Desde esta terça-feira – Dia Mundial da Água – que a cidade de Lisboa passa a estar dotada com um sistema pioneiro de rega sustentável com água+. A cerimónia, que marcou o arranque oficial do “Parques e Jardins de Lisboa: o mesmo verde, a água é outra”, um projeto desenvolvido pela Águas do Tejo Atlântico e pela Câmara Municipal de Lisboa (CML), decorreu na Fábrica de Água de Beirolas.
Todos os anos, a Águas do Tejo Atlântico recebe, trata e descarrega para os meios hídricos cerca de 180 milhões de metros cúbicos de água: “É muita água que, todos os dias, devolvemos aos meios hídricos”, começa por afirmar Alexandra Serra, presidente do Conselho de Administração da Águas do Tejo Atlântico, lembrando que o compromisso de “transformar os novos paradigmas da economia circular em realidade e os serviços de saneamento mais circulares e virtuosos” é algo já bem conhecido. É com base nesta premissa que a empresa trabalha todos os dias, em conjunto com a CML e com todos os 22 municípios que serve: “Utilizamos água reciclada para processos internos; desde 2019, fornecemos água reutilizada ao IKEA; estamos a delinear projetos para aumentar o potencial de reutilização na área abrangida pela concessão da empresa e a transformar as ETAR’s em fábricas de água”, exemplifica.
Para além de ser o “primeiro projeto licenciado” para reutilização de água para rega dos jardins municipais, trata-se dum “exemplo inspirador” para muitos outros projetos que se seguirão, “desde logo, um exemplo de parceria entre a Tejo Atlântico e a CML que, ao longo de dois anos, foi sendo passado o testemunho de equipa para equipa sempre com grande empenho de chegar à meta”, lembra a responsável. E o desígnio “água +” afirma-se como “marca” para a Tejo Atlântico definir água reutilizada: “Água + porque a água é sempre água e a realização irá gerar mais água com mais níveis de tratamento em função do uso que lhes queremos dar”, declara.
Alexandra Serra acredita no desafio de “cidades sustentáveis” e a gestão sustentável do recurso água é primordial: “O caminho é tirar partido do potencial de reutilização de água nas cidades e os ganhos para a sociedade e o ambiente são enormes”. Desta forma, a responsável está confiante de que o projeto, já em funcionamento na zona Norte do Parque das Nações, em Lisboa, servirá de “inspiração” para os municípios parceiros da empresa avançarem nesse sentido.
[blockquote style=”2″]Água residual tratada para reutilização é por excelência uma origem para os fins não potáveis[/blockquote]
Relativamente à escolha da Fábrica de Água de Beirolas para marcar o arranque oficial deste projeto, Vítor Neves, coordenador do subsistema de saneamento de Beirolas, refere que se trata de uma “instalação de excelência” para a produção de ApR (Água para Reutilização). Recentemente, foi instalada uma “unidade de tratamento complementar” que visa a produção de água + e que prova o potencial de expansão da solução: “Trata-se de unidade dimensionada para produzir 1200 metros cúbicos por dia – 2% do caudal que tratamos diariamente nesta estação”. Acresce que as “normas de qualidade de água para produção de ApR para regas de jardins de uso público exigem que a qualidade seja equiparada a uma água de classe A”, explica o responsável, acrescentando que “os resultados preliminares estão claramente abaixo dos valores limite da norma de qualidade”.
Num contexto de alterações climáticas e com os eventos de seca severa e extrema a serem cada vez mais uma realidade, Vítor Neves defende a premência de se encontrar alternativas às tradicionais origens de captação: “Sem dúvida que a água residual tratada para reutilização é, por excelência, uma origem para os fins não potáveis”.
[blockquote style=”1″]Porquê usar Água+ em Lisboa? [/blockquote]
Coube a Catarina Freitas, Diretora Municipal do Ambiente da CML, explicar a razão pela qual Lisboa quis abraçar este projeto. De acordo com a responsável, a cidade consome por ano cerca de 55 milhões de metros cúbicos de água potável, sendo que a CML é responsável por 7% desse consumo, ou seja, 3,9 milhões de metros cúbicos, que se traduz no pagamento de 4 milhões de euros. Mas, dos 55 milhões de metros cúbico de água potável, mais de 75% dos usos a que afeta são não potáveis, isto é regas de jardins, lavagem de rua ou contentores: “São usos que não necessitaria de uma qualidade tão pristina como é a água para abastecimento humano”. Com base nesta realidade, compete à cidade, de forma faseada, construir uma “rede de distribuição dos recursos”, tendo com base a “Fábrica de Beirolas, de Chelas e de Alcântara” para reutilização de água.
O Parque Tejo, situado na zona do Parque das Nações, é composto por uma área de 300 mil metros quadrados, onde os espaços verdes predominam e, consequentemente, a necessidade de água é uma constante. Tendo em conta a localização estratégica da Fábrica de Água de Beirolas face ao Parque Tejo, a aposta tornou-se evidente, “mais ainda pelo facto da fábrica ter uma disponibilidade muito grande do recurso que é água + de grande qualidade para um uso não potável (classe A)”, refere. Este sistema subdivide a área em 17 espaços de utilização pública que têm dois tipos de rega, “12 aspersão e 5 gota a gota”, além de uma “rede de 26 quilómetros de extensão” e associado a um “depósito de 3 mil metros cúbicos”, acrescenta.
O facto de se tratar de um “projeto pioneiro” em Portugal, traduziu-se num “processo longo” de trabalho, sendo que houve por parte das entidades da tutela uma grande preocupação em tornar o projeto num exemplo: “Tem grandes preocupações ao nível da segurança alimentar e saúde pública. Foi feito um trabalho muito extenso ao nível de análise de risco e de cenários de exposição ao risco, bem como um plano de monitorização rigoroso e ambicioso que nos vai dar um maior conforto”, sustenta.
Ainda no âmbito deste projeto, Catarina Freitas adianta que já se encontra disponível na plataforma “Lisboa Aberta” um painel público com a “disponibilização online” de todos os dados de monitorização. Em breve, será também lançado um dashboard interno com um “sistema de alarmes associado” que permitirá interromper, na eventualidade de existir um “decaimento” da qualidade do recurso: “São várias soluções que nos permitem controlar a qualquer momento essa necessidade”.
Como notas finais, a responsável não quis deixar de lembrar que, no Parque Tejo, juntamente aos “hidrantes ou bocas de rega de água +”, estarão placas de sinalização para informar e avisar as pessoas desta solução.
📷 Ana Sofia Serra | CML e Luis Filipe Catarino | arquivo CML