A nível mundial, as empresas do setor industrial têm vindo a estabelecer metas ambiciosas em matéria de sustentabilidade para a próxima década: “20% quer descarbonizar totalmente as suas operações e 40% quer ter operações 100% renováveis até 2030”. Esta é uma das principais conclusões do novo “Sustainable Operations” do Capgemini Research Institute.
O estudo, segundo um comunicado divulgado pela Capgemini, revela ainda que apenas 51% dos fabricantes em todo o mundo tem os objetivos estabelecidos pelo Acordo de Paris, para travar o aquecimento global, integrados nas suas estratégias e programas: a Alemanha (68%) e a França (67%) lideram a lista dos países alinhados com estas metas.
As conclusões do estudo dão ainda nota que as empresas do setor industrial confiam na tecnologia para garantirem a execução das suas agendas de sustentabilidade: “mais de metade das empresas (56%) dá prioridade à implementação de tecnologias digitais para este fim”.
O lançamento de iniciativas sustentáveis permite também às empresas compreenderem melhor quais os impactos positivos que estas podem gerar: “89% das empresas que implementaram práticas de produção sustentável reportaram ter melhorado a reputação das suas marcas e a sua classificação ESG (81%)”. Paralelamente, “79% destas empresas revelaram que se tornaram mais eficientes e que aumentaram a sua produtividade, sendo ainda que mais de metade reduziram os custos afetos às embalagens e incrementaram os níveis de motivação dos seus colaboradores”. Além disso, o estudo afirma ainda que, em resultado da implementação das práticas sustentáveis,”9 em cada 10 empresas obtiveram uma redução do desperdício (98%) e diminuíram as emissões de gases com efeito de estufa (94%)” as suas duas principais prioridades.
Não obstante estas elevadas ambições, o estudo indica que apenas algumas destas empresas estão no caminho certo para se tornarem sustentáveis. Aliás, o setor industrial não tem uma abordagem abrangente sobre a sustentabilidade, e a evolução das práticas sustentáveis continua a ser incipiente: “só 10% das organizações tem uma abordagem holística à produção sustentável”, lê-se no comunicado. De acordo com o estudo, os setores com os melhores níveis de desempenho nesta matéria são o dos bens de consumo (15 %), seguido pelo dos bens industriais (11%) e pelo automóvel (10%).
Além disso, “só 11% das iniciativas de desenvolvimento sustentável são ativamente implementadas de forma transversal dentro das empresas abrangendo toda a sua atividade”, e apenas “uma em cada cinco concorda que a perspetiva da sustentabilidade está totalmente integrada na sua estratégia de produção”. Por outro lado, “só 38% das organizações dá prioridade às emissões de Scope 1 (emissões diretas que as empresas detêm ou controlam)”, mas são “ainda menos as que estão focadas no Scope 2 (emissões indiretas como a produção da eletricidade utilizada pela organização) e no Scope 3 (todas as outras emissões indiretas que ocorrem na cadeia de valor das empresas)”. Os outros aspetos potenciadores das emissões de carbono indiretas que estão para além dos seus processos internos são simplesmente negligenciados.
De acordo com Corinne Jouanny, chief Innovation Scaling Officer, da Capgemini Engineering, “há um paradoxo evidente entre o facto de apenas 11% dos programas de sustentabilidade ambiental estarem a ser ativamente aplicados de forma transversal nas empresas e os extraordinários benefícios de que usufruem as organizações que já os adotaram”. A responsável constata que “a tecnologia e os dados são vitais para garantir a eficácia do esforço de desenvolvimento sustentável do sector industrial. Estamos a assistir a um aumento dos investimentos em tecnologias digitais por parte das empresas deste setor, que estão a formar parcerias com empresas tecnológicas já estabelecidas e com startups para desenvolverem ainda mais as suas soluções sustentáveis. Desta forma, as empresas do setor industrial passam a ter acesso a um vasto leque de possibilidades que lhes permitirão conciliar o crescimento do seu negócio com soluções ambientalmente sustentáveis e rentáveis”.
Redesenhar, recuperar e recondicionar os materiais e os produtos existentes
Menos de uma em cada três das empresas inquiridas no âmbito deste estudo considerou que os seus diretores comerciais estão alinhados com os responsáveis pelas práticas sustentáveis no que concerne aquilo que são as prioridades para as suas empresas nesta matéria.
Segundo o estudo, as empresas do setor industrial devem ir além das práticas de “lean and green” (reduzir, reutilizar e reciclar) e adotar uma abordagem mais abrangente que inclua redesenhar, recuperar e recondicionar os materiais e os produtos existentes. Ainda que a maioria das empresas se concentre nas emissões diretas para alcançar os seus objetivos de neutralidade carbónica, a maior componente das suas pegadas ambientais advém das emissões indiretas que são produzidas quer por si, quer pelas suas respetivas cadeias de valor.
O estudo apresenta também as melhores práticas a adotar em matéria de sustentabilidade em cada uma das áreas «6 R», e identifica os cinco principais fatores de sucesso para as empresas alcançarem os seus objetivos de sustentabilidade:
- Alinhar os objetivos das equipas de vendas e dos responsáveis pela sustentabilidade para clarificar as sinergias que podem ser obtidas entre desempenho e sustentabilidade num programa comum;
- Trabalhar com clientes e fornecedores para reduzir as emissões indiretas;
- Aumentar a transparência através de relatórios eficazes e da assunção da responsabilização ou práticas de prestação de contas regulares;
- Integração de métodos de trabalho e de uma cultura corporativa sustentáveis;
- Investir em tecnologia e inovação baseadas em dados para garantir que a sustentabilidade e a rentabilidade estão intimamente ligadas.