Investigadores removem ratos e chorão das Berlengas
No âmbito do Dia Nacional da Conservação da Natureza, celebrado no dia 28 de julho, o programa Life Berlengas, revelou os principais resultados de um trabalho que dura já há três anos e está a proporcionar a oportunidade de o público ver, em tempo real, o desenvolvimento de uma cagarra bebé, na ilha da Berlenga, nascida no dia 17 de Julho.
Atualmente, a ilha conta com nova sinalética, trilhos recuperados e um novo Centro de Visitantes, com menos chorão e mais plantas nativas a crescer, com melhor informação sobre as aves marinhas que por ali se reproduzem e uma câmara online a filmar dia e noite um ninho de cagarra e outro de galheta, alternadamente.
Neste âmbito e ao longo de três anos,o arquipélago, situado ao largo de Peniche, foi alvo de vários trabalhos no terreno por parte de uma equipa liderada pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) em parceria com o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a Câmara Municipal de Peniche, a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH) e a Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar do Instituto Politécnico de Leiria (ESTM). O projeto é financiado pelo programa LIFE e pelo Fundo Biodiversidade.
O objetivo do projeto é compreender as principais ameaças que afetam os valores naturais das Berlengas, em terra e no mar, e definir estratégias para as minimizar e erradicar. Pretende-se ainda promover a utilização sustentável da ZPE das Ilhas Berlengas, focando três atividades chave: a pesca, atividades recreativas e turismo.
Entre as ações a destacar, está a remoção do rato-preto da ilha, uma espécie introduzida que foi causando impacto nas espécies nativas e desiquilíbrio do ecossistema. Esta importante ação do projeto pressupõe a continuação de uma monitorização e a implementação de medidas para garantir que a ilha permanecerá livre de roedores.
Outra das ações de relevo do projeto foi a remoção de mais de 50% do chorão que cobria a ilha (a área já removida é equivalente a quase 2 campos de futebol). O chorão, introduzido outrora pelo homem, cobria as encostas da ilha, travando assim o crescimento das plantas nativas. O resultado da remoção tem-se traduzido numa recuperação de espécies nativas como erva-vaqueira-ibérica ou a escrofulária. Esta ação tem envolvido dezenas de voluntários, de várias nacionalidades, sendo que já passaram mais de 150 pessoas pela Berlenga que têm contribuído para os resultados já alcançados.
Os pescadores são um dos grupos-alvo mais importantes com quem a equipa do projeto tem trabalhado. Foi com base nesse trabalho conjunto que foi possível colocar painéis de contraste nas redes de emalhar em 4 barcos de pesca, com o objetivo de reduzir a captura acidental de aves marinhas que é comum nesta área.
Mas ao longo destes 3 anos, surgiram também dificuldades, que felizmente foram sendo ultrapassadas. A forte oposição à ação de remoção das espécies exóticas, que chegou a envolver ações judiciais, foi uma das principais. Contudo, no final a decisão foi sempre favorável ao projeto, não tendo estes percalços causado atrasos na execução das ações em curso.
A taxa de visitação da ilha é também um problema com difícil resolução à vista. Em certos dias do verão são contabilizadas mais de 1000 pessoas na ilha o que pode trazer não só problemas de segurança devido à elevada concentração em alguns locais, mas também dificuldades na gestão de resíduos e saneamento.
De acordo com Joana Andrade, coordenadora do Life Berlengas, “este projeto tem revelado aspetos muito positivos, como a melhoria das condições de habitat para as espécies mais vulneráveis, o importante apoio dos vários agentes envolvidos na discussão do futuro e gestão desta área, a abertura dos pescadores para encontrar soluções para reduzirmos as capturas acidentais, e o fantástico trabalho de todos os parceiros do projeto, que tem sido fundamental para a boa execução do mesmo”.