INE: algumas explorações no Alentejo não têm água suficiente para vinha e olival
As condições meteorológicas permitiram a realização dos trabalhos agrícolas, mas em algumas explorações a água disponível é insuficiente para as necessidades de culturas no Alentejo, como vinha e olival, ou para dar de beber aos animais, refere o INE. O estado do tempo em julho permitiu que “todos os trabalhos agrícolas se realizassem sem problemas, tendo ainda beneficiado o desenvolvimento da maioria das culturas de regadio”, aponta o Instituto Nacional de Estatística (INE), nas previsões agrícolas hoje divulgadas.
No entanto, realça, “verificaram-se situações em que os recursos hídricos disponíveis nas explorações são manifestamente insuficientes para fazer face às necessidades das culturas, nomeadamente no caso de vinhas e olivais no Alentejo”, os quais em regime de sequeiro também apresentam já sintomas de stress hídrico.
O INE dá ainda conta de um acréscimo de explorações sem capacidade de satisfazer, com os recursos próprios, as necessidades de abeberamento dos animais. Por isso, é “cada vez mais frequente o transporte de água a partir de reservas de água pública, a realização de novas captações de água e a instalação de sistemas de energia e de bombagem de reforço nas captações existentes, situações que acarretam um aumento dos custos e dificultam o maneio dos efetivos”, explica.
Relativamente ao alimento para os animais, o INE refere que, com a muito reduzida precipitação nos últimos meses, o fim de ciclo dos prados e pastagens de sequeiro foi antecipado, sem regeneração, registando-se uma produção de matéria verde “bastante abaixo do normal”.
Esta situação levou a um “intenso e antecipado” recurso aos agostadouros, ou seja, ao restolho que fica no campo depois da ceifa dos cereais, que serve de pasto aos animais em agosto, assim como ao consumo de alimentos produzidos e guardados na exploração, para suprir as necessidades alimentares dos animais no inverno, ou adquiridos “a preços que, face ao aumento da procura, têm aumentado para valores acima dos praticados na campanha anterior”, relata o INE.
No final de julho, o teor de água no solo, em relação à capacidade de água utilizável pelas plantas, diminuiu em quase todo o território, principalmente nas regiões do Alentejo e Algarve, para valores inferiores a 20%, segundo o INE.
O mês de julho caraterizou-se, em termos meteorológicos, como quente e seco, com a temperatura média do ar a apresentar um desvio positivo de 0,6ºC face à normal, e tendo-se registado uma onda de calor entre os dias 11 e 18 nas regiões do interior. Em relação à precipitação, foi pouco mais de um terço da normal (período 1971-2000). Quase 79% de Portugal continental encontrava-se em julho em situação de seca severa e extrema, segundo o boletim climatológico do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que caracterizou aquele mês como “quente e muito seco”.
Em 19 de julho, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) defendeu que o Governo deve pedir a ajuda do Fundo Europeu de Solidariedade também para responder aos prejuízos causados pela seca, além da candidatura já avançada para os incêndios.
Entretanto, em 07 de agosto, o Governo garantiu ter medidas de apoio aos agricultores afetados pela seca, como pagamento antecipado de apoios, autorização para animais pastarem em áreas interditas e reabertura de candidaturas para captação de água para o gado.
O Ministério afirmou já ter determinado ao Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP) a antecipação do pagamento de cerca de 400 milhões de euros para a segunda quinzena de outubro, prazo mais curto autorizado pela regulamentação comunitária.
E o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, disse no domingo, que a atividade agrícola pode decorrer “com alguma normalidade” apesar da seca, ainda que este esteja a ser um ano “particularmente difícil” para a pecuária.