa, cria outros conflitos que não podem ser ignorados, como os associados à exploração mineira”, atenta. Sendo o automóvel individual uma “forma de transporte extremamente ineficiente e intensiva em recursos, que monopoliza o espaço público urbano e leva a números trágicos de sinistralidade rodoviária”, o responsável defende que a aposta deve passar por “melhores transportes públicos, mobilidade suave e mobilidade partilhada”, bem como “desincentivar o uso excessivo” do automóvel individual: “Esta será a verdadeira mudança de paradigma rumo a uma mobilidade mais sustentável, que também limita o consumo de lítio e outros recursos”, afinca.
Já Pedro Santos, coordenador do Grupo de Trabalho dos Recursos Minerais da Quercus, considera que o papel do lítio passa por ser um “elemento base” de uma tecnologia de armazenamento de energia: “Se a energia armazenada for renovável, existirão benefícios ambientais (redução de emissões de CO2); se a energia armazenada for não renovável, não se verificam benefícios ambientais assinaláveis”.
*O artigo completo estará disponível na edição 92 da Ambiente Magazine