Braga e Guimarães foram duas das cidades portuguesas selecionadas para a edição 2023-2025 do Desafio Cidades Inteligentes (Intelligent Cities Challenge – ICC), uma iniciativa da Comissão Europeia destinada a apoiar a transição verde e digital das cidades. Esta iniciativa foi projetada para abordar os desafios complexos do século XXI que visa ajudar as cidades a aproveitar o poder de tecnologias de ponta, enquanto melhora a competitividade económica, a resiliência social e a qualidade de vida dos cidadãos europeus. A Ambiente Magazine conversou com alguns responsáveis dos Municípios de Guimarães e de Braga sobre a importância desta distinção, os desafios para se afirmarem como “smart cities” e as metas estabelecidas para o curto e médio prazo. Esta é a primeira parte desse trabalho.
Depois de ter sido selecionada para o Desafio das Cidades Digitais (2018/2020) e, em 2019, para a primeira edição do programa I.C.C. (2020/2022), a Comissão Europeia reconheceu novamente o potencial de Guimarães e o seu compromisso com o desenvolvimento sustentável e a inovação: “Isso resultou na oportunidade de embarcar numa jornada de dois anos com o objetivo de criar uma estratégia impactante para tornar a cidade mais inteligente e inovadora”, começa por dizer Paulo Lopes Silva, vereador dos Sistemas Inteligentes e de Informação da Câmara Municipal de Guimarães, acrescentando que “serão desenvolvidas soluções inovadoras que posicionarão a cidade na vanguarda dupla da transição verde e digital, através de pactos verdes locais”.
Fazer parte desta iniciativa exige a entendimento dos cinco setores estratégicos e cruciais para o desenvolvimento de cidades inteligentes. É exemplo a área da construção, onde Guimarães procura “criar espaços urbanos vibrantes e inovadores que proporcionem qualidade de vida e bem-estar aos seus cidadãos”; as renováveis, com a cidade a estar “comprometida com a neutralidade carbónica até 2030, explorando novas e melhores fontes de energia renovável, bem como promover a eficiência energética como parte fundamental do desenvolvimento sustentável”; e a mobilidade e os transportes, que, através desta iniciativa, procura “implementar políticas de mobilidade urbana inovadoras, que defendam o uso de uma mobilidade mais inteligente e sustentável, emissora de menos poluição”, apostando em garantir “infraestruturas de qualidade para deslocar-se a pé e/ou de bicicleta no tecido urbano e nos acessos às estações ferroviárias e interfaces de transporte público”. A estas, somam-se também as indústrias Culturais e Criativas, onde “procuramos criar zonas de apoio à criação e aos artistas locais, promovendo a diversidade e criação cultural, atraindo turismo culturalmente enriquecedor”, e o turismo, enquanto oportunidade para “partilhar a história e cultura de Guimarães com os visitantes: “Através do ICC, planeamos desenvolver o turismo de forma inovadora e sustentável, preservando o património cultural e promovendo experiências autênticas para os visitantes”.
“Todo o município encontra-se altamente motivado para que, durante os próximos 24 meses, possamos continuar a desempenhar um papel ativo na rede do ICC
O Desafio Cidades Inteligentes é assim uma oportunidade importante para Guimarães liderar o caminho no desenvolvimento urbano sustentável e inovação tecnológica: “Todo o município encontra-se altamente motivado para que, durante os próximos 24 meses, possamos continuar a desempenhar um papel ativo na rede do ICC, reconhecendo o seu potencial para promover soluções sustentáveis de mobilidade/transporte, novos modelos de construção e de requalificação energética”. Considerando a “heterogeneidade do tecido económico vimaranense”, Paulo Lopes Silva não tem dúvidas de que “fazer parte desta iniciativa também significa promover o desenvolvimento de modelos diferenciadores para o comércio local e para as indústrias criativas”
“É motivo de muito orgulho e um sinal de que Braga está a convergir para uma cidade inteligente e moderna”
Braga também caminha no rumo das “smart cities”. Aliás, em 2021, foi eleita como Melhor Destino Europeu: “Estar na lista de 64 cidades europeias do Intelligent Cities Challenge é uma enorme responsabilidade, mas é, acima de tudo, o reconhecimento de um período que a cidade está a viver de grande abertura, de internacionalização e que tem vindo a ser dinamizado através de um ciclo focado no crescimento e no desenvolvimento da cidade”, afirma Hélder Costa, secretário Executivo para o Desenvolvimento Sustentável do Município de Braga, considerando tratar-se também de “uma prova do compromisso que temos em abraçar a inovação digital e alavancar a tecnologia para criar um ambiente urbano mais inteligente e sustentável”. A cidade de Braga, segundo o responsável, tem vindo a fazer progressos significativos em diversas áreas, tais como a “mobilidade inteligente”, a “energia sustentável”, a “limpeza urbana” e o “envolvimento dos cidadãos”. Por isso, fazer parte de uma “rede de cidades europeias que permitirá uma troca de ideias e práticas, partilha de conhecimento e a colaboração para os desafios mais comuns das nossas sociedades” é motivo de “muito orgulho e um sinal de que Braga está a convergir para uma cidade inteligente e moderna”, constata.
