A Agência de Energia e Ambiente de Lisboa (E-Nova) assegura que “a transição energética é imparável” e que a crise da Covid-19 pode ser a “oportunidade” para a qualificar. Existem desafios no horizonte, sobretudo para as cidades, e Milão por exemplo, uma das metrópoles europeias mais afetada pelo vírus, acredita que a forma como iremos recuperar da crise irá moldar o futuro das cidades durante décadas.
O técnico da Lisboa E-Nova garantiu, durante o Webcast da The K Advisors, que a transição energética foi iniciada há muito tempo. Há cerca de 10 anos que a dependência energética tem sido reduzida 1% ao ano e que se traçou a meta de reduzi-la 20% até 2050, pelo que “é imparável neste momento”. O que se coloca agora com a crise da Covid-19 é “a oportunidade para qualificar” essa transição e para “estarmos todos bastante seguros de que ela é inevitável”.
Para o responsável, já não se trata de uma questão de competividade entre a energia fóssil e renovável mas antes de perceber qual será a taxa de penetração das renováveis no setor. Se dúvidas existiam, “os preços do leilão no verão mostram que o mercado já antecipava a capacidade para produzir energia e realizar projetos com preços muito abaixo dos 25 euros por megawatt/hora”, comenta. Desta forma, Rui Dinis não acredita que tal competitividade “venha a ser afetada mesmo num cenário de fósseis paralisados”.
O técnico da Lisboa E-Nova frisa ainda que a nova legislação do autoconsumo coletivo, com o aparecimento de agentes de mercado agregadores, permitiu um simplificar e maior dinamismo da relação com o mercado da energia. Embora ainda seja necessário “regular muita coisa”, na sua opinião, esta é a prova de que “já havia uma preparação e, creio que não será a crise da Covid a desmobilizar todo este sistema”.
Procura de energia diminui e penetração de tecnologias low carbon aumenta
Segundo projeções da Agência Internacional de Energia (IEA), este ano haverá uma redução da procura de energia sete vezes superior à registada em 2008. A procura por energia cairá 11% na União Europeia (UE) e 9% na América do Norte. Globalmente, a redução será de 6%.
Por outro lado, no período pós-Covid e até ao final do ano, haverá também um aumento da penetração de tecnologias low carbon na produção de eletricidade e Rui Dinis recorda que o low carbon engloba tanto as renováveis como uma “fatia significativa” de energia nuclear. Assim, “a penetração de tecnologias low carbon vai ser tal que vamos chegar a um valor histórico estimado de 40% do mix elétrico”, atenta.
O agudizar da pobreza energética face ao Covid-19
O técnico da Lisboa E-Nova afirma que “a pobreza energética é um problema que se vai agudizar com esta crise”. Nas projeções de 2020-30 para Lisboa, “o único setor que aumenta o seu consumo é o setor doméstico”. Rui Moreira relata: “Há uma clara perceção de que é um setor que vive em pobreza energética e precisa de um consumo específico maior para satisfazer um conjunto de necessidades para mitigar, pelo menos na próxima década, a questão da pobreza energética.”
Outra questão relativamente a Lisboa é que a “desconfiança no transporte público vai, no curto prazo, causar um enorme transtorno de mobilidade na área metropolitana” mas que, embora possa existir maior procura pelo transporte individual, por outro lado “existe uma franja muito significativa de empresas que estão em teletrabalho” o que pode compensar a situação.
C40 Cities: “A forma como vamos recuperar vai moldar as cidades do futuro”
Lisboa integra também o grupo C40 Cities, que agrega cerca de “100 metrópoles do Mundo que representam 25% do PIB mundial e apenas 5% das emissões de gases com efeito de estufa”, ou seja, as cidades com “melhores níveis de eficiência do ponto de vista da intensidade carbónica”. Entretanto, o C40 Cities criou uma task force de Covid-19 que é liderada pela cidade “completamente insuspeita” de Milão, Itália, uma das cidades europeias mais afetada pelo vírus. O responsável assinala que “o próprio mayor diz que a forma como vamos preparar esta recuperação vai definir durante décadas as nossas cidades”.
Rui Dinis resume que há uma “oportunidade” para reforçar dois grandes objetivos globais que são o desacopolar a energia do PIB e desacopolar a energia e o CO2 graças às renováveis, alcançando “cidades com mais qualidade de vida, equitativas e justas, neutras em carbono e resilientes”.