“Incentivo ao uso do GNL é uma aposta errónea”, alerta ZERO
Uma investigação levada a cabo pela Federação Europeia dos Transportes e Ambiente (T&E), da qual a ZERO faz parte, revela “imagens infravermelhas que mostram metano – um potente gás com efeito de estufa – por queimar a ser libertado para a atmosfera a partir de navios movidos a gás natural liquefeito (GNL), supostamente amigos do ambiente”.
Esta investigação ilustrativa leva as Associações a alertar para o perigo de se apoiar o GNL, uma vez que, “num período temporal de 20 anos, o metano tem um potencial de aquecimento “80 vezes superior ao do dióxido de carbono (CO2)”.
“Ao promoverem os navios movidos a GNL, os políticos europeus estão a prender-nos a um futuro ligado ao gás fóssil”, alerta a T&E, citada num comunicado, divulgado pela ZERO. Segundo esta Associação, por mais que estes navios sejam “pintados de verdes”, a verdade é que, “para lá da superfície, a maioria dos navios movidos a GNL atualmente no mercado são piores para o clima do que os navios movidos a combustíveis fósseis que pretendem substituir”.
De acordo com o comunicado da ZERO, esta investigação foi conduzida pela no porto de Roterdão, o maior da Europa, num dia claro de novembro, utilizando uma câmara de infravermelhos de última geração, com um filtro especial que permite detetar gases fósseis. Atendendo a que o GNL é tipicamente constituído por cerca de “90% de metano, qualquer combustível por queimar que se escape pelo motor será também maioritariamente constituído por metano”.
Segundo a ZERO, em 2021, foram comissionadas mais embarcações movidas a gás fóssil do que nos quatro anos anteriores, com os navios movidos a GNL a serem promovidos como uma alternativa limpa aos combustíveis tradicionais. “A indústria do gás fóssil continua a advogar o GNL como uma solução “verde” para o transporte marítimo, apontando para valores mínimos de fugas de metano, notoriamente baseados em dados próprios”, refere a Associação ambientalista de Portugal.
No ano passado, a União Europeia (UE) propôs metas de intensidade de gases com efeito de estufa para combustíveis navais que forçariam os armadores a abandonar o fuelóleo residual, o combustível naval mais utilizado atualmente. Contudo, a T&E deixa um alerta: “Sem garantias de sustentabilidade, esta medida irá simplesmente perpetuar o uso do GNL como a alternativa mais barata”. Também, uma análise recente feita pela T&E, e divulgada pela ZERO, demonstra que “mais de dois terços dos novos navios poderão vir a ser movidos a gás natural até 2025”. A materializar-se, “este cenário elevaria a percentagem de GNL fóssil dos estimados 6% atuais para mais de 1/5 de todos os combustíveis navais na Europa até 2030, prolongando a utilização de combustíveis fósseis até para além de 2040”, lê-se no comunicado.
Face à investigação feita, a A T&E deixa mais um alerta: “Estamos a viver uma crise climática e não nos podemos dar ao luxo de colocar mais metano na atmosfera”. Para a ZERO, esta investigação é apenas uma “pequena amostra”, mas deveria funcionar como um “claro aviso para os políticos”: “o incentivo ao uso do GNL é uma aposta errónea numa altura em que a nossa atenção coletiva deveria estar centrada em soluções genuinamente limpas baseadas em hidrogénio”.
Há uma vídeo resumo da investigação que pode ser acedido aqui.