As alterações climáticas e o aquecimento global podem ser menos prejudiciais e rápidas do que o anunciado e a intervenção humana teve e terá pouca relevância, admite a climatologista norte-americana Judith Curry num livro hoje publicado.
Climatologista com 40 anos de investigação e experiência, vários prémios internacionais e colaboração com a NASA, Judith Curry já fez parte do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla original) mas vê hoje o organismo da ONU com desconfiança e diz que hoje uma hipótese (aquecimento global causado pelo homem) passou a teoria dominante, proibindo outras hipóteses e prejudicando a investigação, refere a agência Lusa.
“Alterações climáticas, o que sabemos, o que não sabemos” é o nome do livro, a partir de hoje à venda em edição bilingue e em todo o país pela mão da editora “Guerra e Paz”. “E na imprevisibilidade do clima o que não sabemos é infinitamente maior”, diz a escritora.
Judith Curry, que integrou o IPCC até 2010 e que nos últimos anos critica o pensamento de grupo e a construção forçada de consensos na instituição, contesta a ideia de que seja a ação humana a principal causa do aquecimento global.
É verdade, diz no livro, que a temperatura do planeta tem vindo a aumentar. É verdade também que a ação humana lança dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera e que este tem efeitos no aquecimento do planeta. Mas já não será tão verdade que o aquecimento seja dominado pelo fator humano, que se possa prever quanto é que o planeta vai aquecer, que se possa dizer o quanto isso é perigoso, ou que se possa dizer que reduzir drasticamente as emissões de CO2 faz parar o aquecimento.
Judith Curry, presidente do “Climate Forecast Applications Network”, insiste no livro que faltam informações para que se possa entender a variabilidade climática, diz que há um esforço no consenso de que o ser humano causou as alterações climáticas, e frisa que não há provas suficientes de tal. Mas também não há provas, diz, de que um aumento das temperaturas superior a dois graus (número que tem servido de meta para os cientistas) seja catastrófico.
Os dois graus “são usados para motivar a urgência das ações para reduzir as emissões de CO2”. E quando se diz que é agora que o ser humano tem de agir a autora responde no livro que “a janela de oportunidade pode permanecer aberta por um período de tempo considerável”, além de que há estudos que indicam que o aumento de dois graus não acontece neste século.
“Entre as maiores preocupações sobre as alterações climáticas estão os seus impactos em eventos extremos como cheias, secas, ondas de calor, incêndios florestais e furacões. No entanto, são poucas as provas de que o recente aquecimento tenha agravado tais eventos”, diz a autora, referindo que na década de 1930 a seca e o calor atingiram valores recorde em algumas zonas dos Estados Unidos.
Em resumo, diz, muitos eventos meteorológicos extremos fazem parte da variabilidade climática natural. Mas a reação a ameaças catastróficas pode causar mais danos do que benefícios, avisa a climatologista.
E acrescenta: “É possível que algo verdadeiramente perigoso e imprevisível possa acontecer com o clima da Terra durante o século XXI? Sim, é possível, mas a variabilidade natural do clima (incluindo processos geológicos) poderá ser uma fonte mais provável de possíveis alterações indesejáveis do que o aquecimento causado pelo Homem. Em qualquer caso, tentar evitar um clima tão perigoso e imprevisível através da redução das emissões de combustíveis fósseis será inútil se o clima natural e os processos geológicos forem fatores dominantes”.
No entender da climatologista, mesmo que as emissões de CO2 parassem todas agora o impacto no clima só seria percetível no final do século e benefícios só seriam sentidos no século XXII. “A tentativa de usar o dióxido de carbono como botão de controlo para regular o clima em escalas temporais de décadas a séculos é provavelmente inútil”, avisa, acrescentando que tal não quer dizer que não faz sentido abandonar os combustíveis fósseis.
O que não faz sentido é uma ameaça futura de alterações climáticas provocadas pelo Homem, “que não parece ser existencial” no século XXI, “mesmo na sua encarnação mais alarmante”. Mas a verdade, diz ainda, é que ver essas alterações como “o apocalipse a curto prazo”, alinhado com outros objetivos sociais, estreita as opções das políticas que os países estão dispostos a considerar.