O número de internamentos por distúrbios mentais de residentes na Área Metropolitana de Lisboa sobe quando há um aumento das temperaturas acima dos 30 ºC, concluiu um estudo da Universidade de Coimbra.
O estudo, que analisou o número de internamentos por distúrbios mentais entre 2008 e 2014 de residentes da Área Metropolitana de Lisboa, identificou que há um aumento significativo de entradas nos hospitais quando as temperaturas são mais elevadas, sendo que as mulheres mostram-se mais vulneráveis a esta situação.
“A exposição a temperaturas elevadas deve ser considerada como um risco significativo de doença mental”, devendo esta problemática ser abordada pelas entidades responsáveis que poderão necessitar de reforçar a sua resposta quando há alertas de temperaturas elevadas, concluiu o estudo da Universidade de Coimbra, que tem como primeiro autor Ricardo Almendra, investigador do Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Coimbra.
Entre 2008 e 2014, foram registados 30.139 internamentos por distúrbios mentais (uma média de 12 por dia).
“O aumento de internamentos nos dias de temperaturas mais elevadas, como descoberto no estudo, é consistente com estudos anteriores que analisaram a relação entre a temperatura e doenças mentais em diferentes sítios com diferentes climas”, sublinha o estudo a que a agência Lusa teve acesso, apontando para exemplos em Inglaterra, China ou Canadá, ou para estudos nos Estados Unidos, Austrália e Vietname, onde também é identificado o risco aquando da presença de ondas de calor.
De acordo com as atuais previsões climáticas, “a probabilidade de temperaturas altas na Europa vai registar um aumento nos próximos anos, causando uma série de efeitos diretos e indiretos na saúde humana, incluindo um aumento da mortalidade associada ao calor. Neste contexto, tem que haver respostas de saúde pública adequadas e prontas para lidar com internamentos por doença mental relacionados com o calor”, vinca o estudo.
Os investigadores apontam para outros estudos que explicam que indivíduos com doenças mentais poderão estar mais vulneráveis aos efeitos de temperaturas extremas, devido à possibilidade da medicação psicotrópica e das próprias doenças psiquiátricas poderem afetar as funções termorregulatórias do corpo.
A equipa cita outro estudo que sugere que o aumento de vulnerabilidade com o calor pode estar associado também às variações da eletricidade atmosférica, nomeadamente as concentrações de iões no ar, o que pode interferir com a serotonina, substância que desempenha um papel no sistema nervoso.
Apesar de registar uma maior vulnerabilidade das mulheres ao risco de internamento com temperaturas elevadas, não foi identificado qualquer diferença significativa entre grupos etários.
O estudo nota também que é necessário mais investigação sobre esta área, nomeadamente para medir a vulnerabilidade de idosos ou para verificar se há diferenças relativamente às qualificações ou condições socioeconómicas dos indivíduos.
Para além de Ricardo Almendra, o estudo tem como autores os investigadores Adriana Loureiro, Giovani Silva, João Vasconcelos e Paula Santana.