Guia de Boas Práticas Circulares coloca setor dos serviços no centro da transformação circular
No âmbito do “Projeto Be Smart – Be Circular“, a Associação Smart Waste Portugal (ASWP), com o apoio da Magellan, lançou um Guia de Boas Práticas Circulares direcionado para o setor dos serviços.
Este Guia nasce com o intuito de preencher a “lacuna existente”, sistematizando “boas práticas circulares em contexto empresarial para diferentes tipos de entidades no setor dos serviços”, com o objetivo de “enaltecer os potenciais impactes positivos a nível ambiental e económico para as próprias organizações”, explica Luísa Magalhães, diretora executiva da ASWP, acrescentando que, na linha do Be Smart – Be Circular, este instrumento de informação tem ainda o objetivo estratégico de “sensibilizar, dinamizar e capacitar as empresas nacionais”, dotando-as de “conhecimento, informação e ferramentas” que contribuam para a transformação empresarial, numa ótica de “transição para a Economia Circular”, com enfoque no setor dos serviços e nas PME (pequenas e médias empresas), uma área que, pela sua natureza mais desmaterializada e a jusante na cadeia de valor relativamente às indústrias, não se costuma focar nos temas da economia circular, nomeadamente na adoção de boas práticas no seu tecido empresarial.
Este guia consiste numa “ferramenta de informação e consulta de boas práticas circulares e sustentáveis” no seio das organizações: “Enquadra a economia circular com as caraterísticas do setor dos serviços e das PME, e apresenta um benchmark das melhores práticas circulares e ações concretas associadas, elencando exemplos reais de implementação destas ações por parte de variadíssimas entidades”. No fundo, o Guia apresenta-se como uma “ferramenta simples” cujos exemplos são “apresentados de forma clara” para que, por um lado, sejam “replicados em entidades homólogas”, e por outro, apresente “tipos de negócio que podem constituir bons fornecedores de produtos e serviços circulares a empresas” que pretendam “diminuir o impacte global da sua atividade”, refere a responsável.
Em relação às recomendações integradas no Guia, Hugo Marques Sousa, consultor na Magellan, explica que a abordagem se baseia em sete práticas circulares macro: “avaliar a circularidade (numa lógica de medição interna da pegada ambiental/circular da organização)”; “regenerar”; “partilhar”, por exemplo,”promover sistemas de aluguer, de reparação, uso em segunda-mão”; “otimizar (utilização de produtos enquanto serviço)”; “fechar os ciclos”, promovendo, por exemplo, “a remanufactura e a reciclagem de materiais”; e “digitalizar e trocar (oferecer/substituir produtos/serviços por outros mais amigos do ambiente, quer na lógica do fornecedor, quer na lógica do cliente, o que é particularmente relevante nos serviços)”. Estas práticas traduziram-se em “22 ações concretas”, que, por sua vez, têm a si associados “vários exemplos de implementação real por parte de todo o tipo de entidades”, acrescenta.
Hugo Marques assegura que há várias vantagens associadas às empresas que adotem as recomendações, sendo que irão variar de ação para ação e deverão ser constantemente monitorizadas com o apoio de indicadores robustos: “As empresas conseguirão assim conhecer melhor os seus processos e reduzir a sua dependência de elementos externos à organização, fazer uma utilização menor e mais eficiente de recursos, caminhando para uma economia mais circular, reduzir a produção de resíduos, melhorar a valorização da sua marca junto dos seus clientes, fornecedores, financiadores e colaboradores e antecipar temas de compliance empresarial e legislativo relativos às suas operações”.
[blockquote style=”1″]Obviamente que cada setor económico tem características diferentes, mas tem-se vindo a desenvolver trabalho no sentido de encontrar ferramentas de medição da circularidade duma organização que possam dar resposta aos diferentes tipos de atividades[/blockquote]
Relativamente a balanços, Luísa Magalhães afirma que tem sido muito positivo: “Recebemos feedback muito positivo Ad Hoc de vários Associados relativamente à utilização deste Guia, conseguindo com estes contactos aferir a sua utilização”. Sendo uma ferramenta relativamente recente, a “implementação de medidas circulares” de Associados e outras organizações que sigam as recomendações do Guia poderá ser “monitorizada quantitativamente” no futuro, refere.
O enquadramento inicial do Guia foca-se nas barreiras que as PME se deparam na aplicação de práticas circulares, bem como nos fatores impulsionadores associados a uma maior implementação de práticas circulares nas empresas, sendo que é possível identificar um conjunto de desafios: “Por um lado, os serviços associados a produtos têm na economia circular uma referência que, no seu limite, leva à transformação do seu modelo de negócio em sistemas produto-serviço, através de sistemas de aluguer e partilha, ou então incluindo uma vertente considerável ao nível da reutilização, reparação, recolha para remanufactura, e no limite, reciclagem dos componentes e materiais”. Apesar de muitas empresas já incorporarem parte desta lógica nos seus negócios, Luísa Magalhães refere que o último estádio da economia circular representará sempre “mudanças substanciais e exigências acrescidas” na colaboração ao longo das cadeias de valor. Por outro lado, “os serviços intangíveis associados a trabalhos de escritório, por não terem produtos materiais envolvidos na sua atividade, enquadram-se em tipos de ações circulares mais dispersos e marginais, mas que também são de mais fácil aplicabilidade”, acrescenta. Um outro desafio prende-se com o tema da “definição de indicadores de medição de circularidade nas organizações” para perceber os “principais impactos das mudanças”, precisa. Ao nível de respostas, Luís Magalhães destaca a necessidade de uma “maior sensibilização e capacitação das entidades para as temáticas da economia circular”, bem como a “uniformização dos indicadores utilizados para medir a circularidade dentro das organizações”, para ser possível uma comparação: “Obviamente que cada setor económico tem características diferentes, mas tem-se vindo a desenvolver trabalho no sentido de encontrar ferramentas de medição da circularidade duma organização que possam dar resposta aos diferentes tipos de atividades”. A título de exemplo, a diretora executiva da ASWP destaca a ferramenta “Circulytics 2.0”, desenvolvida pela Fundação Ellen MacArthur, instituição pioneira e altamente reputada na área da Economia Circular.
Para ambos os responsáveis, o Guia afigura-se de uma “excelente oportunidade” para colocar o setor dos serviços no centro da transformação circular. Neste âmbito, seguindo também o que foi feito neste projeto através da plataforma online “myWaste” para a criação dum mercado de subprodutos e resíduos, fazendo o emparelhamento da procura e da oferta dos mais variados materiais, seria um passo importante desenvolver uma “plataforma análoga orientada para a partilha de ativos temporariamente inutilizados (por exemplo, salas de conferências/reuniões, estacionamento, recursos humanos temporariamente disponíveis, espaço de armazenamento, veículos de entregas, energia residual)” entre as empresas de serviços: “O Guia dá o exemplo da FLOOW2, com origem no Reino Unido (mas que também funciona nos Países Baixos), que segue exatamente esta lógica e tem um âmbito de partilha de recursos muito abrangente”, explicam. O desenvolvimento duma plataforma semelhante em Portugal, que à semelhança de outras economias europeias, têm uma preponderância grande do setor dos serviços (cerca de três quartos do seu valor acrescentado bruto), antevê “colaborações e ganhos interessantes” para as empresas de serviços e não só, rematam.