Lisboa foi eleita, entre mais de 150 cidades, a nível mundial, como um dos 21 Lugares de Futuro. A capital portuguesa, segundo um estudo da norte americana Cognizante, destaca-se pela qualidade das universidades, infraestruturas e segurança. No âmbito deste estudo, a Cognizant desenvolveu uma “metodologia única” que lhe permitiu identificar, a partir de uma lista inicial de mais de 150 lugares, quais os principais 21 lugares em todo o mundo onde a inovação está a florescer atualmente. “Onde irão surgir os empregos do futuro?” foi pergunta à qual o estudo 21 Lugares de Futuro quis responder!
Em entrevista à Ambiente Magazine, Maximino Gouveia, Portugal Country Head da Cognizant, refere que os “21 lugares identificados” são os que revelaram possuir uma “enorme apetência” para “criar e recriar um futuro e onde é maravilhoso não só trabalhar, mas também viver”. A Cognizant procedeu assim à análise dos “núcleos” e dos “eletrões” de cada lugar, criando um “átomo de sucesso” para cada uma das cidades e lugares nomeados no estudo. Neste núcleo encontram-se três elementos bem definidos e que são considerados essenciais para o sucesso de cada uma das cidades: “governo local, qualidade das escolas e universidades e acesso ao capital privado”. Cada núcleo tem ao seu redor eletrões. No estudo, os eletrões são constituídos por oito componentes: “infraestrutura física, ambiente (sustentabilidade), estilo de vida (diversidade e inclusão, igualdade de rendimentos, tempo de deslocação, nível de educação), cultura e entretenimento, património arquitetónico, infraestruturas digitais, grupos de talento e acessibilidade”. A esta informação foram adicionados dados provenientes de fontes como o World Economic Forum, o Projeto De Justiça Global e o ESI ThoughtLab. O resultado desta “complexa análise” permitiu assim identificar onde se encontram os “21 Lugares de Futuro”, e entre os quais “Lisboa se destaca de forma especial na lista das 17 cidades e dos quatro espaços virtuais que integram a lista dos líderes”, refere o responsável, acrescentando que, a capital portuguesa foi também reconhecida por já estar a fazer “utilização intensiva das tecnologias do futuro” e de onde irão “emergir muitos novos empregos”, nomeadamente, “a utilização intensiva da automatização, dos algoritmos e da inteligência artificial”.
Para responder à pergunta “onde irão surgir os empregos do futuro?”, o Center for the Future of Work, divisão de investigação da Cognizant, centrou-se no propósito de “olhar mais adiante” e “identificar onde estão os lugares menos óbvios e onde estão a florescer as inovações que irão mudar o mundo”, lembrando “exemplos anteriores” como “Manchester (de raiz uma pequena cidade rural, hoje a primeira cidade industrial do mundo)”, ou “Silicon Valley (que era uma região predominantemente agrícola, hoje em dia uma das maiores referências tecnológicas do mundo)”. Estas cidades são a prova de que as “inovações que mudaram o mundo surgiram em lugares inesperados” que se tornaram “grandes centros de inovação e polos de geração de emprego com repercussões à escala global”, refere. Maximino Gouveia olha para o estudo “21 Lugares do Futuro” como sendo um “roteiro” que permite às empresas, aos governos e às pessoas aprenderem com o sucesso de outros lugares em expansão: “É um mapa da inovação à escala global e dos lugares que irão escrever a história do mundo no futuro próximo”.
Agora com as conclusões pretende-se identificar algo real: “os lugares onde, num futuro próximo, as pessoas vão querer estar, viver, trabalhar, e onde está o talento, a inovação e as novas ideias”. Por isso, explica o responsável, as cidades e os lugares selecionados neste estudo têm em comum o “desejo de criar um futuro” que ofereça às pessoas os empregos de amanhã: “À medida que em todo o mundo se tenta ultrapassar o impacto da pandemia, os lugares que são bolsas de inovação e de novas ideias, que são acessíveis e onde é agradável trabalhar e viver, vão ser os escolhidos e os desejados pelas pessoas e será para esses que irão convergir”. O objetivo foi assim detetar “quais as cidades que estão claramente ao lado de Lisboa nesta tendência global”, como é o caso de “Tel Aviv, São Paulo, Wellington, Dundee, Toronto, Atlanta, Sacramento e Portland, Kochi, Songdo, Tallinn, Shenzhen e Haidian, Qu-Pequim, Nairobi, Lagos e Da Nang”, precisa.
