Grupo de cientistas deixam apelo à UE para salvar o tubarão Anequim
Mais de 40 especialistas e investigadores de tubarões de diversos países da União Europeia (UE) enviaram uma carta pública ao Comissário Europeu do Ambiente, Oceanos e Pescas, Virginijus Sinkevičius, exigindo medidas cruciais e decisivas para recuperar e proteger o anequim, uma das espécies de tubarões mais ameaçadas do Oceano Atlântico.
“O papel da UE é decisivo tendo em conta que grande parte das capturas desta espécie no Atlântico Norte são realizadas por Espanha e Portugal, tendo por isso a carta sido subscrita por vários investigadores dos dois países”, refere o Grupo de Especialistas em Tubarões da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), citado num comunicado divulgado pelo Instituto Politécnico Leiria.
Este pedido surge num momento crucial, em que os representantes dos estados-membros da UE estão a definir a posição que vão assumir na próxima reunião anual da Comissão Internacional para a Conservação dos Tunídeos do Atlântico (ICCAT), marcada para meados de novembro, onde serão discutidas e decididas medidas de gestão para várias unidades populacionais de peixes do Atlântico, incluindo o anequim: “Este será um momento-chave que, inevitavelmente, moldará o futuro desta espécie”, lê-se no mesmo comunicado.
“Considerando a responsabilidade da UE nas capturas de anequins e os compromissos assumidos como líderes mundiais na proteção da biodiversidade marinha, esperamos que a UE finalmente oiça a ciência e se torne numa campeã para a conservação dos anequins”, desse João Correia, professor no Instituto Politécnico Leiria, membro do Grupo de Especialistas em Tubarões da IUCN. Para este cientista, “o anequim é um exemplo primordial de um incrível predador oceânico que os humanos colocaram numa situação terrível num prazo relativamente curto”. Quando questionado sobre o porquê desta espécie ser tão importante, João Correia explica que “as espécies no topo da cadeia alimentar têm um papel enorme em qualquer ecossistema, e os anequins não são diferentes nas nossas águas. A sua presença é um sinal de um ambiente marinho saudável e produtivo, e o seu número no Atlântico Norte tem vindo a diminuir há décadas devido à elevada pressão pesqueira, nomeadamente de embarcações portuguesas e espanholas. A sua população no Atlântico Norte está numa fase tão crítica que as capturas precisam de ser completamente interrompidas para que possa recuperar nos próximos 25 anos.”
Segundo o Grupo da IUCN, a maioria das capturas são feitas por embarcações que pescam com palangre – uma longa linha com milhares de anzóis – que têm como alvo o espadarte e o tubarão-azul: “Infelizmente uma grande parte dos indivíduos capturados são juvenis que ainda não tiveram a oportunidade de se reproduzir, prejudicando ainda mais as hipóteses de recuperação desta população”. Este e outros fatores levaram à “inclusão do anequim” no Apêndice II da CITES, a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção, em agosto de 2019, o que confirma o “alarmante” estado de conservação desta espécie: “Esta decisão baseou-se em vários estudos científicos e no facto das atuais medidas de gestão em vigor não impedirem o esgotamento das unidades populacionais”, constata o Grupo.
Apesar de, em dezembro de 2020, Espanha e Portugal terem emitido uma proibição de desembarque para os anequins capturados em alto-mar, no Atlântico Norte, e, mais tarde, alargar esta proibição às capturas em águas nacionais, as autoridades pesqueiras da UE continuam a “insistir em querer que as frotas da UE possam capturar esta espécie, contrariando os pareceres científicos e a proibição atual” de desembarques nos dois países da Europa (Portugal e Espanha), alertam os investigadores.