Portugal, recorrendo ao PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) e através do Fundo Ambiental, acaba de reforçar o Apoio a Edifícios Mais Sustentáveis, em 15 milhões de euros, incluído uma “nova categoria que visa a melhoria da eficiência energética e ambiental dos edifícios”, recorrendo a “materiais convencionais para isolamento”, como os “derivados de petróleo”, segundo o Portal da Construção Sustentável (PCS). Tal decisão, para o PCS, significa dar “um passo de gigante, mas para trás”, na imperativa corrida a um desenvolvimento mais sustentável: “Continuaremos a isolar os nossos edifícios com materiais baratos e altamente poluentes”.
No mesmo comunicado, o PCS lembra a importância de frisar que o ambiente construído é um dos mais poluentes: “Desde a extração de matérias-primas até ao fim de vida útil de um edifício, o setor da construção é responsável por mais de 40% das emissões poluentes; de gerar mais de 50% de resíduos; consumir cerca de 60% de recursos naturais e por gastar mais de 40% de energia, no mundo!” A questão é: “Como podemos tornar os nossos edifícios mais sustentáveis?”.
O PCS partilha algumas sugestões, lembrando que se deve começar pelo início, percorrendo depois todo o ciclo de vida um edifício:
- As matérias-primas tem de deixar de ser oriundas do petróleo! Todo o material proveniente deste combustível fóssil já poluiu o bastante. Não esquecer que o CO2 liberado durante a queima de petróleo é o principal responsável pelo aquecimento global. O dióxido de enxofre, um dos poluentes também libertados na mesma combustão, é a causa principal da chuva ácida. Além de que o transporte deste combustível é feito através de navios, com um risco enorme, pois quando por acidente há vazamentos e são libertadas substâncias tóxicas estas se misturadas com água, causam sérios impactes à vida aquática;
- A construção deve optar por pré-fabricados: a prefabricação de materiais de construção pode representar uma poupança de 80% de energia, já que a eficiência energética não se refere apenas ao funcionamento de um edifício, mas também ao uso e aplicação de recursos materiais. Os materiais convencionais e as técnicas tradicionais de construção são grandes consumidores de energia e geram resíduos sólidos que, na maioria das vezes, não são reciclados, como por exemplo, os materiais plásticos ou derivados de combustíveis fósseis. Construções modulares podem reduzir a produção de resíduos até 90%, (Waste & Resources Action Program) já que são realizadas em ambiente controlado;
- Isolar convenientemente os edifícios: edifícios mal isolados ou com materiais pouco duráveis, que não garantem o isolamento durante toda a vida útil de um edifício, não estão a contribuir para a sua eficiência energética, obrigando à instalação de equipamentos que consomem energia para climatização. Os isolamentos devem ser naturais e não provenientes de petróleo, por todas as razões já descritas. No nosso País já temos produção e bons aplicadores de outro tipo de isolamento que não os combustíveis fósseis, como por exemplo, as lãs e a cortiça;
- Isolar um edifício diz também respeito às caixilharias: optar sempre por materiais duráveis e, mais uma vez, não provenientes de petróleo. Estes, aplicados a caixilharias tendem a deteriorarem-se, a alterarem a sua forma com o tempo sendo, mais uma vez, altamente poluidores. Não só na extração de matéria-prima, como no fim de vida útil deles mesmos. Não há mercado que absorva tanto plástico para reciclagem;
- Construir a pensar na desconstrução: construir para desconstruir é o novo mote para uma construção mais sustentável. Se ao invés de aplicarmos colas e outro aglutinantes que dificultam a reciclagem e reutilização de materiais e optarmos por sistemas mecânicos de encaixe, estaremos a possibilitar novas vidas aos materiais quando o edifício atingir o seu fim de vida. É por isso que os projetos devem conter também as “instruções” de desconstrução;
- Reduzir, reutilizar, reciclar: para isso o edifício deve, no final da sua vida útil, ser desconstruído seletivamente. Todos os materiais devem ser separados por tipologias, os aptos a serem reutilizados e os aptos a serem reciclados. Só uma ínfima parte, senão nenhuma, deve ser considerada para aterro. Assim, contribui-se para a redução de fabricação de novos produtos, implicando a extração de novas matérias-primas e por aí fora.
Como nota final, Aline Guerreiro, CEO do PCS, lembra que “o planeta augura por um desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade tem mesmo de ser levada a sério”. Desta forma, “as nossas casas necessitam ser reabilitadas e isoladas convenientemente com recurso a materiais duráveis e amigos do ambiente, senão teremos, daqui a uns anos, as mesmas necessidades de reabilitação dos dias de hoje, em casas onde os portugueses continuarão a morrer de frio”, acrescenta.