Indústria e Ambiente: uma ligação (cada vez mais) provável
Conciliar a indústria e ambiente é, atualmente, uma premissa para assegurar a competitividade de qualquer negócio. A exigência tem sido cada vez maior e, por isso, a mudança para um modelo circular é tão importante para alcançar a desejada neutralidade carbónica até 2050. Entrevistamos três players para perceber o nível de atuação de cada um no rumo à neutralidade.
Manter a indústria nacional de cimento viável, competitiva e promover a sua contribuição para uma sociedade mais sustentável e justa é a grande prioridade da ATIC (Associação Técnica da Indústria de Cimento) e associadas CIMPOR e SECIL. Mas, sendo esta uma indústria com grandes impactos ambientais, os esforços centram-se na “utilização mais eficiente de recursos”, no “upgrade de equipamentos” e no “desenvolvimento de produtos mais sustentáveis”. Luís Fernandes, presidente do Conselho Executivo da ATIC e CEO da CIMPOR Portugal e Cabo Verde, destaca que os investimentos estão focados na “redução de emissões de CO2”, em “I&D na tecnologia de captura, utilização e armazenamento de CO2 – CCUS”, na “melhoria da eficiência energética” e na “substituição de clínquer por adições no cimento”.
“Urge assegurar matérias-primas, energia renovável abundante e barata e a utilização de combustíveis alternativos e garantir a competitividade da indústria nacional face a concorrentes de países terceiros”, frisa o dirigente, que acredita que “novas normas e promoção de produtos mais sustentáveis pela administração nacional” serão fulcrais. “O nosso compromisso para a descarbonização é claro, mas o sucesso também dependerá de um enquadramento regulatório e fiscal adequado”. Mesmo com os entraves que ainda existem, já há avanços: “Desde 1990, reduzimos em mais de 14% as emissões de CO2 por tonelada de cimento”.
[blockquote style=”1″]Acelerar a transição digital das empresas[/blockquote]
Do lado agroalimentar, a neutralidade carbónica é também um objetivo já definido: “Temos vindo a delinear estratégias, que possam mitigar as emissões de carbono, alinhando-se com as propostas do Acordo de Paris e do Pacto Ecológico Europeu”, afirma Teresa Carvalho, Coordinator da PortugalFoods. A responsável não tem dúvidas de que as empresas “perceberam que comunicar a atividade como neutra em carbono ou caminhando para essa neutralidade, é uma vantagem competitiva no mercado global”. Nesse caminho, as empresas aliam-se às “entidades do sistema científico e tecnológico” para seguir “linhas de investigação” em direção a esse objetivo da neutralidade.
A PortugalFoods tem feito um trabalho de sensibilização junto dos vários players, resultando em oportunidades que favorecem a descarbonização como a recente candidatura à Rede de Polos de Inovação Digital, liderada pela CAP e um conjunto alargado de parceiros. A associação é também responsável pela organização do “Prémio ECOTROPHELIA Portugal”, que pretende “estimular os jovens universitários a desenvolverem produtos alimentares eco-inovadores”.
Dos desafios que o setor enfrenta, Teresa Carvalho destaca a “mudança de comportamento do consumidor”, o “custo das matérias-primas e os constrangimentos associados às políticas comerciais”. Nos próximos dez anos, a perspetiva é de uma indústria mais responsável, automatizada e digital: “O estilo de vida agitado e a procura por alimentos com benefícios e produzidos de forma responsável é algo que motivará a oferta”.
[blockquote style=”1″]Responsável e comprometida com a redução do seu impacto e pegada ambiental[/blockquote]
Relativamente ao têxtil e vestuário, Mário Jorge Machado, presidente da ATP (Associação Têxtil E Vestuário De Portugal), considera que o impacto desta indústria no ambiente é muito diverso, fazendo esforços para “evitar rótulos que podem prejudicar empresas que têm sido líderes na sustentabilidade”. Em Portugal, esta é uma indústria “responsável” e “comprometida com a redução da sua pegada ambiental” e que vai muito “além das exigências da legislação nacional e comunitária”, obrigando a uma “eficiência crescente dos recursos. Há um número cada vez mais significativo de empresas que utilizam energia proveniente de fontes renováveis”, exemplifica. Outras empresas são já pioneiras no desenvolvimento de soluções inovadoras e premiadas, promovendo, até “simbioses” com outras indústrias.
Contudo, há desafios: “Um deles está relacionado com a economia circular e com a recolha seletiva de resíduos têxteis, no final do seu ciclo de vida”. Para o presidente da ATP, o vestuário é um “produto complexo”, sendo “essencial desenvolver tecnologias e metodologias eficientes e competitivas que consigam dar resposta e que não comprometam a qualidade da matéria-prima gerada”.
No rumo à neutralidade, o presidente da ATP defende que a União Europeia deve exercer o seu papel de líder mundial, impondo medidas aos parceiros para caminhar “em prol da defesa do ambiente”. Do lado da ATP, há um objetivo: “Que a indústria têxtil e de vestuário portuguesa seja líder na sustentabilidade ambiental, social e económica nos próximos anos”.
*Este artigo foi publicado na edição 89 da Ambiente Magazine