Num mercado global são muitos os desafios que uma indústria pode enfrentar, a posição geográfica, as condicionantes ambientais, económicas e políticas e também os requisitos regulamentares, todos contribuindo para o seu maior ou menor sucesso.
O transporte marítimo, apesar de toda a pressão de que tem vindo a ser alvo, continua a ser o transporte menos poluente, representando um menor contributo para a pegada carbónica, do que qualquer outro meio de transporte. De acordo com os dados disponíveis, o transporte marítimo (ref.ª porta contentores de alto mar) é o que tem menores emissões de CO2 por quilómetro percorrido (8 gCO2/ton-km), quando comparado com o Transporte Aéreo (602 gCO2/ton-km), Transporte Pesado/camião (62 gCO2/ton-km) e Comboio (22 gCO2/ton-km).
A indústria de manutenção e reparação naval permite aos armadores manter as suas frotas em condições de cruzarem, de forma segura, massas de água interiores e oceânicas, contribuindo para a sua modernização tecnológica, integrando a evolução dos requisitos técnicos e regulamentares.
Por ser um setor mais tradicional, e com séculos de história, pode dizer-se que, comparativamente a outras áreas de atividade, a sua evolução tem sido feita a um ritmo mais lento, começando a verificar-se, mais recentemente, uma mudança de comportamentos, quer ao nível da eficiência energética, tratamento de emissões atmosféricas e preocupação com a questão das espécies invasoras.
A história da LISNAVE confunde-se com a história da manutenção e reparação naval mundial. Este é um facto que não é do conhecimento de muitos, principalmente agora, dada a longevidade da Empresa, mas a marca LISNAVE e os seus Estaleiros Navais sempre foram reconhecidos, a nível mundial, pela qualidade dos seus serviços, sendo atualmente líder em alguns segmentos, no mercado Europeu.
A indústria Europeia é alvo de grande pressão, e bem, no sentido de se modernizar e minimizar os impactes ambientais associados às suas atividades. No entanto, esse esforço não se reflete na proteção do ambiente global, na medida em que a maioria da indústria está localizada em países que não são alvo dessa regulamentação.
Embora se possa dizer que, mesmo na Europa, os requisitos parecem não se refletir de igual forma em todos os países, a concorrência com países Asiáticos e da Europa de Leste, onde os requisitos em matéria de segurança e ambiente são bastante menores do que na Europa, torna extremamente difícil a permanência em lugares de topo no ranking mundial.
O Estaleiro da Mitrena, em Setúbal, explorado pela LISNAVE- Estaleiros Navais, SA foi construído nos anos 70 do século passado, tendo por isso passado ao longo da sua existência, por diversas intervenções no sentido de se modernizar e acompanhar os avanços tecnológicos.
A LISNAVE, é desde julho de 2023, certificada pela LRQA para os três referenciais normativos ISO 9001, ISO 14001 e ISO 45001, Qualidade, Ambiente e Segurança e Saúde no Trabalho, respetivamente.
A instalação é uma ilha artificial, com 1 500 000 m2 de área, situada a 15 minutos da cidade de Setúbal, na península da Mitrena, sendo autónoma na captação e fornecimento de água potável e no tratamento de todos os seus efluentes (2 unidades de tratamento – ETAR’s), contando com outros parceiros para o encaminhamento dos resíduos produzidos, procurando, onde possível, integrar uma política de economia circular.
O Estaleiro tem seis docas com a capacidade para docar navios até VLCC (Very Large Cruide Carriers), cerca de 330 m de comprimento, quatro cais de acostagem e diversos meios de elevação. Em média, anualmente, são tratados cerca de 80 navios, dos quais 77, em doca.
A Empresa tem apostado fortemente na utilização de energias renováveis, aquecimento de águas sanitárias através de energia solar e a construção de uma unidade de produção para autoconsumo, que consegue produzir até 8 % do consumo global da instalação.
Ao nível da contribuição para o cumprimento das políticas de proteção do ambiente impostas ao transporte marítimo, a LISNAVE tem implementado tecnologias cada vez mais eficientes nos navios que recorrem ao seu Estaleiro, sendo disso exemplo os sistemas de tratamento de águas de lastro e também, de gases de exaustão.
A LISNAVE aderiu recentemente ao programa de certificação GREEN MARINE EUROPE, para Estaleiros Navais, sendo um dos dois primeiros estaleiros Europeus a participar nesta iniciativa. O programa de certificação é voluntário e permite aos Estaleiros Navais aderentes melhorar o seu desempenho ambiental, num nível além da regulamentação, para questões relacionadas com a qualidade do ar, água e solo.
Para o futuro e aliando um forte sentido de responsabilidade para com o meio ambiente, porque não há planeta B, com o desejo de se lançar em novos mercados, a LISNAVE tem projetos no âmbito da construção para a eólica offshore, assim como para a reciclagem naval responsável, dando a sua contribuição para a Europa ter uma resposta cabal às necessidades dos armadores no desmantelamento consciente dos seus navios.
*Este artigo foi publicado na edição 103 da Ambiente Magazine.