Braga e Guimarães foram duas das cidades portuguesas selecionadas para a edição 2023-2025 do Desafio Cidades Inteligentes (Intelligent Cities Challenge – ICC), uma iniciativa da Comissão Europeia destinada a apoiar a transição verde e digital das cidades. Esta iniciativa foi projetada para abordar os desafios complexos do século XXI que visa ajudar as cidades a aproveitar o poder de tecnologias de ponta, enquanto melhora a competitividade económica, a resiliência social e a qualidade de vida dos cidadãos europeus. A Ambiente Magazine conversou com alguns responsáveis dos Municípios de Guimarães e de Braga sobre a importância desta distinção, os desafios para se afirmarem como “smart cities” e as metas estabelecidas para o curto e médio prazo. Esta é a segunda parte deste trabalho.
A “componente financeira” e os “investimentos significativos”
Quando questionados sobre os desafios no rumo a “smart city”, Hélder Costa, secretário Executivo para o Desenvolvimento Sustentável do Município de Braga, acredita que, na cidade de Braga, passarão pelos investimentos que serão sempre dedicados para implementar as tecnologias e infraestruturas inerentes a uma cidade inteligente. Por exemplo, a “própria integração dos sistemas de tecnologia onde teremos de garantir que esses sistemas funcionem de maneira coordenada e entre si, de modo a tornar uma cidade inteligente eficaz”, bem como “a privacidade, a gestão e a segurança de dados em que será necessário implementar medidas de segurança reforçadas” são alguns dos investimentos. O “planeamento dos vários recursos que Braga dispõe no que toca aos transportes públicos e na gestão de resíduos” e até “a própria participação dos cidadãos, porque é para melhorar a qualidade de vida deles que estamos a trabalhar para um futuro inteligente” e envolvendo-os “desde a primeira hora no processo de implementação dos projetos e garantir que os anseios e necessidades sejam considerados” estão também complementados.
Ainda assim, a participação de Braga no Intelligent Cities Challenge representa um “compromisso de longo prazo” com a transformação da cidade num ambiente urbano inteligente e sustentável. E, por isso, as perspetivas de longo prazo para a cidade incluem a Transformação Digital e Eficiência dos Serviços: “A cidade está comprometida em tornar-se um centro de inovação digital”. A sustentabilidade, com destaque para o objetivo de Braga reduzir sua pegada de carbono e melhorar a qualidade do ambiente “envolve a promoção de energias renováveis, a implementação de soluções inteligentes de gestão de resíduos, a criação de áreas verdes urbanas e a educação dos cidadãos sobre práticas sustentáveis”. Também a Mobilidade Sustentável e Inteligente, onde “temos a visão de sermos uma cidade líder em mobilidade sustentável” e que “envolve a expansão de redes de transporte público eficientes, a promoção do uso de veículos elétricos e compartilhados e a criação de infraestrutura de transporte inteligente que integre sistemas de gestão de tráfego e dados em tempo real para melhorar a mobilidade dos cidadãos” é algo com o qual o município se compromete. Apesar de serem soluções de longo prazo, Hélder Costa assegura que refletem o compromisso de Braga em “melhorar a qualidade de vida dos seus habitantes, promover a inovação e a sustentabilidade e posicionar-se como uma cidade inteligente e vibrante no cenário europeu e global”.
Também Paulo Lopes Silva, vereador dos Sistemas Inteligentes e de Informação da Câmara Municipal de Guimarães, destaca a “componente financeira” como um dos principais desafios que, associada à implementação de soluções tecnológicas, pode exigir “investimentos significativos” em infraestruturas. A “aceitação pública da tecnologia e das mudanças necessárias pela comunidade local” também pode ser um entrave: “Requer um maior esforço na consciencialização e educação e na coordenação de agentes da cidade, o que implica envolver e coordenar as várias partes interessadas, como a autarquia, as empresas, a academia e os cidadãos num ambiente sustentável, aludindo ao modelo de inovação de hélice quíntupla”. Por fim, as “questões de privacidade e segurança associadas ao uso de tecnologias inteligentes” também podem “levantar questões que precisam ser abordadas adequadamente em sede própria”, atenta.
No longo-prazo, o responsável não tem dúvidas de que Guimarães quer ser uma “cidade-líder em desenvolvimento urbano sustentável e inovação tecnológica”, com vista à “neutralidade carbónica”, através da “redução significativa das emissões de carbono, na criação de um ambiente urbano energeticamente eficiente, ecologicamente responsável e culturalmente relevante”. A cidade pretende “promover soluções de mobilidade urbana inteligente e sustentável, bem como o crescimento das indústrias culturais e criativas, enquanto desenvolve o turismo de forma inovadora e sustentável”, destaca, dando como exemplo, a recente construção de uma residência de estudantes no AvePark: “É um edifício “net-zero” que, para além dos materiais e das técnicas usadas na construção, possui meios de produção energética próprios e renováveis”, sucinta.
Por Cristiana Macedo. Este artigo foi publicado na íntegra na edição 102 da Ambiente Magazine.