“Os países do G20 [as maiores e emergentes economias do mundo] são responsáveis por 80% das emissões. Eles também estão a sofrer com o impacto de secas, incêndios e inundações de níveis recorde — mas a ação climática parece estar a diminuir. Se um terço dos países do G20 estivessem hoje debaixo de água, como poderão estar amanhã, talvez achassem mais fácil concordar com cortes drásticos nas emissões”. O alerta foi dado por António Guterre, secretário-geral da ONU, segundo a Lusa.
Em Nova Iorque, num briefing à imprensa, na sede da ONU, o secretário-geral apelou a que todos os países do mundo — a começar pelo G20 — aumentem as suas metas nacionais de redução de emissões todos os anos, “até que o aumento da temperatura mundial seja limitado a 1,5 graus”.
Como exemplo das nações que mais sofrem com as alterações climáticas, António Guterres deu o exemplo do Paquistão, país do qual regressou de uma recente viagem onde viu um “futuro de caos climático permanente e omnipresente numa escala inimaginável” devido às graves inundações que destruíram parte daquele território.
“Nenhuma imagem pode transmitir o alcance desta catástrofe. A área inundada é três vezes o tamanho de todo o meu país, Portugal. O que está a acontecer no Paquistão demonstra a absoluta inadequação da resposta global à crise climática, e a traição e a injustiça no centro dela”, declarou o ex-primeiro-ministro português aos jornalistas.
“Seja o Paquistão, o Corno de África, o Sahel, as pequenas ilhas ou países menos desenvolvidos, os mais vulneráveis do mundo — que não fizeram nada para causar esta crise — estão a pagar um preço terrível por décadas de intransigência dos grandes emissores”, frisou Guterres.
De acordo com Guterres, o Paquistão e outros pontos críticos a nível climático precisam urgentemente de infraestruturas resistentes a inundações, defendendo que devem ser os maiores responsáveis pelas emissões poluentes a financiar essa adaptação.
Segundo a Lusa, o líder da ONU apresentou as suas prioridades à imprensa antes das reuniões de líderes internacionais na Assembleia-Geral, que começam na próxima semana, e ressaltou que o clima deve ser uma das questões centrais: “A minha mensagem para os líderes mundiais reunidos aqui é clara: baixem a temperatura — agora. Não inundem o mundo hoje; não afoguem o amanhã”.
A guerra na Ucrânia, as várias crises que afetam o mundo, como fome e conflitos, e as alterações climáticas marcaram a abertura da 77.ª Assembleia-Geral da ONU, que arrancou na terça-feira em Nova Iorque.
O evento decorre sob o tema “Um momento divisor de águas: soluções transformadoras para desafios interligados”, sendo que o primeiro dia do Debate Geral de alto nível – o momento em que os líderes internacionais se dirigirem ao mundo — está previsto para 20 de setembro.
Entre as figuras políticas aguardadas na semana de alto nível estão o Presidente norte-americano, Joe Biden, o chefe de Estado do Brasil, Jair Bolsonaro, ou o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov. Portugal estará representado pelo primeiro-ministro, António Costa, que se deslocará a Nova Iorque para participar pela segunda vez desde que é líder do executivo português na Assembleia-Geral da ONU.