Os biorresíduos estão por todo o lado: nas sobras das refeições, cascas de fruta, legumes, ossos, espinhas e até guardanapos e borras de café. Mas apesar de constituírem, em média, quase 37% do caixote do lixo da maioria das habitações, a separação de biorresíduos ainda não é um hábito, apesar das suas vantagens para o ambiente. Desde sempre com uma estratégia orientada para a sustentabilidade, a Infralobo, empresa municipal do concelho de Loulé, lançou um novo serviço que vai permitir aos moradores separar em casa, sem custos, os seus resíduos orgânicos.
O projeto, que arrancou em junho e terá uma segunda fase em outubro, vai abranger mais de 3.000 famílias, com a entrega de centenas de kits para compostagem que visam motivar os residentes daquele território do litoral algarvio a incorporar esta rotina no seu dia-a-dia. O kit contém um pequeno contentor de 7 litros para acondicionar os biorresíduos, que são depois depositados nos novos contentores de cor castanha instalados no resort. O contentor doméstico possui um chip para abrir automaticamente o contentor de rua, para que os biorresíduos sejam depois encaminhados para um centro de compostagem.
A separação e recolha seletiva de biorresíduos é uma ferramenta essencial para reduzir a quantidade de resíduos destinados a aterros sanitários e incineração, transformando-os em recursos renováveis, pelo que é essencial que os cidadãos se envolvam neste projeto. Segundo o CEO da Infralobo, Carlos Manso, a empresa pretende recolher cerca de 100 toneladas de biorresíduos no primeiro ano. “Temos como visão as vantagens da recolha seletiva de biorresíduos, que permite reduzir o volume dos resíduos depositados em aterro, promovendo a agricultura sustentável e a produção de energia renovável, contribuindo, assim, para a ambição do país para a neutralidade carbónica, tentando a Infralobo cumprir com a sua cota parte para esse objetivo”, refere.
Portugal tem até dezembro para operacionalizar a recolha seletiva de biorresíduos e o seu tratamento em separado, desde que em 2020 um decreto-lei estabeleceu a obrigatoriedade da recolha seletiva de biorresíduos pelos municípios e a proibição de misturá-los aos orgânicos provenientes da recolha indiferenciada. No entanto, o caminho para atingir essa meta pode revelar-se difícil, cabendo às entidades locais um papel fundamental na sensibilização das populações.
“Devido à enorme falta de consciencialização e na ausência de campanhas de sensibilização de âmbito nacional, terão as entidades que gerem os territórios de promover essa consciencialização. Contudo, as metas ambiciosas a que Portugal se propôs apenas poderão ser atingidas se, a nível nacional, todos os intervenientes contribuírem. De nada serve algumas entidades gestoras cumprirem o seu papel, se a maioria ou os mais relevantes não o fizerem. Acreditamos, que na nossa área de intervenção este processo esteja devidamente implementado até ao final do corrente ano e estamos expectantes para aferir dos resultados”, afirma Carlos Manso.
Por outro lado, o facto de a maioria dos residentes no território gerido pela Infralobo estarem mais concentrados na época de verão, traz desafios acrescidos para o processo de implementação da recolha seletiva de biorresíduos. “Como é obvio, prevemos algumas dificuldades. Desde logo, os custos operacionais e a falta de atividades educativas de consciencialização e comunicação a nível nacional que sensibilizem as populações locais, assim como a elevada sazonalidade existente na nossa área de intervenção, que nos trará desafios na operação e sensibilização da importância da separação dos biorresíduos”, sublinha.
Os biorresíduos, onde se incluem também os resíduos verdes de jardins, podem ser transformados em adubo ou fertilizante natural, através da compostagem, originando o composto. Esse produto pode ser usado como adubo orgânico na agricultura, jardinagem ou em hortas comunitárias. Entre as vantagens da compostagem está a diminuição da emissão de gases de efeito de estufa, ao evitar-se a decomposição de resíduos orgânicos em aterros sanitários, e a redução da dependência de fertilizantes químicos para o solo e as plantas, o que evita a utilização de substâncias nocivas ao meio ambiente e à saúde.
Este artigo foi incluído na edição 100 da Ambiente Magazine