Os presidentes dos dois municípios da ilha de São Jorge, onde hoje o Governo Regional dos Açores prossegue uma visita estatutária, esperam “ganhos” com a classificação das fajãs como Reserva da Biosfera pela Unesco. “O que eu espero é que essa classificação não seja uma mera classificação, porque as classificações têm de se traduzir na boa recuperação daquilo que é a fajã, a recuperação da sua arquitetura, a salvaguarda dos seus acessos”, afirmou hoje à agência Lusa o presidente da Câmara da Calheta, Décio Pereira.
Assegurando que todos os dias nota um maior número de visitantes às fajãs, o principal cartaz turístico da ilha, Décio Pereira adiantou que continua a haver fajãs sem espaços de restauração ou onde o “alojamento é parco”. “Quando o investimento privado tarda em aparecer, acho que temos de ser nós, a câmara e as diferentes entidades do governo, a chegar à frente e a substituir os privados para que essas infraestruturas e serviços apareçam”, defendeu o autarca.
A ilha de São Jorge tem mais de sete dezenas de fajãs, terrenos planos e férteis ao nível do mar que resultaram da acumulação de detritos na sequência de terramotos ou escoadas lávicas de erupções vulcânicas. A 19 de março, as fajãs foram classificadas como Reserva da Biosfera pela Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, e, pouco depois, a autarquia lançou a marca “Calheta Município Capital das Fajãs”, por ser o concelho “com maior número de fajãs e com as mais emblemáticas”, de que é exemplo a fajã da Caldeira do Santo Cristo, exemplificou Décio Pereira.
O presidente da Câmara das Velas, Luís Silveira, disse esperar “ganhos palpáveis mais do que o mérito e o galardão”. “Estamos com essa expectativa, de que o galardão também nos vai trazer retorno em termos efetivos, nomeadamente em termos de sustentabilidade económica do nosso setor empresarial”, adiantou Luís Silveira.
Para o autarca, a distinção “poderá ser um grande contributo, tendo em conta os milhões de pessoas em todo o mundo que procuram visitar reservas da biosfera, porque desde logo sabem que vão visitar um lugar com características únicas, bem como também pode ser uma mais-valia naquilo que é a produção do queijo São Jorge ou do atum de Santa Catarina (fábrica de conservas)”.
As Reservas da Biosfera são zonas dos ecossistemas terrestres, costeiros e marinhos reconhecidas internacionalmente e criadas para conciliar a conservação da natureza com a procura de um desenvolvimento económico e social e a manutenção dos valores culturais associados.
A visita estatutária a São Jorge, a última da legislatura a esta ilha, termina na quarta-feira e é uma imposição do Estatuto Político-Administrativo dos Açores. Este determina que o executivo regional deve visitar cada uma das ilhas do arquipélago pelo menos uma vez por ano e que o Conselho do Governo reúna na ilha visitada.