Peças feitas à mão onde se promove o zero-waste e a preservação de técnicas tradicionais através da criação de tecidos diferenciados e altamente sustentáveis. Esta é premissa da J-ANT, uma marca slow-fashion, que procura distinguir-se pela oferta de peças exclusivas
À Ambiente Magazine, Jéssica António, fundadora da J-ANT, explica que tudo começou, em 2017 na Holanda, quando, na altura, tinha terminado a licenciatura em Fashion Design e surgiu um pedido para uma peça personalizada: “Foi essa primeira venda que me incentivou a posicionar como criativa para ganhar experiência e conhecimento na industria – utilizei o que tinha para colaborar com stylists e ganhar presença no press (Vogue UK, Kaltblut, Grazia NL), fazer parte de exposições (FASHIONCLASH, DDW), e desenvolver parcerias e projectos com outras marcas”.
Em 2019, regressa a Portugal e, em 2021, retoma ao desenvolvimento da marca com a convicção de fazer crescer um conceito diferenciador e sustentável: “A nossa produção é feita no nosso estúdio na Praia da Luz – Algarve e, a maior parte da nossa matéria prima são têxteis que se não fossem reutilizados teriam como destino o aterro em países menos desenvolvidos”. Por isso, a atividade da J-ANT assenta na “criação de peças zero-desperdício a partir de restos, dos quais aproveitamos todos os restos, até ao mais minúsculo retalho”. Também, “algumas criações são feitas a partir de vestuário segunda-mão que é desconstruído e alterado de formas distintas até termos um design adequado à nossa estética e conceito”, explica.
Dos produtos que oferecem ao mercado, Jéssica António refere que o foco está sempre nas “peças exclusivas” que, “normalmente, são muito trabalhadas em termos de técnicas e manipulação têxtil”. Para além disso, desenvolvem alguns acessórios: “cintos em crochet, malas e, este domingo, será lançado um choker exclusivo”.
Financiamento é um desafio
Um dos fatores diferenciadores da J-ANT é, precisamente, o foco no “zero-desperdício”, nas “técnicas artesanais”, na “qualidade”, e, acima de tudo, na “arte de conjugar tudo isto numa imagem tranquila, romântica e ao mesmo tempo cool”. Tal como refere a fundadora, a procura por “utilizar têxteis de origem natural e tons neutros” é outro fator que diferencia a marca: “Fazemos peças custom-made e damos a opção da peça ser devolvida um dia que o dono já não a queira para que possamos voltar a reutilizar os materiais em novas peças tanto de vestuário como acessórios ou obras de arte”.
Questionado sobre os desafios que dificultam uma marca a ser sustentável, Jéssica António destaca o financiamento como um entrave, no sentido em que “o desenvolvimento de cada peça é um processo longo”, traduzindo-se na demora em ver os resultados: “O facto da maioria das peças serem exclusivas por vezes torna-se desafiante, pois é mais complicado conseguir vendas de ‘maior’ quantidade a lojas que normalmente pedem stock consistente”.
Um dos grandes sonhos desta marca é “ganhar visibilidade e expandir os pontos de venda” nacionais e internacionais: “O sonho de vestir, recentemente, a Carolina Deslandes realizou-se, onde a cantora vestiu um fato feito exclusivamente com desperdício têxtil”. Para o médio-prazo, Jéssica António revela também o desejo de levar o tema do “desperdício no setor têxtil” às escolas: “Estamos a desenvolver algumas parcerias com escolas no âmbito de despertar a consciência em relação ao mundo têxtil”.