Já são conhecidos os projetos vencedores da terceira edição do Blue Bio Value, um programa de aceleração de empresas ligadas à bioeconomia azul, coorganizado pela Fundação Oceano Azul e pela Fundação Calouste Gulbenkian. A britânica “Salty Co”, a espanhola “REFIX” e a portuguesa “Horta da Ria” são assim as vencedoras desta terceira edição do Blue Bio Value.
Na sessão, subiram “virtualmente” ao palco 14 startups (10 internacionais e quatro portuguesas), que deram a conhecer soluções e negócios ligados à descarbonização, ao restauro de ecossistemas, à dessalinização, à produção sustentável de algas para diferentes fins ou à utilização de desperdícios de atividades piscatórias.
O início da sessão ficou marcado pelo discurso de Carlos Moedas, Trustee da Fundação Calouste Gulbenkian, que começou por agradecer à Fundação Oceano Azul pelo objetivo comum que ambas as instituições abraçaram desde o início, em criar um “ecossistema” que permita promover negócios mais sustentáveis. Aos responsáveis pelos projetos, o responsável deu dois conselhos: “Mostrem a vossa paixão e mostrem a vossa energia”. Carlos Moedas quis chamar a atenção para o facto de, no final das apresentações, “não é sobre inovação” que se vai falar, mas sim, “sobre quem inova: é sobre vocês”. Assim, a “boa energia” que se coloca na “explicação” sobre o que cada um faz é “mais importante” do que, propriamente, a “ideia” do projeto.
Também John Bell, director Healthy Planet, DG Research & Innovation at European Commission, quis dar o seu apoio a todas as startups participantes: “O que fazem é muito importante no desenvolvimento da economia blue bio”. O responsável aproveitou o momento para lembrar que a “vida na terra” depende de “oceanos saudáveis” de uma forma abstrata. Mas, alerta para o facto dos “oceanos, mares e cursos de água” serem cada vez mais críticos: “Os mares e oceanos estão sob uma pressão nunca antes vista”. E os números falam por si: “Já foram perdida 85% das zonas húmidas. Dois terços dos oceanos enfrentam pressões cumulativas. 1 milhão de espécies estão em risco de extinção”. O responsável diz mesmo que, o planeta está num “ponto sem retorno” no que à emergência climática e biodiversidade diz respeito: “Os níveis do mar a subir, as cheias e os fenómenos meteorológicos mais extremos estão a ameaçar as comunidades que vivem na Europa e noutras partes do mundo”. O momento atual pede assim uma “ação” urgente: “Se não o fizermos o custo da inação irá ultrapassar drasticamente o custo da ação”. Para o responsável, o desafio do século é assim “conciliar” a “biosfera” com a “economia” e trabalhar, em simultâneo, com a “natureza, e não contra ela”.
O Green Deal é a prova clara da necessidade de se transformar comportamentos, atitudes, formas de consumo, entre outros, para que se consiga alcançar a meta de uma Europa neutra até 2050: “Isto é a razão de existir da União Europeia”, vinca. E a bioeconomia é, para John Bell, um dos pilares para se atingir a neutralidade carbónica: “A inovação na pesquisa da bioeconomia europeia dá uma estrutura para transformar a forma como trabalhamos a natureza, encontrando novas maneiras de produzir, consumir e reciclar recursos biológicos que respeitem os limites do nosso planeta e apoiem a prosperidade dos nossos cidadãos onde quer que vivam”. O responsável não tem dúvidas de que a missão do Acordo Verde Europeu será um “meio para responder aos maiores desafios que enfrentamos na União Europeia”, acreditando que vai dar ferramentas para que “os europeus tenham a capacidade de desempenhar um papel ativo” no processo de transformação que está aos olhos de todos. A mensagem final do responsável destinou-se assim aos participantes: “São pessoas como vocês (empreendedores) que nos ajudarão a reconstruir melhor e fazer um futuro azul, próspero e sustentável”.
Na sessão de encerramento, José Soares dos Santos, chairman da Fundação Oceano Azul, também quis apelar às startups participantes para que continuem a desenvolver os seus projetos: “Vocês são quem pode mudar o mundo, a vossa energia convenceu-nos ainda mais que estamos no caminho certo. Vamos continuar a investir no Blue Bio Value”.
Por seu turno, Isabel Mota, presidente do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian referiu que “a proteção ambiental e o sucesso comercial das empresas têm de ser complementares e a área da bioeconomia azul é particularmente crucial para promovermos o crescimento sustentável”.
As startups portuguesas da edição 2020
- A ARTIREEF cria uma alternativa sustentável à rocha viva atualmente utilizada em aquários, desenvolvendo um novo material a partir de resíduos da cultura de ostras da Ria de Aveiro, em Portugal. A rocha artificial é um substituto para a extração de rocha natural, diminuindo as ameaças aos recifes naturais.
- A HORTA DA RIA produz a Salicornia como uma alternativa saudável e sustentável ao sal. Colhem de forma sustentável a Salicornia fresca, trazendo nova vida às salinas da Ria de Aveiro e fabricando diversos produtos para consumo alimentar.
- A INNOVTRIALS melhora a qualidade dos produtos da aquicultura, fornecendo consultoria em nutrição de peixes para novos produtos para peixes marinhos e análises laboratoriais, garantindo a entrega de resultados robustos na alimentação da aquicultura. Eles são especialistas no desenvolvimento de rações que reduzem infecções e doenças nos peixes.
- A PINKTECH explora o potencial de uso de bactérias ricas em carotenóides como suplemento alimentar para peixes da aquicultura e outros organismos. Seu produto ajuda a reduzir o desperdício e a produção em massa de outros ingredientes usados na alimentação dos peixes, enquanto conserva espaço, energia e recursos, melhorando o produto final em termos de cor (como no salmão), fertilidade, sobrevivência e saúde.
Sabia que…
- Desde 2018, o Programa Blue Bio Value já acelerou 42 empresas de 15 nacionalidades e atribuiu prémios num total de 135 mil euros em serviços de apoio ao desenvolvimento de nove startups, provenientes de cinco países.
- Em 2020 o Programa Blue Bio Value recebeu o número mais elevado de candidaturas desde o seu lançamento. Concorreram a esta edição 120 projetos, oriundos de mais de 30 países.
- As três startups vencedoras desta terceira edição vão ser premiadas com um valor global de 45 mil euros que deverá ser aplicado no desenvolvimento dos seus projetos
*A Ambiente Magazine entrevistou, recentemente, Ana Brazão, gestora de projetos na Fundação Oceano Azul, sobre o Blue Bio Value:
- [ot-link url=”https://www.ambientemagazine.com/blue-bio-value-o-acelerador-que-quer-transformar-ideias-e-projetos-de-investigacao-em-negocios-reais/”]Blue Bio Value: O Acelerador que quer transformar ideias e pojetos de investigação em negócios reais [/ot-link]