Laboratório Nacional de Energia e Geologia, I.P.: “A importância das matérias-primas críticas”
Por Professora Teresa Ponce de Leão, Presidente do LNEG
A importância das matérias-primas críticas (MPC) é amplamente reconhecida pelo seu papel no desenvolvimento económico. Acresce que a sua importância na transição energética e digital obriga a medidas de garantia de abastecimento e não dependência de regiões geopolíticas hostis. Para que se cumpram os objectivos de desenvolvimento sustentável necessitamos de um abastecimento estável e sustentável.
O conceito de MPC e estratégicas tem o seu fundamento em serem recursos naturais fundamentais para a produção de uma ampla variedade de produtos industriais e tecnológicos, e recebem essa designação como referido devido à sua importância económica e ao risco associado à sua cadeia de abastecimento que em muitos casos provêm de um só país fora da UE. Para mitigar esses riscos, a UE, está a implementar estratégias para diversificar as fontes de MPC, promover a reciclagem e reutilização de materiais, e investir em investigação e desenvolvimento para encontrar alternativas e melhorar a eficiência do uso desses recursos.
As MPC incluem metais e minerais como lítio, cobalto, níquel, terras raras e tungsténio, entre outros e desempenham um papel crucial em diversas indústrias, desde o fabrico de dispositivos electrónicos até à produção de veículos eléctricos, dispositivos utilizados para gerar e armazenar energias renováveis, electrolizadores para a produção de hidrogénio verde entre outros.
Devido à sua importância estratégica e aos riscos associados ao seu fornecimento, as matérias-primas críticas são foco de políticas específicas de segurança de abastecimento onde se inclui regulamento “Critical Raw Materials Act” publicado em 24 de Maio passado.
Em Portugal, as matérias-primas críticas (MPC) desempenham um papel essencial em várias indústrias estratégicas e oferecem oportunidades de industrialização. Vejamos algumas oportunidades de industrialização.
O lítio é fundamental para a produção de baterias de iões de lítio, utilizadas em veículos elétricos e dispositivos eletrónicos portáteis. Portugal possui uma das maiores reservas de lítio da Europa. Estas baterias também são usadas em sistemas de armazenamento de energia renovável.
As terras raras são usadas na produção de componentes para smartphones, computadores, e outros dispositivos eletrónicos e para a produção de Ímanes de terras raras essenciais para a produção de geradores eólicos e motores de alta eficiência.
O cobalto é um componente chave nas baterias de iões de lítio, utilizadas em veículos elétricos e eletrónica de consumo. É ainda utilizado para melhorar a resistência e durabilidade do aço e outras ligas metálicas.
O níquel é essencial na produção de aço inoxidável, amplamente utilizado na construção civil e na indústria automóvel. Também é usado nalgumas baterias recarregáveis e sistemas de armazenamento de energia.
A grafite para além de outros usos aplicada como material de ânodo nas baterias de iões de lítio.
O tungsténio é usado na fabricação de ferramentas de alta dureza para corte e perfuração, essenciais para a indústria de manufatura e construção. Componentes de tungsténio são utilizados em ligas para melhorar a resistência ao calor e desgaste como na iluminação ou na indústria automóvel.
O cobre é utilizado em cabos elétricos, condutores, e componentes eletrónicos devido à sua excelente condutividade elétrica. Fundamental para a necessária expansão da rede eléctrica.
Estas matérias-primas críticas são fundamentais para o desenvolvimento tecnológico e industrial em Portugal, contribuindo para a sustentabilidade e inovação em diversas áreas. A utilização eficiente e estratégica destas matérias-primas permite ao país evoluir na transição energética e digital ao mesmo tempo que fortalece sua posição em setores industriais chave. Mas para termos sucesso implica nova regulação para agilizar os processos de prospecção, extracção, transformação, fabricação e reciclagem. É fundamental a definição de uma estratégia adequada à optimização de toda a cadeia de valor. Há ainda um ponto a não descurar. É fundamental discutir com as populações a mais valia destes recursos para a valorização do território revertendo a ideia de violação do espaço comum em criação de valor e riqueza para as populações.
Nota: A Autora não escreve conforme o Acordo Ortográfico em vigor. (O texto foi publicado na edição 106 da Ambiente Magazine)