Durante os últimos anos, são muitas as evidências do aumento da frequência de eventos extremos. Exemplos como a onda de calor de 2003 e aquela que ocorreu recentemente associada ao fogo florestal de Pedrógão Grande reforçam o cenário de risco associado à mudança climática. Uma investigação realizada por investigadores da Universidade de Aveiro (UA) concluiu que, nos próximos 100 anos, aumentam em cinco vezes o número de ondas de calor em toda a Península Ibérica e grande parte dos dias de verão serão dias de calor extremo. O estudo foi publicado na semana passada no International Journal of Climatology.
Susana Pereira, Martinho Marta-Almeida, Ana Cristina Carvalho e Alfredo Rocha, investigadores do Departamento de Física da UA, do laboratório associado CESAM – Centro de Estudos do Ambiente e do Mar, do Instituto Español de Oceanografia, e do SMHI/Swedish Meteorological and Hydrological Institute, recorreram a um modelo climático e simularam três períodos representativos de três climas: um histórico de referência (1986-2005), um futuro a médio prazo (2046-2065) e um outro para um futuro distante (2081-2100). Para os três climas, foram calculados os números de ondas de calor e analisaram-se as suas características nomeadamente, duração, intensidade e o fator de recuperação (diferença entre a temperatura máxima e mínima num dia de onda de calor).
Quando comparados os valores do clima atual e os valores do clima futuro (2081-2100) verifica-se que nesse futuro em toda a Península Ibérica ocorrerão cinco a seis ondas de calor por ano, representando cinco vezes mais do que atualmente, e que essas ondas de calor, que agora se mantêm por cinco dias em média por ano, passarão a prolongar-se até uma média de 40 a 50 dias. Isto significa que, em média, grande parte dos dias de verão serão dias de calor extremo.
O fator de recuperação durante um dia de onda de calor é medido considerando a temperatura mínima durante a noite desse dia. Este fator irá diminuir, o que significa que as pessoas terão mais dificuldade em recuperar durante a noite que se segue a um dia de onda de calor.
A propósito destes resultados, os autores do estudo referem que “o Acordo de Paris estabelece um aumento máximo da temperatura média global de 1.5ºC, relativamente ao período pré-industrial (1870), até 2100. A temperatura média global já aumentou 1.1ºC. Claramente que o Acordo de Paris será muito difícil de concretizar, sobretudo porque as taxas de aumento de temperatura estão também a aumentar. No entanto, é sempre fundamental implementar ações de mitigação no sentido de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa de forma a minimizar o aquecimento global”.