O Instituto de Politécnico de Coimbra (IPC) acaba de obter a concessão de uma patente europeia para uma tecnologia inovadora na indústria corticeira, denominada “Pre-treatment process for liquid effluent for the cork stoper industry and effluent pre-treatment system”.

Segundo o líder da equipa de investigadores, prof. Luís Castro, do Instituto Superior de Engenharia do IPC, esta invenção consiste num “processo de pré-tratamento de efluentes líquidos resultantes da produção de rolhas de cortiça, mais concretamente para o tratamento do efluente gerado na lavagem das rolhas, operação comummente designada no sector corticeiro por lavação, que visa a limpeza, o despoeiramento, a desinfeção e, se necessário, o branqueamento das rolhas, preparando-as para as subsequentes fases de acabamento”.
“Este efluente caracteriza-se por apresentar uma elevada carga poluente, o que impede que possa ser descarregado na rede de saneamento em conformidade com os padrões de qualidade normalmente exigidos pela entidade gestora”, explica o investigador.
Assim, trata-se de um processo de pré-tratamento, em que o efluente bruto é sujeito a um tratamento químico, compreendendo sequencialmente as etapas de coagulação, neutralização, floculação e sedimentação, exclusivamente num único reator que opera como um SBR – sequential batch reactor e que pela sua compatibilidade e simplicidade é adequado a unidades industriais corticeiras de pequena dimensão que geram efluentes em volume inferior a 2m3 por dia, o que é aplicável a um número significativo de pequenas indústrias que caracterizam o sector corticeiro.
Esta solução permite obter o tratamento adequado, mas com menores custos de investimento e de operação, e menor necessidade de espaço, na medida em que todo o tratamento é realizado num único reator de forma automática. Desta forma, o processo promove a “simplicidade, funcionalidade e interatividade de operação do sistema, eliminando a intervenção humana no processo de tratamento do efluente da indústria rolheira, diminuindo as necessidades e despesas com energia elétrica de bombagem, arejamento e mistura, reduzindo, assim, o consumo energético e o custo associado ao tratamento dos efluentes”.
Posto isto, esta tecnologia poderá ser adotada por pequenas unidades industriais com dificuldade de acesso aos sistemas convencionais, contribuindo para a redução do impacto ambiental da atividade do setor.
E em que fase está o projeto? “Em termos de nível de maturidade pode considerar-se que esta tecnologia está num nível 7 da escala TLR –Technology Readiness Level.O projeto já foi estado em unidade piloto em ambiente semi-industrial e apresentou resultados perfeitamente satisfatórios que permitem garantir o cumprimento dos valores limite de descarga na rede de saneamento do efluente da lavação de rolhas”, afirma Luís Castro.
Esta tecnologia já tem uma patente europeia e para o investigador a importância deste marco, “para além do aspeto formal de proteger legalmente a invenção nos países europeus abrangidos, garantindo os direitos de exclusividade sobre a mesma, para os inventores é, sobretudo, o reconhecimento do trabalho desenvolvido, na medida em que a patente europeia constitui um selo de qualidade e inovação, reconhecido internacionalmente, que obviamente valoriza a invenção e poderá contribuir para lhe dar maior visibilidade, potenciando o aparecimento de interessados e parcerias que dinamizem a sua implementação”.
Agora que a invenção está protegida, pretende-se, com o apoio do INOPOL – Academia de Empreendedorismo do Politécnico de Coimbra, dar a conhecer ao setor, particularmente às empresas potencialmente utilizadoras da solução, para que as vantagens da invenção possam ser concretizadas e, assim, “contribuir para a sustentabilidade do setor corticeiro, que tem em Portugal o seu principal agente, na medida em que somos líderes mundiais na produção, transformação e exportação de produtos de cortiça”, conclui o professor.