Numa altura em que tanto se debate as grandes tendências globais no nosso planeta, tais como alterações climáticas, efeito de estufa, aumento médio da temperatura do ar e do mar, subida do nível do mar, aumento de eventos climáticos extremos como grandes secas, cheias ou ondas de calor, a grande pergunta que se coloca é: “Como se comportam os diferentes ecossistemas do nosso planeta?”
Uma equipa internacional de cientistas, onde se incluem os portugueses Miguel Pardal e Filipe Martinho, da Universidade de Coimbra (UC), desenvolveu um estudo para tentar responder a esta e outras questões, concluindo que mudanças locais na diversidade, por vezes, não acompanham as tendências globais.
De acordo com a faculdade, o estudo foi publicado na revista Nature Communications e juntou 60 investigadores europeus de cerca de 50 instituições. Em conjunto, analisaram mais de 150 séries temporais de biodiversidade (de 15 a 91 anos), abrangendo 6.200 espécies marinhas, terrestres e de água doce de 21 países da Europa, em diferentes biorregiões (de norte a sul), englobando diferentes grupos de organismos (insetos, peixes, aves, mamíferos, invertebrados marinhos, plâncton, etc.). Esta investigação terá um impacto no desenvolvimento de conceitos eficazes de conservação.
Os resultados revelam que as tendências locais de abundância, riqueza específica e diversidade diferem entre biogeorregiões, tipo de ecossistema, grupos taxonómicos (aves, mamíferos, peixes, insetos, invertebrados marinhos, plâncton), demonstrando que as “mudanças na biodiversidade à escala local são frequentemente fenómenos complexos e que não podem ser facilmente generalizados. No entanto, tal como previsto, ocorre um aumento na riqueza específica e abundância com o aumento da temperatura e com a diminuição de impacto humano em cada ecossistema, bem como um padrão espacial claro de mudanças na composição da comunidade (ou seja, rotatividade taxonómica temporal) na maioria das biogeorregiões”, indicam em comunicado Miguel Pardal e Filipe Martinho.
A tendência global no planeta e na Europa parece clara: durante anos, a diversidade de espécies entre quase todos os grupos de animais e plantas diminuiu a um ritmo alarmante. “No entanto, ao nível regional, o quadro é mais complexo – aqui, fatores locais, como a perda de espécies raras e o estabelecimento de novas espécies, desempenham um papel significativo nos resultados gerais. As funções do ecossistema, nomeadamente no que diz respeito a bens e serviços fornecidos, logo os benefícios associados aos seres humanos, estão sempre relacionadas com a respetiva abundância, número e diversidade de espécies em cada local, sendo muito difícil fazer uma generalização mais global”, explicam os investigadores do Centro de Ecologia Funcional da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC). Ou seja, “é essencial conhecer as diferentes tendências da biodiversidade em cada ecossistema e em cada local, para poder implementar medidas de proteção sustentáveis”, acrescentam.
A análise dos investigadores revela ainda que “em grandes áreas da Europa central e do sul, nem a diversidade de espécies nem o número de espécies e indivíduos sofreram alterações, enquanto no norte da Europa foi registado um aumento na diversidade e no número de espécies. Este último pode ser parcialmente atribuído ao aumento das temperaturas no curso das mudanças climáticas globais”.
Além disso, sublinham Miguel Pardal e Filipe Martinho, “em muitas partes da Europa, a fauna e a flora tradicionais estão a ser substituídas por novas espécies que geralmente são adaptadas às condições mais quentes”. Em relação a essa observação, os autores do estudo alertam que “a maioria das séries temporais começou antes da década de 1980, quando uma perda significativa de espécies já se tornara aparente. Por outro lado, as tendências podem diferir significativamente, dependendo do bioma e do grupo de organismos analisado (grupo taxonómico). Embora pudéssemos observar um aumento da biodiversidade nas áreas marinhas durante o período do estudo, esse não foi o caso nos rios. Em média, a diversidade de algas nas zonas costeiras diminui, enquanto as aves e os invertebrados aquáticos mostraram uma surpreendente tendência de aumento. Isso ilustra que as tendências nem sempre são as mesmas em espécies ou ecossistemas inteiros”.
Perante os resultados deste estudo, a equipa recomenda “uma expansão das séries temporais da biodiversidade e a padronização dos métodos de medição europeus nos diferentes habitats. Esta é a única maneira de desenvolvermos medidas de conservação significativas para cada região no que respeita à fauna e flora”, concluem.