“A aceleração da economia circular é uma das grandes respostas que temos no nosso tempo”. Este foi o ponto de partida para António Costa e Silva, professor do Instituto Superior Técnico (IST), alertar para a situação abismal na qual o planeta se encontra. O docente falou no “Eco Embalagens – Unboxing The Future”, um evento promovido esta quarta-feira, 19 de janeiro, pela Sociedade Ponto Verde.
Para António Costa e Silva, a “pandemia linear” que hoje se vive transforma recursos em lixo a uma velocidade sem precedentes: “É fulcral transformar o lixo e os resíduos em recursos: há um conjunto de janelas que se podem abrir na economia adotando o paradigma da economia circular”. No entanto, acelerar a transição para a economia circular implica mudanças, nomeadamente, o paradigma mental: “Temos de compreender a importância de reciclar, recuperar, reparar e reutilizar os equipamentos”. A subida dos preços das matérias primas da energia, do gás ou do petróleo, em 2021, serviu de exemplo para o docente reforçar a importância de se adotar os princípios economia circular: “Vamos conseguir gerir parte dos recursos que precisamos mudando o paradigma e acelerando o tratamento de todos os resíduos que temos à nossa disposição: é vital para o nosso futuro”.
Num cenário onde o “consumismo desenfreado assenta numa publicidade que apela a consumir mais”, António Costa e Silva atenta na importância de se mudar para um consumo mais responsável e inteligente. O professor do IST deu vários exemplos de áreas onde se tem assistido a “desenvolvimentos muito curiosos”, destacando a “mudança que já existe na ciência dos materiais”, na “fileira dos têxteis, com empresas a trabalhar cada vez mais na circularidade, reprocessamento dos materiais usados e na sua reincorporação”; na “fileira dos edifícios e habitação, com a constante pressão para a circularidade dos materiais” ou na “fileira da alimentação com as embalagens a ter um papel muito importante”.
Sendo já reconhecidas as consequências devastadoras para o planeta devido ao “consumo frenético de recursos”, António Costa e Silva chama ainda atenção para a mudança urgente do modelo de desenvolvimento económico e social, alertando que os problemas que tendem a agravar-se: “Quando se discute a economia circular temos que discuti-la no contexto das respostas extraordinárias que são necessárias para fazer face a este modelo que provoca a devastação ambiental do planeta”.
Sendo a pandemia um “aviso severo à espécie humana e ao caminho que estamos a percorrer”, o especialista não tem dúvidas das “respostas extraordinárias” que Portugal tem para dar ao nível das diferentes fileiras, no âmbito do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) ou nas agendas mobilizadoras: “Nas propostas de muitas empresas temos um vislumbre da economia do futuro”.
Lembrando os desafios ambiciosos que a espécie humana tem pela frente, como o desenvolvimento e a introdução das ecoembalagens”, de novas fileiras de produção, da reinvenção, do modelo de desenvolvimento económico e social, da sustentabilidade das cadeias de valor e de produção, da introdução da inovação, da física, da química, da digitalização dos processos ou da compreensão mais profunda dos sistemas, António Costa Silva é claro: “Se compreendermos que há uma grande abismo entre aquilo que fazemos e aquilo que podemos fazer, podemos ter um país diferente daqui a 10 anos”.