O risco de ocorrerem em Lisboa inundações como as que surpreenderam a capital há dois anos, a 13 de outubro de 2014, mais do que triplica já em meados do século por causa das alterações climáticas, refere esta sexta-feira o Diário de Notícias. Mas esse não é o único perigo que espreita Lisboa no horizonte de três décadas: as ondas de calor mais frequentes e os seus efeitos na saúde também vão ser um desafio maior. Preparar a cidade para esse futuro é o objetivo da Estratégia Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas de Lisboa (EMAAC) que é apresentada hoje pelo município e que está disponível para consulta pública até ao dia 30 de janeiro.
O reforço dos espaços verdes, enquanto zonas de biodiversidade para combate à concentração do calor e como terreno favorável à absorção das chuvas, a construção de mais bacias de retenção com este mesmo objetivo, para minimizar potenciais efeitos catastróficos da precipitação intensa, ou a elaboração de alguns estudos concretos, como o da suscetibilidade da frente ribeirinha às marés devido à subida prevista do nível dos oceanos, e a revisão de cartas de risco são algumas das ações contempladas na EMAAC.
As inundações que por vezes ocorrem em Lisboa quando há precipitação muito intensa durante horas consecutivas são uma das principais vulnerabilidades da capital face às alterações climáticas, já que se estima que elas tragam consigo um aumento dos episódios climáticos extremos: mais ocorrência destas chuvas torrenciais, mas também de ondas de calor, com a estimativa de um maior número de dias com temperaturas acima da média durante o verão.
“Os nossos modelos indicam que os episódios de precipitação extrema, com valores da ordem dos 120 mm em 24 horas, que tinham um período de retorno de cem anos, passam a ter um retorno de 20 anos a partir de meados do século”, explica o investigador Luís Dias, da Universidade de Lisboa, que coordenou a elaboração da estratégia para Lisboa – e para os outros 25 municípios do país que participaram no projeto -, no âmbito do projeto Climadapt.
Isso significa que as chuvas torrenciais vão tornar-se cinco vezes mais frequentes nas próximas décadas. Impedir que causem inundações catastróficas na cidade passa pela criação de mais zonas não impermeabilizadas no território, como as zonas verdes, mas também bacias de retenção que possam absorver a água, impedindo que ela se acumule. Todas essas medidas se articulam com o Plano Geral de Drenagem aprovado pela câmara e já em execução, que vai permitir, com os seus dois túneis – entre Monsanto e Santa Apolónia, e entre Chelas e o Beato -, desviar a água a mais diretamente para o rio. “São 170 milhões de euros para concluir o projeto até 2030, mas dentro de três ou quatro anos já conseguimos minimizar o efeito da precipitação intensa, em termos de cheia”, explica o vereador José Sá Fernandes, com o pelouro da Estrutura Verde e Energia na Câmara de Lisboa.
Quanto às ondas de calor, cuja frequência se prevê que triplique dentro de três décadas, a EMAAC prevê entre outros a realização de fotografia aérea para mapear os padrões de radiação térmica no território e para melhor fundamentar a gestão e a intervenção a nível urbano, nas novas construções, por exemplo, para aumentar o conforto térmico nos edifícios.