Investigação da UAlg estuda desencadeadores ambientais na Ria Formosa
Isabel Mendes, investigadora do Centro de Investigação Marinha e Ambiental (CIMA) da Universidade do Algarve (UAlg), em colaboração com Joachim Schönfeld, investigador do Centro Helmholtz para a Investigação dos Oceanos (Geomar), na Alemanha, acabam de publicar um artigo – “Environmental triggers of faunal changes revealed by benthic foraminiferal monitoring” – sobre os desencadeadores ambientais que levam a alterações nas faunas da Ria Formosa.
O objetivo do presente artigo é “aprofundar o conhecimento sobre o padrão de resposta dos foraminíferos bentónicos (micro-organismos que vivem no fundo do oceano sobre o sedimento ou dentro dele) às perturbações ambientais”, lê-se num comunicado. O estudo realizou-se com base na monitorização anual destes micro-organismos, que podem ser entendidos como uma espécie “ferramenta” em trabalhos de monotorização ambiental.
“A recolocação da barra do Ancão e a abertura de condutas no acesso à Praia de Faro, no inverno de 2015, desencadearam uma resposta rápida na abundância e densidade dos foraminíferos bentónicos, identificando-os como poderosos indicadores ambientais”, explica a investigadora, citada no comunicado divulgado pela UAlg.
A Ria Formosa tem sido intensamente estudada por investigadores da UAlg e despertado o interesse de muitos outros, quer a nível nacional, quer internacional mas, os foraminíferos têm sido esquecidos nos estudos biológicos nesta área. Todavia, este grupo de organismos merece especial atenção, já que desde o final do ano 2000 se têm tornado cada vez mais importantes como indicadores ambientais.
Os autores deste artigo demostraram que “os foraminíferos são indicadores muito sensíveis às perturbações ambientais e respondem mais rapidamente do que animais invertebrados maiores que vivem na mesma área”, precisa o comunicado.
Desde 2013, explica Isabel Mendes, “foi efetuada uma monitorização na área próxima à ponte de acesso à Praia de Faro, na zona da praia interna, junto ao Esteiro Ancão. Foi definido um transepto com 45 metros de comprimento, onde anualmente (entre o fim de abril e início de maio) foram efetuadas descrições pormenorizadas do local, que incluíram entre outros, a composição do sedimento, presença e identificação de organismos e efetuados levantamentos topográficos”. Neste perfil, refere a investigadora, “foram colhidas amostras de sedimento superficial, para análise das faunas de foraminíferos bentónicos e foram também efetuadas medições de temperatura da água, da salinidade, das correntes e os níveis de maré junto à área em questão”.
Este estudo demonstra que as intervenções feitas pelo homem na Ria Formosa, nomeadamente a recolocação da barra do Ancão e a abertura das condutas feitas no acesso à Praia de Faro, desencadeiam alterações nas faunas da Ria, nomeadamente na abundância e diversidade dos foraminíferos bentónicos, que são indicadores muito sensíveis às perturbações ambientais.
De acordo com a investigadora, “esta investigação torna-se muito relevante não só para a comunidade científica, mas também para gestores locais e público em geral, para aferir de forma rápida as variações ambientais e para estudos de monitorização mais precisos”.