Limitar subida da temperatura global a 1,5ºC salvaria maior parte das espécies
A concretização do objetivo de limitar o aquecimento do planeta a 1,5 graus Celsius salvaria a maior parte das espécies animais e vegetais das consequências das alterações climáticas, conclui um estudo ontem divulgado e divulgado pela Lusa.
O trabalho liderado por investigadores da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, revela que limitar a subida da temperatura global ao valor fixado pelo Acordo de Paris, firmado em 2015, iria evitar metade dos riscos associados a um aquecimento de 2ºC para plantas e animais e dois terços dos riscos para os insetos.
Os benefícios de uma subida da temperatura limitada a 1,5ºC iriam sentir-se nas espécies em todo o mundo, mas especialmente naquelas do sul de África, Amazonas, Europa e Austrália.
Para os cientistas que colaboraram na pesquisa, publicada ontem na revista Science, diminuir o risco para os insetos é particularmente relevante já que são essenciais para “serviços do ecossistema”, como a polinização de sementes e flores, e são uma parte da cadeia alimentar de aves e outros animais, sendo, portanto, decisivos para os seres humanos.
Num estudo separado, Guy Midgley, especialista em alterações climáticas e seu impacto na biodiversidade, aponta no mesmo sentido ao referir que “o aquecimento em mais de 2ºC vai levar o mundo para uma situação que não acontece há vários milhões de anos”.
O investigador do departamento de Botânica e Zoologia da universidade Stellenbosch, na África do Sul, refere que altos níveis de aquecimento vão levar a uma simplificação ecológica sistémica, processo em que vários “derrotados climáticos” são substituídos por um menor número de “vencedores climáticos”.
“Se aumentarmos o dióxido de carbono para milhares de partes por milhão, nos próximos 50 a 60 anos, o que somos capazes de concretizar se falharmos a redução da dependência de combustíveis fósseis, voltaremos a um mundo de há 20 ou 30 milhões de anos, num espaço de um século. É como fazer os ecossistemas andarem para trás à velocidade da luz”, defendeu Guy Midgley.
Os investigadores da universidade britânica e da James Cook University, na Austrália, estudaram cerca de 115 mil espécies, incluindo 31 mil insetos, oito mil aves, 1,7 mil mamíferos, 1,8 mil répteis, mil anfíbios, e 71 mil plantas, sendo o mais abrangente estudo deste tipo.
O objetivo era “ver como as diferentes projeções de futuro climático tornam áreas incompatíveis com a vida das espécies”, explicou a coordenadora da investigação, Rachel Warren, da universidade de Anglia. Foram medidos os riscos para a biodiversidade contando o número de espécies que podem perder mais de metade da presença geográfica devido à mudança do clima.
“Concluímos que cumprir o objetivo do Acordo de Paris de limitar o aquecimento a 1,5ºC relativamente aos níveis pré-industriais, traria enormes benefícios para a biodiversidade, muito mais que o limite de 2ºC”, defendem os cientistas.
Os insetos são particularmente sensíveis às alterações climáticas, realçam, e, com uma subida de 2ºC, 18% dos 31 mil insetos estudados poderão reduzir em mais de metade a sua presença, mas com um aumento de 1,5ºC a diminuição seria de 6%.
Tendo em conta os atuais compromissos dos países para reduzirem as suas emissões de gases com efeito de estufa, que contribuem para as alterações do clima, a subida da temperatura média do planeta será de cerca de 3ºC. Com aquela perspetiva de subida, quase 50% dos insetos vão perder metade da sua presença na natureza.