A Lipor procedeu, na passada quinta-feira, à apresentação pública do contributo português para o “Estudo de Indicadores da Economia Circular“, em conjunto com o Instituto Nacional de Estatística (INE) e diversas entidades públicas e privadas (APA, DGAE, ANI, CIP e BCSD), pois apesar da implementação de modelos circulares estar em forte ascensão a nível mundial, a medição do seu progresso continua a ser um desafio.
O presidente do Conselho de Administração, Aires Pereira, avançou que a Lipor decidiu que “faria sentido abordar o INE para se aquilatar da importância de podermos ter disponíveis e editados indicadores da economia circular, que pudessem ser utilizados pelo tecido empresarial para diferentes e justificados fins”, entre os quais, candidaturas a apoios e com vista à transformação de modelos de negócio. Assim, a Lipor reuniu-se com o INE em janeiro do ano passado e foi “desafiada” a contribuir com um documento base a partir do qual seria desenvolvido o estudo.
Aires Pereira acredita que, assim como o INE, “outros organismos públicos e privados da economia real nos irão desafiar a novos e importantes contributos para sedimentar a importância da economia circular no futuro do Planeta”.
Pela parte do INE, Ana Cristina Ramos indica que em fevereiro o Instituto “fez uma primeira proposta de 29 indicadores para a economia circular que servissem também para monitorizar as agendas regionais” dentro da temática. Entretanto, com o estudo da Lipor, foram reunidos 20 indicadores.
Referenciais para a medição da transição circular
O Estudo foi tecnicamente assessorado pela EY-Parthenon e o Hermano Rodrigues, seu Principal, assegura que “existe um desfasamento entre a relevância dada ao aprofundamento da circularidade das economias e a informação disponível, de natureza oficial, para medir essa intensidade e circularidade crescente” daí a necessidade de estudar tais indicadores que serão, posteriormente, conhecidos num relatório a ser divulgado.
Foi assim que se chegou a uma “proposta de indicadores para medir de forma mais efetiva a progressão em direção à economia circular”, que teve os seguintes referenciais:
– China – Com um trabalho de medição da economia circular desde 2007, com progressos relevantes em 2017, que lhe permitiu chegar a um conjunto alargado de indicadores em três áreas: macro, meso [ecoparques industriais] e micro económicos;
– UE – Através do Plano de Ação da Economia Circular (2015) e da criação do Quadro de Monitorização para a Economia Circular (2018), com indicadores centrados na produção e consumo, gestão de resíduos, relativos a matérias primas secundárias e à competitividade e inovação em setores e atividades mais ligados à economia circular;
– França – No Quadro de Medição da Economia Circular [10 indicadores, 7 pilares específicos] que, por sua vez, divide os indicadores pela gestão de resíduos, oferta dos stakeholders económicos e pela procura e comportamento dos consumidores.
– Flandres – Que apresenta indicadores “muito elaborados e de difícil quantificação” baseados no Plano da UE;
– País Basco – A primeira região europeia NUT II a adotar o Quadro da UE e a transpo-lo para uma escala regional, acrescentando-lhe um conjunto adicional de indicadores de circularidade.
A EY-Parthenon procedeu ainda a uma “análise do estado da arte em termos de medição da circularidade” com base num estudo da Agência Europeia do Ambiente (2016) tendo em vista “atualizar esse estado em alguns indicadores”. A Agência, na altura, procurou aferir a base da “ação da economia circular” em vertentes como os materiais e o eco-design onde ainda se verificam “limitações significativas”. Em adição, analisou-se um conjunto de iniciativas de entidades internacionais de relevância, como a Fundação Ellen MacArthur e o BCSD, que avançam “metodologias dirigidas especificamente às empresas” para a transição circular. Hermano Rodrigues sublinha o foco dado à temática do consumo na medida em que constitui uma “das áreas onde há maior lacuna na construção de indicadores de comportamento dos consumidores”.
“Os princípios da economia circular podem fazer toda a diferença”
A secretária de Estado do Ambiente, Inês dos Santos Costa, deixou uma mensagem – transmitida durante o evento – na qual congratulou a Lipor por ser “pioneira na elaboração deste trabalho”. Segundo a responsável, é preciso “aceitar que a economia não é uma ciência exata e a pandemia mostrou-nos isso de certa forma”, ou seja, a economia tal como cada um de nós está “sujeita a leis da física e biologia”.
Inês Costa recorda as palavras de William Nordhaus, Prémio Nobel da Economia por estudar a influência das alterações climáticas no desempenho do PIB global, de que “um aumento de temperatura entre 3º a 4º graus era ótimo do ponto de vista económico e que um aumento de 6º graus custaria apenas 8% do PIB a nível global”. Já do ponto de vista ambiental, “um aumento de 3º graus significaria que os sistemas naturais iriam colapsar e um aumento de 6º graus seria basicamente o fim da vida humana na Terra”, o que reflete a “dicotomia entre o desempenho traduzido pelo PIB e o que isso implica” que “nem sempre é evidente para as pessoas”.
A secretária de Estado do Ambiente defende que “a grande maioria dos economistas falha porque não sabe reconhecer que a economia é, na verdade, termodinâmica” e olha apenas para o “preço”. É preciso contemplar também as “externalidades ambientais de determinado investimento” como o custo dos resíduos produzidos e das emissões de gases com efeito de estufa.
No fundo, “temos forçosamente que pensar em instrumentos políticos que extravasam resíduos e energia” e de “atacar o modelo económico” no sentido que “os princípios da economia circular podem fazer toda a diferença”. Inês Costa conclui: “O que torna a visão da economia circular uma realidade é a possibilidade de ter uma economia mais justa e resiliente.”