“Assinalar 40 anos significa, hoje, mostrar a riqueza do Projeto que nunca parou de crescer em Investimentos, em atividade, em criação de Valor, em criação de postos de trabalho, cumprindo o desiderato das Autarquias Locais associadas de sermos um motor de Desenvolvimento regional, nacional e, atualmente, até internacional”. As palavras são de José Manuel Ribeiro, presidente da Lipor, no âmbito dos 40 anos da empresa.
Em entrevista à Ambiente Magazine, o responsável parece não ter dúvidas do contributo da Lipor ao longo destes 40 anos: “Tem sido muito mais um motor de desenvolvimento regional, do que uma simples gestora de resíduos em Alta”. No que ao “domínio da gestão de resíduos” diz respeito, estas quatro décadas ficam assim marcadas pela construção de um “Sistema Integrado” que envolve um “Centro de Triagem” e várias “Plataformas” para preparar os materiais, de modo a serem utilizados na Indústria da reciclagem; uma “Central de Valorização Orgânica” e “Plataformas de pré-preparação de resíduos verdes” e uma “Central de Valorização Energética”, que valoriza e transforma resíduos indiferenciados em eletricidade e sucatas ferrosas. Paralelamente, a “Educação e a Sensibilização Ambiental” são áreas que não ficaram esquecidas pela Lipor: “Dispomos de uma forte equipa muito especializada, uma Academia de Formação e valências nos domínios da I&D, das Políticas de Sustentabilidade, da promoção da Economia Circular e da descarbonização”, refere.
Sobre marcos da empresa, a Lipor orgulha-se de ter “recuperado todos os passivos ambientais (lixeiras/aterros), tornando-os importantes promotores de criação de biodiversidade e preparando-os para a fruição pelas populações”. Além disso, soma-se o cumprimento de uma missão que os autarcas fazem chegar à Lipor: “resolver o problema dos resíduos para, pelo menos, um horizonte de 25 anos”. José Manuel Ribeiro lembra ainda o ano 2008, que marcou o “início da estratégia e projetos de descarbonização” e o de 2015 onde se apostou na Investigação e Inovação, como “motores da alteração do atual Modelo de Negócio” da Lipor, que pretende “deixar de ser uma gestora de resíduos para se transformar numa produtora de produtos e numa prestadora de serviços especializados”.
Ao nível de desafios, o presidente da Lipor destaca os “baixos salários” como obstáculo à contratação de pessoas e à retenção de talentos: “São os desafios normais de uma Organização empresarial pública”. Outra barreira tem que ver com as “visões diferentes das que os planos nacionais têm traçado para o Setor, os PERSU”, bem com os “formatos de cooperação entre Sistemas” e os “entre estes e as Câmaras Municipais que servimos”, algo que “não tem ajudado aos crescimento e desenvolvimento do setor”. No combate a estes desafios, José Manuel Ribeiro refere que a Lipor tem procurado alavancar a sua atividade em “claras reflexões estratégicas”, que se traduzem em “Planos de Ação”, onde se procura “desenvolver o negócio dentro dos princípios” que considera os “mais importantes para solidificar o futuro”
[blockquote style=”2″]Uma “evolução errática” do setor… [/blockquote]
Na visão do presidente da Lipor, o setor cresceu de uma “forma errática” nos últimos 20 anos, pelo que os “Objetivos e Metas” que a Comissão Europeia definiu “nunca foram cumpridos”. Acresce o “perigo” da construção de instalações por volta do ano 2000: “Estão hoje obsoletas e falta o financiamento necessário para as renovar”.
Relativamente ao peso dos resíduos no país, o responsável refere que, tendo em conta os “Volumes de Negócio” que o setor atinge noutros países, constata-se que os valores em Portugal são muito baixos: “Dominam as operações de baixo valor, como a gestão de Aterros ou a recolha indiferenciada de resíduos”.
Ao nível de oportunidade, o presidente da Lipor é claro: “De uma vez por todas, o resíduo tem que ser encarado como um recurso, a Economia Circular entendida e posta em prática nos diferentes estádios da cadeia de valor dos resíduos”. Algo que também parece ser essencial é que a “massa cinzenta” da Engenharia veja nos resíduos uma oportunidade para substituir os resíduos naturais como matéria-prima: “São cada vez mais escassos”, considera. Para o responsável, as oportunidades são imensas: “É fundamental que o setor se industrialize, pois só assim criará valor e riqueza”.
Fazendo um balanço destes últimos anos, e tendo em conta a atuação do Governo e das empresas, José Manuel Ribeiro conclui que, tirando os primeiros anos do século, os últimos tempos têm sido de “estagnação” e no consequente não atingimento das metas definidas. Ao nível empresarial, o presidente da Lipor lamenta o facto do setor não ter mais e melhor tecido empresarial.