Com a época de elevado risco de incêndios a aproximar-se a passos largos, Portugal volta a estar alerta para os perigos nas zonas rurais e florestais. A Ambiente Magazine está a auscultar vários especialistas da área para perceber o que está a ser feito neste âmbito e como se encontra o nosso país para dar resposta a este desafio.
E desta vez é a RESIPINUS que responde: “apesar de existir algum bom trabalho a ser feito no terreno, que se traduz em bons indicadores nos últimos anos a vários níveis, nomeadamente na redução do número de ignições, menor área ardida, população mais sensibilizada, sabemos claramente que são referências que podem ser traiçoeiras, uma vez que, face ao que é conhecido no terreno, em várias regiões do país, um cenário meteorológico extremo, como presenciamos recentemente, com apenas uma ignição no sítio errado pode inverter completamente a situação”.
Apontando problemas estruturais no que toca à floresta, a entidade garante que este ano “teremos cerca de 45 equipas de Resineiros Vigilantes”, no âmbito do programa que tem vindo a ser desenvolvido em parceria com o ICNF, que permite a estes controladores no terreno “informar de imediato sobre qualquer anomalia que seja detetada”.
“Prevê-se um 2023 extremamente difícil, mas temos que acreditar na estratégia que está montada”
No final da época de incêndios, a RESIPINUS responsabilizar-se-á por “fazer uma avaliação interna do trabalho desenvolvido, para que possam ser feitas sugestões de melhoria no futuro”, mas tentar antever como será 2023 nesta matéria é “uma autêntica lotaria”: “sabemos que acima de tudo, o que define um verão calmo ou desastroso a nível de incêndios é a meteorologia”.
E que outros problemas o país tem apresentado? A entidade não nega que o despovoamento nas zonas rurais leva a que existam grandes extensões de áreas florestais, “com acumulações de combustível brutais que se formam durante vários anos” – mas isto torna-se consequente, caso a meteorologia, novamente, se apresente adversa “e se ocorrer uma pequena ignição, que pode ter origem natural”.
Por isto mesmo, “é urgente introduzir gestão nas nossas áreas florestais”, defende a RESIPINUS, acrescentando que esta “só poderá aparecer se houver uma economia gerada que permita que as ações de gestão passem a representar um investimento e não um encargo”.
Como bom exemplo, existe a resinagem, que permite aos proprietários antecipar as suas receitas florestais e ter ainda uma presença humana forte durante os períodos mais críticos, atribuindo mais capacidade de vigilância, de proteção e de intervenção.
“Temos que pagar para ter um bom sistema ambiental”
Ao nível de medidas, a entidade acredita em algumas para reduzir os impactos dos fogos. Porém, “apenas funcionarão se forem abordadas de forma integrada e com garantias de continuidade”, promovendo a estabilidade e a monitorização:
- Criação de pactos territoriais entre resineiros, agricultores, pastores com o governo, para remunerar os serviços promovidos pelas respetivas atividades, no sentido de valorização.
- Aposta pública em investigação, que promova a existência de projetos integrados de longa duração no setor das florestas.
- Agilizar os apoios comunitários ao setor, não sendo viável um proprietário esperar um ano pela aprovação de um projeto florestal, e dotar as entidades responsáveis pela gestão destes apoios com recursos humanos e materiais que melhorem o processo.
- Repensar a técnica de faixas de gestão de combustíveis, sendo que as verbas usadas nesta técnica poderiam ser aplicadas na gestão de áreas florestais, nomeadamente na manutenção de plantações.
A RESIPINUS alerta que, para a implementação eficaz destas e outras medidas, é necessário o “envolvimento ativo e contínuo de todos os atores ligados ao setor”, algo que “nem sempre tem acontecido”.