Desde a entrada de Braga no âmbito do Intelligent Cities Challenge, João Barros, adjunto do Vereador para a Smart City do Município de Braga, refere que são vários os projetos inovadores para promover a transformação numa cidade inteligente, como, por exemplo, o “Braga Resolve”, uma iniciativa que visa melhorar a eficiência dos serviços municipais por meio de digitalização e automação de processos: “Essa abordagem simplifica o acesso dos cidadãos a serviços públicos, agilizando a prestação de informações e a resolução de problemas”. Destaque também para a plataforma digital para uma melhor eficiência dos processos criada para consolidar e otimizar o fluxo de informações e recursos dentro do governo municipal, reduzindo a burocracia e aumentando a eficiência na gestão pública: “Isso pode incluir a digitalização de documentos, o uso de análise de dados para tomada de decisões e a integração de sistemas para uma administração mais eficaz”, refere. A isto, soma-se o estabelecimento de uma cooperação internacional no âmbito das smart cities e mobilidade com a cidade de Taoyuan, em Taiwan, por meio da plataforma da UE ICP-AGIR: “Essa colaboração envolve a troca de conhecimento e experiência para abordar desafios comuns relacionados à mobilidade urbana, infraestrutura inteligente e sustentabilidade ambiental e visa promover o desenvolvimento de soluções inovadoras para melhorar a qualidade de vida dos habitantes de ambas as cidades, aproveitando as melhores práticas e tecnologias disponíveis”. Todos estes projetos demonstram o compromisso de Braga em tornar-se uma cidade inteligente, usando a tecnologia e a colaboração internacional para “melhorar a vida dos cidadãos e enfrentar os desafios urbanos do século XXI”, afirma.
“Uma das ideias consiste na criação de uma aplicação que apresente o impacto dos eventos, fenómenos meteorológicos extremos, o tráfego, o transporte público ou a limpeza urbana”
Sobre os planos para o futuro, João Barros assegura que os mesmos estão já delineados, esperando-se a criação de serviços que, com base em dados, possam ser úteis para autarcas e cidadãos: “Uma das ideias consiste na criação de uma aplicação que apresente o impacto dos eventos, fenómenos meteorológicos extremos, o tráfego, o transporte público ou a limpeza urbana”. Além disso, pretende-se “disponibilizar, sempre que possível, dados abertos, dando a outros agentes a oportunidade de criarem serviços e produtos”, bem como a “centralização num único lugar de todo o conjunto de aplicações que Braga já dispõe ao público”, como o “Braga Resolve”.
Já do lado de Guimarães, visto que a cidade já esteve integrada na primeira edição do ICC 2019-2022 e já concretizou vários dos projetos, Paulo Lopes Silva destaca desde logo iniciativas como a “expansão da infraestrutura digital e serviços”, a aposta em “soluções de estacionamento inteligente”, na “monitorização de Tráfego”, em “Redes de Energia Sustentável e Inteligente a criação de EcoDizigens (cidadãos ecológicos e digitais)”, a “Monitorização e Promoção da Qualidade Ambiental”, a “Academia Digital” ou o “Programa de Orientação Profissional”.
Sobre metas, o responsável adianta que, até 2025, a Câmara Municipal espera ter “100% de Serviços Municipais Digitalizados”, o que envolverá a “automação de processos, a criação de portais e aplicações para acesso online aos serviços”, bem como a “migração de documentos e procedimentos para plataformas digitais”. O objetivo é “tornar os serviços municipais mais eficientes e acessíveis aos cidadãos por meio da tecnologia”, aponta. Além disso, pretende-se “obter uma certificação de Turismo Sustentável para a região”, o que implica “adotar práticas de turismo que promovam a preservação ambiental, o respeito pela cultura local e o desenvolvimento socioeconómico da comunidade”. A implementação do “Bairro C como Bairro de Carbono Zero, transformando-o num exemplo de sustentabilidade ambiental através da implementação de políticas e projetos que reduzam as emissões de gases de efeito estufa, como a promoção de transportes públicos sustentáveis, a instalação de energia renovável e a educação ambiental”, é outra das metas, bem como a “Gestão Inteligente do Território com Base nos Dados, de forma a gerir o território de forma mais eficaz e facilitar a tomada de decisão mais informada e a melhorar a qualidade de vida dos cidadãos”, adianta.
Por Cristiana Macedo. Este trabalho foi publicado na íntegra na edição 102 da Ambiente Magazine.