Foi publicado ontem, online, o primeiro Atlas das Aves Invernantes e Migradoras de Portugal. Com informação sobre a abundância e distribuição de mais de 300 espécies de aves em Portugal, o atlas será uma ferramenta fundamental para a gestão e conservação das aves selvagens portuguesas.
“Não será exagero afirmar que a maioria da comunidade ornitológica portuguesa participou neste atlas. É uma obra de que todos nos podemos orgulhar, e que vai certamente ficar como referência”, diz Domingos Leitão, diretor executivo da SPEA.
Para muitas espécies de ave europeias, a Península Ibérica é um importante refúgio de inverno. Para outras, é um posto de abastecimento vital nas suas longas viagens Norte-Sul. No entanto, não havia dados que permitissem avaliar como essas espécies utilizam o território nacional. Com base em mais de 4000 horas de trabalho de campo, o Atlas das Aves Invernantes e Migradoras de Portugal vem colmatar essa lacuna.
Um projeto que envolveu mais de 400 ornitólogos – amadores e profissionais – o Atlas das Aves Invernantes e Migradoras de Portugal é um compêndio de informação sobre ocorrência das aves no território nacional (incluindo Açores, Madeira e Selvagens) durante o outono e inverno.
No Atlas, a informação pode agora ser consultada livremente por investigadores e conservacionistas, que poderão usá-la como base para decisões na gestão e promoção do território e, acima de tudo, na conservação de aves. Disponível gratuitamente online, o Atlas é ainda um recurso para os amantes e observadores de aves.
Segundo os dados do Atlas, as zonas do país que albergam maior diversidade de aves durante o inverno são as rias, estuários e lagoas próximas da costa. Estes locais são também importantes para as aves aquáticas que migram pelo território continental português, e que dependem de uma vasta rede de zonas húmidas costeiras, desde o estuário do Minho a norte, passando pelo estuário do Tejo – a zona húmida mais importante do país – até ao estuário do Guadiana a sul. Já as aves planadoras como as aves de rapina, as cegonhas e os grous, fazem-se notar sobretudo no sul do país, em locais como a península de Sagres ou as serras algarvias. Estas aves acumulam-se aqui a caminho de Gibraltar, onde a travessia do Mediterrâneo é mais estreita.
Quanto às migrações sobre alto mar, as aves marinhas que passam na nossa costa têm diferentes padrões migratórios, umas ficando por águas lusas, outras apenas de passagem. Por fim, a Península Ibérica é também, no outono e no inverno, um íman para passeriformes e outras pequenas aves, que aqui encontram temperaturas mais amenas e uma abundância de insetos e bagas de que se alimentam. Nesta altura do ano, os matos mediterrânicos e os olivais enchem-se de tordos e toutinegras de Trás-os-Montes ao Algarve, a lezíria do Tejo e as planícies alentejanas sustentam grandes populações abibe, laverca e petinha-dos-prados, enquanto os montados fervilham com pombos-torcazes, piscos-de-peito-ruivo e tentilhões.
Este primeiro retrato global das aves que visitam o país nos meses mais frios é apenas um ponto de partida. Estudos futuros poderão comparar dados com estes e assim aferir como as espécies estão a reagir às alterações climáticas, a diferentes políticas agrícolas, e a projetos de conservação.
O Atlas das Aves Invernantes e Migradoras de Portugal foi produzido pelos parceiros: SPEA, LabOr- Laboratório de Ornitologia da Universidade de Évora, Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, Instituto das Florestas e Conservação da Natureza (Madeira), Secretaria Regional da Energia, Ambiente e Turismo (Açores), e Associação Portuguesa de Anilhadores de Aves.