ICNF: Desertificação e seca têm de ser internelizadas no modelo económico
Comemora-se esta quinta-feira, 17 de junho, o Dia da Desertificação e Seca. Este ano, o slogan global, “Food. Feed. Fibre produção e consumo sustentáveis”, apela para o consumo sustentável como forma de preservação da produtividade da terra. Para assinalar a efeméride, o ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas) promoveu um webinar intitulado por: “Dia da Desertificação e da Seca 2020”.
A desertificação e seca, apesar de já serem temas que merecem a atenção de muitos investigadores, ainda não é vista como uma prioridade para a grande maioria dos Governos. Este foi o ponto de partida para Nuno Miguel S. Banza, presidente do Conselho Diretivo do ICNF, lembrar que a pandemia da Covid-19 veio trazer a mensagem que “saúde animal, saúde ambiental e saúde humana” estão intimamente ligadas: “Portanto, os habitats que suportam as espécies, o solo que suporta esses habitats e a forma como gerimos a água é determinante para tomar decisões”.
Com o anúncio feito pela Assembleia Geral das Nações Unidas de que 2021-2030 é a “Década das Nações Unidas (NU) para a Recuperação dos Ecossistemas”, Nuno Banza acredita que poderá vir a ser criado um “contexto necessário” para se “valorizar de forma adequada o solo que suporta as espécies dos habitats e a saúde dos seus elementos”.
Apesar da desertificação ser alvo de vários estudos e de trabalhos ao longo de muitos anos, e com políticas a serem introduzidas setorialmente em muitas dimensões, o responsável nota que não são consideradas as consequências dessas políticas públicas e do investimento: “A verdade é que nós não temos conseguido internalizar, no modelo económico, um conjunto de preocupações que têm como consequência a perda dos solos ou o agravamento de um conjunto de situações que acabam por ter impactos severos nas pessoas, no ambiente, na perda de biodiversidade e na perda de valor”. É um trabalho que ainda está por fazer: “Temos o grande desafio de internalizar no modelo económico e nas ferramentas um conjunto de novas dimensões que nos consigam manter a desertificação e a seca sempre presentes”, reforça, acrescentando também que a “desertificação” dentro da União Europeia não é um tema comum a todos os países: “É difícil explicar aos países do Norte o grande desafio que um conjunto países do Sul estão a atravessar, sobretudo com a instabilidade climática que hoje já vivemos”, exemplifica.
De acordo com Nuno Banza, vários investigadores que trabalham na área da climatologia asseguram que o nível de instabilidade climatológico é hoje assustador: “Isso deve manter-nos ativos, vigilantes e motivados para conseguirmos não só a palavra daquilo que são as nossas convicções, mas sim espalhar e contagiar a mensagem”. O presidente do Conselho Diretivo do ICNF não tem dúvidas de que “internalizar na prática” aquilo que são as preocupações ligadas à desertificação, biodiversidade ou seca, o futuro será muito mais seguro.