[blockquote style=”2″]O chamado ativismo verde é patente na capital portuguesa[/blockquote]
Todas as cidades tiveram de passar pela mesma metodologia e todas as suas características foram avaliadas da mesma forma: “Todas elegem a sustentabilidade como uma das suas principais prioridades”. Quanto a Lisboa, Maximino Gouveia constata que é uma cidade onde se tem vindo a fazer um grande esforço e trabalho ambiental: “Todas as decisões que são tomadas na cidade têm em conta o impacto ambiental e decorrem de uma estratégia importante para alcançar a meta de Zero Carbono até 2050”. É assim que a capital portuguesa está à “frente de outras cidades europeias”, visto que “já está a trabalhar na mudança e na criação de um novo modelo que permita produzir melhor e consumir de forma mais responsável” e, justamente por isso, é já uma “referência verde” a nível europeu. Neste contexto, o estudo considera que Lisboa está “grandemente” preparada para a “eco revolução”. E o chamado “ativismo verde”, é patente na capital portuguesa: “É a base de muitas das decisões dos seus mais altos responsáveis, bem como da colaboração dos cidadãos”, sustenta.
Uma “cidade sofisticada”, que se destacou na avaliação por dez razões principais:
- possuir um governo local estável;
- pela qualidade das suas universidades;
- pelo acesso ao capital privado;
- pelas suas excelentes infraestruturas;
- por ser uma cidade sustentável/ “verde”;
- por ser um lugar onde é fácil trabalhar;
- pela vasta oferta cultural e de entretenimento que disponibiliza;
- pela segurança;
- por oferecer um bom nível/custo de vida;
- por ser um grande pool de talentos.
O estudo “21 Lugares do Futuro” é a prova real de que Lisboa é uma “cidade fantástica”, que alcançou “algo muito difícil” num espaço de tempo relativamente curto e depois da crise financeira: “ser desejada e admirada em todo o mundo”, vinca Maximino Gouveia. Mas, a capital portuguesa não se ficou por aqui: “Conseguiu transformar-se num hub de empreendedorismo sem precedentes”. Aliás, de acordo com Startup Europe Partnership, há um “ecossistema de startups” em Portugal que está a crescer “duas vezes mais rapidamente do que a média europeia”. No caso da capital portuguesa, segundo o Invest Lisboa, “hoje, é um dos dos “maiores centros de startups da Europa”, com “mais de 30 incubadoras e aceleradoras e com quase 50 espaços de coworking”.
Após as conclusões do estudo há lições que devem ser tiradas. Maximino Gouveia destaca desde logo que “ser um foco de inovação à escala global”, como o é Lisboa, “depende de um grande trabalho dos governos, das empresas e dos cidadãos” num “esforço comum” capaz de gerar um relevante conjunto de “mais valias sociais e económicas”. E se Lisboa é um “lugar incrível” para onde as pessoas irão “gravitar no futuro”, tal não é obra do acaso: “É uma cidade onde há um foco muito importante no conhecimento, um fator chave para a nova era digital. Lisboa é um foco de inovação global que irá escrever a história do mundo no futuro próximo”, sustenta.
Em matérias ambientais, Maximino Gouveia considera que Lisboa deve continuar a reforçar a sua estratégia “verde”, envolvendo neste esforço “os seus líderes, os seus cidadãos e colaborando com empresas”, de forma a “valorizar ainda mais a transformação digital, para potenciar a análise nas suas estratégias de transportes, na sua urbanística, nos negócios, nas áreas sociais, no emprego, etc”. Desta forma, “conseguirá implementar as melhores práticas de controlo ambiental que se desenvolvem na Europa, tornando-se numa cidade totalmente livre de poluição e num exemplo para todo o planeta”, vinca.
É importante que a capital portuguesa continue a investir na cidade com transparência e inteligência. Para isso, deve “manter” e “reforçar” o empenho na “criação de infraestruturas sustentáveis, flexíveis e económicas” e, ao mesmo tempo, prosseguir com o “esforço de melhorar a cultura, o ambiente e o acesso ao capital privado”, criando “políticas fiscais capazes de promover a vinda em maior escala de startups estrangeiras e a implementação de mais centros de desenvolvimento digital de empresas multinacionais”. Do ponto de vista das políticas sociais, a recomendação de Maximino Gouveia é que Lisboa invista cada vez mais na “Diversidade” e na “Inclusão”, visto que este é um dos “elementos-chave para a criação da inovação e para o surgimento de novas ideias”. Além disso, que continue com o empenho de tornar a capital portuguesa num “exemplo de segurança”, bem como com “os esforços de garantir que o futuro dos seus jovens, que possuem um elevado nível de formação, se mantenha dentro da cidade e que não saia para outros países”, atenta. Em suma, “liderar a era digital na Europa e estar a par das grandes capitais do resto do mundo”, remata.