O Governo vai criar um grupo de trabalho para definir o concurso de mais de 700 milhões de euros para a construção do cabo elétrico entre Portugal e Marrocos, prevendo lançá-lo “logo que estejam reunidas as condições”.
“Já estamos a trabalhar para ter um grupo de trabalho para lançar os termos de referência do concurso. O nosso objetivo é lançá-lo logo que estejam reunidas as condições”, afirmou à agência Lusa o secretário de Estado da Energia, Jorge Seguro Sanches. Falando após uma reunião de trabalho com representantes do executivo de Marrocos, na terça-feira, o governante admitiu que “ainda não existe prazo” para lançar o concurso, justificando ser “uma questão que não depende apenas do Governo português”. “Estamos a trabalhar no sentido de conseguir ter, dentro das melhores condições possíveis, a oportunidade política para o lançar”, acrescentou, falando em encontros entre os países para definir o modelo técnico a adotar.
No final de dezembro passado, o primeiro-ministro, António Costa, estimou que o projeto arrancasse no primeiro semestre deste ano.
Concluído está já um estudo relativo à viabilidade da construção deste cabo elétrico, que aponta para um investimento na ordem dos 735 milhões de euros para os dois países. De acordo com Jorge Seguro Sanches, o custo “será por aí”, já que tem conta o modelo técnico e financeiro usado na ligação edificada entre a Holanda e o Reino Unido, que rondou os 600 milhões de euros. Ainda assim, destacou que este investimento será compensado “pelo preço da energia que passa de um país para o outro”, num prazo entre 15 e 20 anos, segundo o estudo.
Questionado sobre a possibilidade de recorrer a fundos comunitários, o governante disse que o Governo está “aberto a todas as possibilidades […] para que a existência desta ligação seja uma realidade nos próximos tempos”, e notou que este é um projeto importante para a União Europeia e para os países do norte de África. O estudo revela que a ligação elétrica “tem benefícios para os produtores, para os consumidores e para a economia dos dois países”.
“O cabo não terá impacto sobre a fatura dos consumidores, ou seja, não terão de ser os consumidores a pagar o cabo e ele próprio se vai sustentar pela energia que vai passar de um país para o outro”, referiu Jorge Seguro Sanches. No plano técnico, o cabo – que deverá ligar a zona de Tavira, no Algarve, e a cidade marroquina de Tânger – permitirá a Portugal vender energia a Marrocos e também comprar.
O secretário de Estado da Energia apontou, assim, que o projeto se insere “numa prioridade muito grande ao nível estratégico que é a de o país estar mais ligado a outros países para que o potencial renovável possa ser colocado ao serviço de outras economias”, possibilitando ainda “comprar energia a preços mais baixos” sempre que necessário.
Esta vantagem também foi destacada pelo secretário-geral do Ministério da Energia de Marrocos, Abderrahim El Hafidi, que após a reunião disse à Lusa que esta ligação “é interessante para os dois países”, desde logo por criar “oportunidades para os consumidores escolherem a fonte de energia com menor custo”. Permitirá, ainda, “consolidar um mercado de energia regional”, realçou Abderrahim El Hafidi.