Greenfest serve de “voz” e de “montra” para muitos projetos
Já faz parte da agenda de muitos eventos de sustentabilidade. O Greenfest decorreu este fim-de-semana no Mosteiro de Tibães, em Braga. Durante os dias 29 e 30 de setembro e 1 de outubro, foram promovidas diversas atividades, desde workshops e palestras até aos showcookings, sempre com a finalidade de despertar para uma maior consciencialização do planeta. O Greenfest é ainda palco para muitas empresas darem a conhecer os seus projetos. A Ambiente Magazine rumou a Braga para conhecer alguns destes projetos: em todos eles, a preocupação com o planeta é uma garantia e a presença no evento é uma mais-valia, enquanto “voz” e forma de alavancar estes projetos
Ódaterra nasce com a premissa de usar a terra para fazer bijuteria. “É um projeto familiar e, enquanto família, quisemos viver em harmonia com o ambiente e com o que nos rodeia”, começa por dizer Rita Nicolau, fundadora do Ódaterra, acrescentando que “a necessidade de fazer algo de diferente” foi o que esteve na origem deste projeto. Tudo começou precisamente com o objetivo de fazer bijuteria sustentável, onde todos os materiais provêm da terra: “Trabalhamos com bolotas, eucalipto, sementes e cogumelos e fazemos quadros inspirados em livros, utilizando a técnica da conservação de planta na prensa botânica”.
Trata-se de um “trabalho muito delicado e muito minucioso” e, ao mesmo tempo, depende do clima: “Trabalhamos consoante o tempo que a natureza nos manda, podendo demorar meses ou estações”.
Apesar do processo inicial ter sido mais demorado, a responsável afirma que as pessoas assim que ficavam a conhecer a essência do projeto, rapidamente cresceu o interesse: “Notou-se uma maior abertura para conhecer mais sobre o Ódaterra”.
Conforto e Sustentabilidade
Foi através da produção de sapatos barefoot (“como andar descalço”) que nasceu a MukiShoes: “São muito leves, respeitam a forma do pé e trabalhamos só com materiais naturais, entre algodão orgânico, cânhamo, linho, cortiça e couro”, refere Marlene Pinto, fundadora da MukiShoes, acrescentando que “todos os materiais são biodegradáveis e os fornecedores são os mais locais possível”.
Quem experimenta calçado MukiShoes dificilmente resiste: “É mesmo muito confortável, o que acaba por ajudar no resto do corpo ao contrário do calçado habitual que é apertado e acaba por causar dores nos joelhos ou na anca”.
Como loja online, a MukiShoes procura todas as formas de apresentar os seus produtos e, por isso, o Greenfest faz todo o sentido: “Já tivemos em Carcavelos e é a primeira vez em Braga. É importante mostrar que o nosso produto está ligado à sustentabilidade e este evento faz todo sentido”.
A alimentação como o único remédio
De origem poveira, a Veggie Mercearia & Cafetaria nasce para revolucionar aquela ideia de que só os medicamentos são o único “remédio”. Marlene Cunha foi durante alguns anos farmacêutica e a grande paixão em ajudar as pessoas levou-a a deixar as farmácias e a dedicar-se à cozinha vegetariana, saudável e amiga do ambiente: “Acredito que a nossa saúde é muito mais do que os medicamentos. Somos um todo e aquilo que ingerimos é o que faz a nossa saúde”.
“Que a alimentação seja o seu único remédio” é o lema deste projeto: “Se nos alimentarmos bem, o nosso corpo não precisa de tantos medicamentos ou podemos reduzir o número de medicamentos que temos”, refere. Na loja, existe uma panóplia de produtos que vãos desde os biológicos até aos vegan: “Temos detergentes, leguminosas ou especiarias a granel e produtos embalados em papel sempre que possível”, exemplifica.
Apaixonada pela arte de cozinhar, Marlene Cunha dedica ainda um espaço da sua mercearia a uma refeição diária: “Preparo todos os dias uma refeição vegan e temos também tostas e outros snacks”.
Na prática, a Veggie Mercearia & Cafetaria, localizada na Póvoa de Varzim, nasce com intuito de mostrar às pessoas que é possível fazer tudo, independentemente de não haver origem animal: “Podemos criar um bolo sem ovos e ser gostoso ou ter pratos coloridos, bonitos e bastante saborosos”. afirma.
A presença no Greenfest foi uma novidade: “Acho que é muito importante e gratificante, principalmente, quando conseguimos mudar a opinião das pessoas”, destaca.
Uma pasteleira 100% vegan
Do Brasil para Portugal, a Soul – Alimentação Saudável e do Bem é uma pastelaria 100% vegan e glúten em free: “Queremos ser o mais saudável possível”, afirma Vanessa Oliveira, fundador da Soul.
Com origem brasileira, a Soul rumou para Portugal em 2018 e, em 2019, abriu a primeira loja em Braga, sempre com a mensagem de uma “alimentação consciente: Procuramos muito as crianças, visto que são o futuro e mostramos que é possível ter um alimento saudável que vai fazer bem para a pessoa e para o planeta”, afirma.
Passados quatro anos, Vanessa Oliveira reconhece que o mindset mudou: “As mães de hoje estão mais preocupadas com a alimentação dos filhos e os adultos, às vezes, vão pela curiosidade ou porque querem mesmo reduzir o consumo de proteína animal”.
Questionada sobre a discrepância que existe no preços dos produtos naturais quando comprados com alimentação de origem animal, a fundadora da Soul admite que se trata de uma comida mais cara: “Não existe nenhum incentivo, tal como na industria de laticínio e o nosso papel é tentarmos mostrar a qualidade dos produtos, que trabalhamos com matéria-prima de alta qualidade e com marcas boas e biológicas”. Apesar de “ser mais caro, é um alimento muito melhor e mais rico”, precisa.
A experiência do Brasil leva Vanessa Oliveira a afirmar que é um país onde há uma maior abertura para a existência de incentivos a este tipo de alimentação, enquanto que, em Portugal, é muito mais difícil: “As pessoas (no Brasil) manifestam-se mais diante os decisores políticos para a mudança”.
Por isso, fica o apelo: “Os decisores políticos em Portugal têm de perceber que o futuro é o planeta e que, ao darem apoio a estas pequenas empresas e perceberem que a alimentação é base de qualquer população e de qualquer país, tudo vai fluir melhor”, remata.
A Ambiente Magazine esteve, no Greenfest, em Braga