Investigadores da UA sublinham que o Porto precisa de mais áreas verdes para combater ondas de calor
Para combater as ondas de calor cada vez mais frequentes, intensas e nefastas para o ambiente e a saúde humana, a cidade do Porto deve começar já a tomar medidas. É assim que os investigadores da Universidade de Aveiro (UA) já têm algumas ações propostas, como novas áreas verdes, expansão de jardins e parques já existentes e utilização de vegetação e plantas nos telhados e coberturas de edifícios”. A utilização de cores claras em telhados e pavimentos urbanos também “ajudará a refrescar a cidade”, referem no comunicado.
A investigação do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da UA começou por simular uma das intensas ondas de calor que se preveem que venham a assolar o Porto e arredores nas próximas décadas. “No Porto, tal como noutras regiões do país, já têm ocorrido várias ondas de calor que, com as alterações climáticas, é muito provável que venham a aumentar, até a breve prazo, quer em número quer em intensidade”, explica David Carvalho, autor do estudo a par do investigador Carlos Borrego, também do CESAM.
Atualmente a trabalhar no grupo de previsão e modelação meteorológica e atmosférica da NASA, David Carvalho alerta que estas ondas de calor podem afetar não só o meio ambiente como a saúde pública.
Para além do aumento da taxa de mortalidade, durante uma onda de calor “a exposição prolongada a temperaturas muito elevadas pode provocar muitos outros problemas de saúde, como desidratação ou insolações, ou ainda originar ou agravar problemas respiratórios”. No que ao meio ambiente diz respeito, “os impactos são também muito negativos, desde logo pelo aumento brutal do consumo de energia elétrica pelos aparelhos de ar condicionado e de climatização”.
Sob temperaturas elevadas, aponta David Carvalho, “a poluição atmosférica não é dispersa tão eficazmente e as cidades ficam encobertas sob um manto de poluição”. Para acrescentar a todos estes problemas, há ainda o da produção do ozono, um poluente altamente nocivo para a saúde da população e cujo aparecimento à superfície das cidades é favorecida por temperaturas elevadas.
Medidas de cor verde
Assim, para mitigar os efeitos das ondas de calor, a investigação de David Carvalho propõe a edificação de mais áreas verdes, a expansão de jardins e parques já existentes, o uso de vegetação e plantas nos telhados e coberturas de edifícios e o uso de cores claras não só no topo dos edifícios, mas também nos pavimentos urbanos. Se as áreas verdes ajudam a diminuir as temperaturas da cidade através das sombras e da capacidade de retirarem calor do ar, os pavimentos de cor clara refletem a radiação solar.
“Nas simulações que realizámos durante o estudo, todas estas medidas revelaram capacidades interessantes para baixar as temperaturas urbanas sob ondas de calor, particularmente a aposta em zonas e coberturas verdes”, aponta David Carvalho que clarifica: “estas medidas são capazes de reduzir as temperaturas urbanas em cerca de um ou dois graus celsius”.
Pode não parecer muito, mas na realidade, assegura o investigador, um ou dois graus celsius a menos “fazem uma diferença significativa no conforto térmico da população. Para além do conforto térmico, “estas medidas traduzem-se em melhorias na qualidade ar já que estudos anteriores mostraram que uma redução da temperatura do ar em um ou dois graus reduz a formação de ‘smog’ de ozono em 20 por cento, o que é muito significativo em termos de redução de poluição atmosférica”.
Estas medidas, que são realmente eficazes na mitigação de temperaturas extremas em meios urbanos, são de relativa fácil implementação e não implicam grandes custos, principalmente o uso de cores claras no revestimento de telhados e pavimentos urbanos”. Ou seja, “devem ser encaradas pelos agentes de poder local como verdadeiras soluções a pôr em prática no imediato, e não apenas como boas ideias”.