Decorreu, esta terça-feira, o Seminário “Adaptação Local às Alterações Climáticas”, organizado pela Rede Adapt.Local – Municípios para a Adaptação Local às Alterações Climáticas. Este ano, o evento teve como anfitriã a cidade de Lisboa, no âmbito da Lisboa Capital Verde Europeia 2020. O encontro teve como foco sensibilizar os municípios e outros atores para os desafios das alterações climáticas e dinamizar a partilha de boas práticas.
Inês dos Santos Costa, secretária de Estado do Ambiente, sublinhou a importância das Redes, para serem cumpridos os vários desígnios de políticas públicas em matéria ambiental, que também são os objetivos do Ministério do Ambiente e da Ação Climática: “Temos a honra de incentivar estas redes e todos os vasos comunicantes que podem existir entre as iniciativas”.
Tal como esta, outra sessões que motivam a ação e partilha sobre o que está a ser feito no combate às alterações climáticas são “contributos para cumprir os objetivos ambiciosos” com que o planeta se depara. Mas o discurso da responsável centrou-se, sobretudo, naquela que parece ser a abordagem linear: “fazer e produzir”. E é precisamente no sentimento de mitigação e adaptação às alterações climáticas que Inês dos Santos Costa chama atenção para serem “lidas todas as palavras” quando os temas são “energias renováveis, eletrificação, gases renováveis, mobilidade sustentável, ou corredores ecológicos”. Mas “incomoda-me o silêncio sobre a outras palavras e ações que têm de ser feitas e que há leitores que não as veem ou não querem ver pelo receio que elas possam dizer”, sustenta.
Para a responsável, a base “fazer e produzir”, que suporta toda a economia, mesmo ao nível global, é “uma abordagem predadora de recursos”, ao contrário daquela que deveria ser “regeneradora de recursos”. E o exemplo mais claro está na produção de alimentos: “Produzimos quantidade mais do que suficiente para alimentar toda a população mas todos os dias um terço do que produzimos é desperdiçado e 700 milhões de pessoas vão dormir sem se ter alimentado”.
E aqui “há uma distinção entre aquilo que queremos fazer e aquilo que estamos dispostos a aceitar em termos de mudança”, afirma, considerando ser essa uma “abordagem que está condenada ao insucesso: o nosso sistema natural não é capaz de suster este ímpeto sem ele próprio se adaptar”. E a inovação tecnológica “nunca poderá evoluir tão rapidamente para quebrar esse ritmo de linearidade que é imposto ao nossos sistemas económicos”, alerta a responsável.
[blockquote style=”2″] A janela de oportunidade é mínima [/blockquote]
E aquele que, segundo a responsável, parece ser o verdadeiro “modelo de desenvolvimento” que permita “equilibrar prosperidade, ritmos naturais de regeneração e restauração dos ecossistemas” assenta em vários princípios. “Ser sustentável é ter um sistema socioeconómico em equilíbrio com o sistema natural que o suporta e que é a biosfera”, afirma. Depois, deve-se “orientar inovação, tecnologia e design para a incorporação do mesmos princípios que regem o sistema natural”, isto é, “conceber para pensar em ter zero resíduos e zero poluição”. Inês dos Santos Costa acrescenta também a importância de “manter os produtos e materiais em uso”, concedendo aos mesmos a possibilidade de “reutilização ou reparação”. E, neste modelo, impõe-se ainda a “regeneração dos sistema naturais” e, que vise, essencialmente, o “bem-estar” da sociedade.
A secretária de Estado do Ambiente lembra que o “mundo não vai construir cidades tão rapidamente como fez durante este século” e, a “população global nas cidades vai aumentar”, assim como o “consumo de materiais nas cidades vai crescer”. Posto isto, “não há qualquer sistema natural que possibilite este tipo de afluência de bens e recursos para consumo”, alerta. Em matérias ambientais e em prol do bem-estar do planeta a ação é urgente: “E a janela de oportunidades é mínima. Está cientificamente provado que esta década é mesmo decisiva”, remata.