Há 10 anos que o Greenfest se consagra como “uma festa de sustentabilidade para todas as gerações”. À Ambiente Magazine, Pedro Norton de Matos, fundador e organizador do evento, garante que “numa década aconteceram muitas coisas”.
O fundador do Greenfest, o maior evento de sustentabilidade do país, explica que o objetivo da iniciativa é sensibilizar mas também, é importante “passar à ação” porque “cada um de nós pode ser um agente de mudança e transformação”, sejam empresas, autarquias ou famílias.
No fundo, o evento consiste na “partilha de boas práticas e de exemplos inspiradores que mostrem que é possível” alcançar um mundo mais sustentável, dando palco a novas ideias, a projetos inovadores e disruptivos.
Pedro Norton de Matos afirma que a sustentabilidade é um “compromisso intergeracional” e um “modelo de desenvolvimento” tanto ambiental, como ainda social, económico e cultural. Todavia, no passado “não existia sequer a preocupação” com o meio ambiente. O rápido desenvolvimento do mundo ocidental e das economias emergentes é que trouxe um grande impacto ambiental e na pegada ecológica, reflete.
11ª edição do Greenfest
Este ano, o Greenfest conta com duas edições: uma estreia inédita em Braga, que aconteceu entre 1 e 3 de junho, e a segunda edição, como já é habitual, decorrerá no Centro de Congressos do Estoril, de 11 a 14 de outubro.
O tema desta edição é a “Sustentabilidade 4.0 – A oportunidade dos O.D.S. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no horizonte 2030”, promovendo o debate sobre a relação entre tecnologia e sustentabilidade.
Para Pedro Norton de Matos não devemos olhar para a tecnologia como um fim mas antes como um meio de alcançar um “desenvolvimento mais sustentável”. Já os O.D.S. constituem 17 objetivos da UNESCO, que se decompõem em metas que são monitorizadas, permitindo aferir o seu progresso.
No Greenfest, o visitante poderá encontrar uma panóplia de atividades que o despertam para a sustentabilidade: “Procuramos transmitir a mensagem não só através de conferências e workshops mas também através da música, teatro, stand-up comedy e, cada vez mais, de ateliers de artes e ofícios.”
No panorama nacional, algumas das empresas inovadoras a marcar presença este ano são a Zuri Shoes (sandálias feitas a partir de lixo marinho), a Be Coffee (bijuteria feita a partir das borras de café) e a Espaços (mobiliário feito de casca de arroz, sal e óleo vegetal).
Não é por acaso que um dos assuntos mais badalados do Greenfest é o rethinking design, porque “tudo o que nos rodeia é passível de ser repensado em termos de desenho” tendo em conta critérios de sustentabilidade, como por exemplo o ciclo de vida útil dos materiais utilizados, garante o organizador. “Há todo um redesenho da sociedade, da forma como estamos organizados, como vivemos e dos objetos que nos rodeiam.”
Os países convidados são a Suécia e a Noruega, que vêm partilhar algumas das suas melhores práticas, sendo os países nórdicos bons exemplos de “civismo ambiental”. Pela primeira vez, acontece ainda a “G Trends”, uma conferência de 60 minutos, na qual diversos especialistas vão resumir algumas tendências que estão a “modular o nosso futuro” e a sua sustentabilidade.
As árvores não crescem até ao céu
O responsável pelo evento alerta para o facto de estarmos a “consumir mais recursos do que aqueles que são regenerados” contribuindo, assim, para que se esgotem. O ideal é que caminhemos em direção ao “desperdício zero”, que na opinião de Pedro Norton de Matos não é nenhuma utopia.
Para o diretor do Greenfest, “somos uma sociedade de desperdício. Desperdiçamos água, alimentos, energia e pessoas”. A boa notícia é que “o facto de desperdiçarmos menos e irmos no caminho para o desperdício zero, leva-nos a acreditar que há muitas formas de crescer”.
Ilhas de plástico e refugiados do clima
Pedro Norton de Matos considera importante refletir sobre o impacto ambiental do plástico, tema “quente” da atualidade. Para si, a expressão “deitar o lixo fora” está errada: “Não há lado de fora no planeta. Nós deitamos o lixo dentro dele”, assim como o plástico.
“Todo o plástico que foi fabricado está cá e ficará por muito tempo”, como as famosas ilhas de plástico nos oceanos e nos locais mais “intocáveis” do planeta. O responsável considera que o mais alarmante é que “cada ano se produz mais plástico”, com os cientistas já a investigar o impacto do microplástico, presente na água e nos alimentos, no nosso sistema imunitário.
Outro grande desafio é o surgimento dos “refugiados climáticos” que são “pessoas que fogem de um clima à procura de outro e que vão à procura de melhores condições de vida”, por exemplo de água potável. O diretor do Greenfest acredita que esta situação poderá gerar conflitos, uma vez que os refugiados do clima irão procurar instalar-se em áreas já ocupadas ou que são alvo de disputa.
O organizador alerta que devemos perceber que “fazemos parte de um ecossistema”, mas mantém-se esperançoso: “Felizmente, vemos cada vez mais pessoas sensibilizadas para a causa e a passar à ação.”